quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Intervalo

Olá pessoal que acompanha o blog,



   Depois de quase um ano de existência com quase seis mil visualizações (algo que, sinceramente, eu não esperava) e agora contando com 30 postagens, o blog 'Na Luz do Dhamma' suspenderá suas atividades por um curto período de tempo para que eu possa reler os textos que já traduzi e checar novamente por possíveis erros gramaticais, comparar mais uma vez com os textos originais em inglês e ver em quais passagens de difícil tradução eu possa usar expressões melhores para facilitar a leitura dos textos. Portanto, estimo que durante as próximas duas semanas não estarei postando nada por aqui. E tenham certeza de que estou muito entusiasmado com a perspectiva de compartilhar com vocês leitores novos textos que estou escolhendo para 2014. Agradeço o tempo e atenção de todos que acompanham este blog.

Feliz festividades de fim de ano para todos,

Davi

domingo, 15 de dezembro de 2013

Vimāna-vatthu 9: Padīpa-vimāna



Vimāna-vatthu 9: Padīpa-vimāna

Mansão da Lâmpada
 
 Tradução
 

Davi Coêlho


Enquanto o Abençoado estava residindo em Sāvatthi, em um dia de Observação (i.e, Uposathā) muitos seguidores leigos, tanto homens quanto mulheres, em observação do dia praticaram generosidade ao dar esmolas antes do meio dia, cada um de acordo com seus meios, tiveram suas refeições na hora certa e, vestidos em vestimentas limpas com mantos limpos e perfumes e flores em suas mãos, foram à tarde para o mosteiro, ajudaram os monges que inspiram a mente, e no início da noite ouviram o Dhamma. Enquanto eles ainda estavam ouvindo e queriam passar a noite lá, o ambiente tornou-se escuro. Então certa mulher pensou, “Eles precisam acender uma lâmpada aqui,” e tendo ela uma lâmpada e coisas com a qual acendê-la que foram trazidas de sua casa, acendeu esta, colocou-a próximo do assento do Dhamma, e escutou ao discurso. Satisfeita com seu presente da lâmpada ela ficou cheia de alegria e felicidade e após ter feito reverências, voltou para sua casa. Algum tempo depois ela faleceu e renasceu no domínio dos Trinta e Três, em uma mansão de joias brilhantes. Mas como a luminescência do seu corpo era muito grande, ela brilhava mais do que os outros devas e emanava esplendor sobre as dez direções. Agora, certo dia quando o Ven. Mahā-Moggallāna estava fazendo uma viagem pelos mundos celestiais, este chegou ao domínio dos Trinta e Três, e tendo visto esta devatā, dirigiu-se a ela: 

     1. “Você que tem beleza inigualável, devatā, está fazendo todas as direções radiantes como a estrela da manhã.
     2. Por qual motivo sua beleza é tal? Por qual motivo aqui você prospera, e para ti surgem quaisquer coisas que são agradáveis a seu coração?
    3. Por qual motivo tu és uma devatā de esplendor imaculado, ultrapassando em brilho todos os outros? Por qual motivo todas as direções são iluminadas por todos os teus membros [do seu corpo]?
     4. Eu pergunto a ti, devī de grande majestade, qual mérito você realizou quando era um ser humano? Por qual motivo teu esplendor majestoso é assim e sua beleza ilumina todas as direções?”
     5. A devatā, contente por ter sido questionada por Moggallāna, quando feita a pergunta explicou sobre qual ação este era o fruto.
     6. “Quando eu, em um nascimento passado era nascida entre os seres humanos no mundo dos homens, quando houve densa escuridão em uma noite negra, eu dei uma lâmpada na hora apropriada.   
7.  Aquele que, quando há densa escuridão, doa uma lâmpada na hora apropriada para ser doada, renasce em uma Mansão de joias brilhantes, abundante em flores, com muitos lótus brancos.
     8.  Por causa disto minha beleza é tal, por causa disto aqui eu prospero e surgem quaisquer coisas que são prazerosas ao meu coração.
     9.  Por causa disto eu sou uma devatā de esplendor imaculado, ultrapassando todos os outros. Por causa disto todas as direções são iluminadas pelos meus membros. 
    10. Torno conhecido a ti, monge de grande majestade, que mérito eu realizei quando era um ser humano. Por este motivo minha brilhante majestade é tal e minha beleza ilumina todas as direções.”

domingo, 8 de dezembro de 2013

Itivuttaka 75



Isso foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Estes três tipos de pessoas podem ser encontradas existindo no mundo. Quais três? Uma é como uma nuvem sem chuva, outra é como uma que chove localmente, e outra é como uma que chove em todos os lugares. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem sem chuva? Há o caso onde uma pessoa não é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias ou de lâmpadas para nenhum brâmane ou contemplativo, para nenhum miserável, sem-teto ou mendigo. É assim como uma pessoa é como uma nuvem sem chuva. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem que chove localmente? Há o caso em que uma pessoa é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias e lâmpadas para alguns brâmanes e contemplativos, para alguns dos miseráveis, sem tetos e mendigos, mas não para outros. É assim que uma pessoa é como uma nuvem que chove localmente. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem que chove em todos os lugares? Há caso onde uma pessoa é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias e lâmpadas para todos os brâmanes e contemplativos, para todos os miseráveis, sem tetos e mendigos. É assim que uma pessoa é como uma nuvem que chove em todos os lugares.  

“Estes são os três tipos de pessoas que podem ser encontradas existindo no mundo.” 

Não para contemplativos,
para brâmanes,
para os miseráveis,
nem para os sem tetos
ele divide aquilo que ganhou:
       comida,
       bebida,
       nutrimento.
Ele, o mais baixo de todas as pessoas,
           é chamado de nuvem sem chuva.

Para alguns ele doa,
para outros não:
         os inteligentes o chamam
         de alguém que chove localmente.

Uma pessoa responsiva a pedidos,
complacente para com todos os seres,
deleitando-se em distribuir esmolas:
        “Dê a eles!
         Dê!”
         ele diz.
Como uma nuvem – retumbante, trovejante – chove,
enchendo com água, encharcando os platôs e ravinas:
                       uma pessoa desse tipo
                        é assim.
Tendo acumulado
riquezas obtidas atravé de sua iniciativa,
ele satisfaz inteiramente com comida e bebida
aqueles que caíram no estado de sem-teto. 

Texto traduzido do seguinte endereço: 
 http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/kn/iti/iti.3.050-099.than.html#iti-075

sábado, 30 de novembro de 2013

A História de Khemā



A História de Khemā

Tradução 

Davi Coêlho



Khemā era a rainha principal de Bimbisāra, o rei de Māgadha. Quando o Buda veio à cidade de Rājagaha, acompanhado de mil Arahants que antes eram acetas adoradores do fogo da floresta de Uruvela e que haviam sido convertidos para o Dhamma, ele foi dado as boas vindas pelo rei com um grupo de 12, 000 pessoas. O Buda então deu uma palestra apropriada e, após ouvi-la, o rei e a maioria de seus seguidores alcançaram o fruto de Entrada na Correnteza. No próximo dia, o rei ofereceu comida ao Buda e ao Sangha, e doou o Bosque do Bamboo (Veluvana) para a residência deles. O Buda passou seu segundo, terceiro, quarto, décimo sétimo e vigésimo Retiro do Período de Chuva lá. Em outras ocasiões, também, ele ficou lá durante o curso de suas viagens. Enquanto o Buda estava lá, o rei se certificava de toda oportunidade para vê-lo e ouvir seus discursos. 

Contudo, sua rainha principal, Khemā, não se preocupava em ver o Buda. Ela era muito bela e passava a maior parte do seu tempo cuidando de sua beleza. Ela ouviu dizer que o Buda muitas vezes falava com desdém da beleza física, que de fato ela tinha medo e estava relutante em ver o Mestre. Porém, tendo saboreado o Dhamma, o rei queria compartilhá-lo com ela. O rei era cinco anos mais jovem do que o Buda, portanto a rainha provavelmente ainda estava no início de seus trinta e poucos anos, e devido a sua vaidade narcisista ela não tinha desejo algum em ouvir o Dhamma. Então o rei arquitetou um plano para trazer a rainha ao encontro do Buda. 

Ele fez com que canções fossem compostas por poetas e cantadas por menestréis, canções que faziam um brilhante tributo ao esplendor do Bosque do Bamboo. Os poetas fizeram o seu melhor para tecer uma ótima imagem literária do jardim. Suas canções exaltavam as atrações do local, retratando sua semelhança ao Nandavana do mundo celestial, a visita das deidades ao jardim, as suas maravilhas e paixões, a residência do Buda que acrescentava ao esplendor do bosque e assim por diante. Estas canções estavam em estrofes em Pali e elas bem poderiam ter comovido os ouvintes se recitadas por um cantor dotado de voz prazerosa. 

Estas canções também eram cantadas pelas damas da corte. Ao ouvi-las, a rainha ficou ansiosa para visitar o jardim. De fato, não havia dúvidas sobre o esplendor do bosque. Anteriormente, era prazeroso apenas desfrutar da visão de suas flores e árvores. Agora, era agraciado pela glória do Buda, com seu ensinamento do Dhamma, com muitos meditadores e monges absortos em jhāna. Não é de se surpreender que as divindades adoravam visitar o local e nunca se cansavam de ver o Buda e ouvir seus discursos. 

A rainha Khemā então pediu ao rei permissão para visitar o bosque. O rei alegremente deu seu consentimento, mas estipulou que ela deveria ver o Buda. Para evitar tal encontro, a rainha foi lá enquanto o Buda estava fora durante sua costumeira jornada para pedir comida. Ela ficou totalmente encantada pela beleza do jardim. Passeando pelo local, ela viu um jovem monge em profunda meditação sentado abaixo de uma árvore. Ela perguntava-se porque um homem tão jovem havia se dedicado a uma vida santa que era, ela pensava, apenas para pessoas idosas que haviam se entregado aos prazeres dos sentidos quando eram jovens. 

Quando ela estava prestes a retornar ao palácio, os menestréis que haviam acompanhado-a, lembraram-na da instrução do rei e sob a pressão destes ela teve que proceder à Gandhakuti, a residência do Buda. Ela esperava que ele ainda não estivesse voltado de usa jornada por esmolas na cidade, mas a confrontação que ela tanto temia foi inevitável. 

Conforme ela entrou o salão principal, ela viu uma garota extremamente bela abanando e fazendo reverências ao Buda. A garota era apenas um simulacro, uma ilusão, criada por ele. A rainha estava imensamente surpresa porque ela pensava que a garota era verdadeira. Ela nunca havia visto uma beleza como aquela antes, uma garota tão bela que sua própria beleza esvanecia a insignificância. O que ela viu removeu sua má interpretação de que o Buda desaprovava mulheres belas. Também serviu para murchar seu orgulho e vaidade. 

Conforme a rainha Khemā admirava a garota, exercendo seu poder sobrenatural, o Buda fez aos poucos a garota envelhecer bem diante dos olhos da rainha. A garota envelheceu gradativamente até que ela se tornou uma mulher velha de noventa anos, com seu cabelo tornando-se cinza, seus dentes quebrados, sua pele enrugada e seus ossos sobressaindo. Ao ver isso a rainha ficou profundamente chocada. Ela se tornou consciente da impureza e repugnância do corpo humano e a vaidade que fazia com que as pessoas se apegassem a seus corpos.

Então o Buda falou com a rainha. Ele disse à ela para refletir sobre seu próprio corpo. O corpo é o objeto para o apego das pessoas ignorantes, apesar dele cheirar mal, de suas impurezas, repugnâncias, e suscetibilidade a doenças dolorosas. “Khemā! Você deve fixar sua mente na repugnância do corpo. Canse-se dele. O corpo daquela mulher era como o seu antes de sua desintegração. Contudo, agora é repulsivo, e seu corpo também seguirá o mesmo rumo com o tempo. Você deve contemplar a impermanência de todas as coisas.”

A impermanência de todas as coisas geralmente escapa a atenção daqueles que não estão atentos à mente e matéria no momento em que estes surgem. Vivendo sem reflexão e sabedoria, eles (as pessoas comuns) acreditam que o corpo físico de uma pessoa é o mesmo que era quando criança. Para eles, a mente é tida como uma entidade permanente, e para algumas pessoas o corpo e a mente são aspectos de uma mesma entidade permanente. Assim, é uma tendência humana interpretar de forma incorreta a característica da permanência. Esta ilusão é compartilhada até mesmo por aqueles que podem descrever corpo, mente e seus elementos de forma analítica, mas que não refletiram sobre isso corretamente. Contudo, meditadores que praticaram a atenção plena constante não tem visão alguma sobre mãos, pés, cabeça, etc. quando eles desenvolvem concentração. Para eles, eles veem apenas a dissolução momentânea de tudo tanto subjetivamente quanto objetivamente. Eles claramente compreendem por si a impermanência do mundo fenomenal.

O Buda pediu então para a rainha contemplar esta natureza das coisas que estão destituídas de qualquer característica de permanência, pois foi devido a sua ignorância disto que estava na raiz de sua vaidade descomunal.  

“Khemā! Atraves deste insight sobre a impernência, você deve superar a raiz do orgulho; através da superação do orgulho, você viverá em paz.”

“Assim como uma aranha vaga sem cessar por sua própria teia, assim também através dos apegos de criação própria, as pessoas vagam sem cessar de uma existência para outra e não conseguem se libertar da roda da vida. Aqueles que renunciam aos prazeres dos sentidos e praticam o Dhamma podem superar o apego e se libertarem de saṃsāra.”

Os comentários dizem que após ouvir este discurso pelo Buda, Khemā atingiu o estado de santidade (arahant).

Com o consentimento do rei, ela se juntou ao Sangha e foi conhecida como Khemā Therī. Ela era inigualável entre as monjas no que diz respeito a sua inteligência e sabedoria, e foi honrada pelo Buda como a monja de maior sabedoria.

Nota:

*A história acima foi retirada de um livro do Venerável Mahasi Sayadaw, intitulado A Discourse on the Sallekha Sutta, contudo, esta mesma história pertence comentário para o verso 347 do Dhammapada.