Metta
A
Filosofia e Prática do Amor Universal
Acharya
Buddharakkhita
Davi
Coêlho
Introdução
A palavra Pali metta é um termo de muitos significados
como bondade-amorosa, afabilidade, boa-vontade, benevolência, amizade,
irmandade, concórdia, não ofensividade e não violência. Os comentadores em Pali definem metta
como um forte desejo pelo bem-estar e felicidade dos outros (parahita-parasukha-kamana).
Essencialmente, metta é uma atitude altruísta de amor e afabilidade distinto da
mera amabilidade baseada no interesse próprio. Através de metta, um indivíduo
recusa-se a ser ofensivo e renuncia a amargura, ressentimento e inimizade de
todo tipo, desenvolvendo ao invés disso uma mente amigável, benevolente e
amável que procura assim o bem-estar e felicidade dos outros. O verdadeiro
sentimento de metta é destituído de interesse próprio. Ao invés disso, evoca
uma sensação interna que aquece o coração com sentimentos de irmandade,
simpatia e amor, que cresce ilimitadamente com a prática e supera todas as barreiras
sociais, econômicas, religiosas, raciais e políticas. Metta é realmente um amor
universal, desinteressado e amplamente abrangente.
Metta faz de um
indivíduo uma fonte de bem-estar e segurança para outros seres. Assim como uma
mãe dá sua própria vida para proteger sua criança, da mesma forma metta apenas
dá e nunca deseja nada em retorno. Quando este impulso é transformado em desejo
de promover o interesse e felicidade de outros, não apenas o impulso básico de
satisfazer os interesses próprios é superado, mas a mente se torna universal
por identificar seu próprio interesse com aquele de todos. Por fazer esta
mudança, o bem-estar próprio também é promovido na melhor maneira possível.
Metta é a atitude
protetora e imensamente paciente de uma mãe que suporta todas as dificuldades
para o bem de seu filho e sempre o protege apesar de seu mau comportamento.
Metta é também a atitude de um amigo que quer dar o melhor ao outro para
promover o bem-estar deste e seu próprio. Se estas qualidades de metta forem
suficientemente cultivadas através de metta-bhavana
– a meditação sobre o amor universal – o resultado é a aquisição de um poder
tremendo que preserva, protege e cura tanto do próprio indivíduo como os
outros.
Aparte de suas
implicações mais nobres, metta é uma necessidade pragmática nos dias de hoje.
Em um mundo ameaçado por todo tipo de destrutividade, metta em ação, palavra e
pensamento é o único meio construtivo para trazer concórdia, paz e compreensão
mútua. De fato, metta é o meio supremo, pois forma o princípio fundamental de
todas as nobres religiões assim como a base para todas as atividades
benevolentes dirigidas para o bem-estar humano.
O presente artigo
pretende explorar várias facetas de metta ambos em teoria e em prática. O exame
do lado doutrinário e ético de metta procederá através do estudo do popular Karaniya Metta Sutta, “O Hino ao Amor
Universal” do Buda. Em conexão com este tema também veremos outros textos
menores lidando com metta. A explicação de metta-bhavana,
a meditação sobre o amor universal, dará instruções práticas para desenvolver
este tipo de contemplação conforme explicado em textos de meditação da tradição
budista Theravada, como o Visuddhimagga,
o Vimuttimagga e o Patisambhidamagga.
O Karaniya Metta Sutta:
Hino ao Amor Universal
Karaṇīyamatthakusalena yaṃ taṃ santaṃ padaṃ
abhisamecca,
Sakko ujū ca sūjū ca suvacocassa mudu anatimānī.
Sakko ujū ca sūjū ca suvacocassa mudu anatimānī.
o Estado de Paz, age assim:
capaz, correto, honrado,
com a linguagem nobre, gentil e sem arrogância,
Santussako ca subharo ca appakicco ca
sallahukavuttī,
Santindriyo ca nipako ca appagabbho kulesu ananugiddho.
Santindriyo ca nipako ca appagabbho kulesu ananugiddho.
Satisfeito e fácil de
sustentar,
sem ser exigente por natureza, frugal no seu modo de vida,
seus sentidos acalmados, sábio,
moderado, sem cobiçar ganhos.
Na ca khuddaṃ samācare kiñci yena viññū pare upavadeyyuṃ
Sukhino vā khemino hontu sabbe sattā bhavantu sukhitattā
sem ser exigente por natureza, frugal no seu modo de vida,
seus sentidos acalmados, sábio,
moderado, sem cobiçar ganhos.
Na ca khuddaṃ samācare kiñci yena viññū pare upavadeyyuṃ
Sukhino vā khemino hontu sabbe sattā bhavantu sukhitattā
Que este não faça
nada, mesmo que trivial,
que seja condenado pelos sábios.
(então, que este cultive o pensamento): felizes, seguros,
que todos os seres tenham os corações pleno de bem-aventurança!
que seja condenado pelos sábios.
(então, que este cultive o pensamento): felizes, seguros,
que todos os seres tenham os corações pleno de bem-aventurança!
Ye keci pāṇa bhūtatthi tasā vā thāvarā vā
anavasesā
Dīghā vā ye mahantā vā majjhamā rassakāṇukathūlā
Dīghā vā ye mahantā vā majjhamā rassakāṇukathūlā
Que todos os seres
vivos que existem,
fracos ou fortes, sem exceção,
compridos, grandes,
médios, curtos,
sutis, grosseiros,
fracos ou fortes, sem exceção,
compridos, grandes,
médios, curtos,
sutis, grosseiros,
Diṭṭhā vā
yeva addiṭṭhā ye ca dūre vasanti avidūre
Bhūtā vā sambhavesī vā sabbe sattā bhavantu sukhitattā
Bhūtā vā sambhavesī vā sabbe sattā bhavantu sukhitattā
Visíveis ou
invisíveis,
próximos e distantes,
nascidos e por nascer:
que todos os seres possam ser felizes!
próximos e distantes,
nascidos e por nascer:
que todos os seres possam ser felizes!
Na paro paraṃ nikubbetha nātimaññetha
katthaci naṃ kañci
Byārosanā paṭighasaññā nāññamaññassa dukkhamiccheyya
Byārosanā paṭighasaññā nāññamaññassa dukkhamiccheyya
Que ninguém engane
ou despreze outrem, em lugar nenhum,
ou devido à raiva ou má vontade
deseje que alguém sofra.
ou despreze outrem, em lugar nenhum,
ou devido à raiva ou má vontade
deseje que alguém sofra.
Mātā yathā niyaṃ puttaṃ āyusā
ekaputtamanurakkhe
Evampi sabbabhūtesū mānasaṃ bhāvaye aparimānaṃ
Evampi sabbabhūtesū mānasaṃ bhāvaye aparimānaṃ
Tal qual uma mãe,
colocando em risco a própria vida,
ama e protege a sua criança, o seu único filho,
da mesma forma, abarcando todos os seres,
cultive um coração sem limites.
Mettaṃ ca sabbalokasmiṃ mānasaṃ bhāvaye aparimānaṃ
Uddhaṃ adho ca tiriyañca asambādhaṃ averaṃ asapattaṃ
ama e protege a sua criança, o seu único filho,
da mesma forma, abarcando todos os seres,
cultive um coração sem limites.
Mettaṃ ca sabbalokasmiṃ mānasaṃ bhāvaye aparimānaṃ
Uddhaṃ adho ca tiriyañca asambādhaṃ averaṃ asapattaṃ
Com amor-bondade para
todo o universo,
cultive um coração sem limites:
em toda sua altura, largura e profundidade,
amor desobstruído, livre da raiva e da má vontade.
cultive um coração sem limites:
em toda sua altura, largura e profundidade,
amor desobstruído, livre da raiva e da má vontade.
Tiṭṭhaṃ caraṃ nisinno vā sayāno vā yāvatassa
vigatamiddho
Etaṃ satiṃ adhiṭṭheyya brahmametaṃ vihāraṃ idhamāhu
Etaṃ satiṃ adhiṭṭheyya brahmametaṃ vihāraṃ idhamāhu
Quer seja parado em
pé, andando,
sentado, ou deitado,
sempre que estiver desperto,
cultive com todo seu poder essa atenção plena:
pois isto se chama a Morada Divina
no aqui e agora.
sentado, ou deitado,
sempre que estiver desperto,
cultive com todo seu poder essa atenção plena:
pois isto se chama a Morada Divina
no aqui e agora.
Diṭṭhiñca anupagamma sīlavā dassanena
sampanno
Kāmesu vineyya gedhaṃ nahi jātu gabbhaseyyaṃ punaretīti.
Kāmesu vineyya gedhaṃ nahi jātu gabbhaseyyaṃ punaretīti.
E sem estar
aprisionado por falsas crenças,
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
em um ventre este não mais renascerá.
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
em um ventre este não mais renascerá.
A História Por Trás
do Karaniya Metta Sutta
O background histórico que
levou o Buda a expor o Karaniya Metta
Sutta é explicado no comentário escrito por Acariya Buddhaghosa, que o
recebeu de uma linhagem ininterrupta de Anciões voltando até os dias do próprio
Buda.
Foi dito que quinhentos monges receberam instruções do Buda em
técnicas particulares de meditação apropriada para o temperamento individual de
cada um. Eles foram então aos sopés do Himalaia, para passarem quatro meses do
retiro do período de chuva vivendo uma vida recolhida e de intensa meditação.
Nestes dias, um mês ou dois antes do retiro do período de chuva começar, monges
de todas as partes do país se encontrariam onde o Buda estava residindo para
poder receber instruções diretas do Mestre Supremo. Eles então voltariam para
seus mosteiros, ou habitações na floresta ou eremitérios para fazerem vigorosas
tentativas à libertação espiritual. Foi assim que estes quinhentos monges foram
até o Buda, que estava em Savatthi no Bosque de Jeta no mosteiro construído por
Anathapindika.
Após receberem instruções eles foram atrás de um lugar apropriado, e
durante o curso de sua viagem, eles logo encontraram um belíssimo outeiro nos
sopés do Himalaia. De acordo com o comentário este lugar “parecia com um
reluzente cristal de quartzo azul: era embelezado com uma fresca, densa e verde
floresta e um trecho coberto de areia, semelhante a uma rede de pérolas ou uma
folha de prata, e era adornado por uma nascente de água fria”. Os bhikkhus
ficaram cativados pela visão. Havia algumas vilas por perto, e também uma
pequena cidade comercial, que era ideal como local para se pedir esmolas. Os
monges passaram a noite naquele bosque idílico e na manhã seguinte foram até a
cidade comercial para pedir esmolas.
Os residentes estavam radiantes ao verem os monges, pois raramente eles
viam uma comunidade de monásticos virem passar o retiro do período da chuva
naquelas partes do Himalaia. Estes piedosos devotos alimentaram os monges e
pediram que estes permanecessem lá como convidados, prometendo construir para
cada um deles uma cabana próximo ao bosque sobre o trecho arenoso para que
pudessem passar seus dias e noites absortos em meditação sobre os antigos ramos
daquelas árvores majestosas. Os bhikkhus concordaram e os devotos da área logo
começaram a construção das cabanas na margem da floresta e proveram cada cabana
com uma cama estreita, um banco e potes de água para banho e consumo.
Após os monges terem se acomodado contentemente nestas cabanas, cada
um selecionou uma árvore para meditar debaixo desta, por dia e noite. Agora,
era dito que estas grandes árvores eram habitadas por certas divindades que
tinham uma mansão celestial construída na copa das árvores. Estas deidades, por
reverência aos monges contemplativos, saíram de suas casas com suas famílias.
Virtude era reverenciada por todos, particularmente pelas divindades, e quando
monges sentavam sobre as árvores, as divindades, que eram chefes de família,
não gostavam de permanecer em suas residências. As deidades pensaram que os
monges permaneceriam apenas por uma noite ou duas, e, portanto, passaram pela
inconveniência com boa vontade. Mas quando dia após dia havia passado e os
monges ainda se mantinham ocupando a base das árvores, as deidades começaram a
pensar quando eles iriam embora. Eles se sentiram como moradores de vilas cujas
casas foram ocupadas por oficiais da nobreza e permaneceram observando os
monges ansiosamente à distância, imaginando quando eles teriam suas casas de
volta.
Aos poucos eles chegaram a Savatthi, e foram até o Abençoado,
prostraram-se aos seus pés e relataram suas experiências aterrorizantes,
pateticamente pedindo por outro lugar. O Buda, através de seus poderes
supranormais, sondou a Índia inteira, mas não encontrando lugar melhor a não
ser aquele mesmo ponto onde eles poderiam conseguir a libertação espiritual,
disse: “Monges, voltem para o mesmo local! É apenas com o esforço que vocês
conseguirão efetuar a destruição das máculas internas. Não temam! Se querem
estar livres de perturbações causadas por deidades, aprendam este sutta. Será
um tema para meditação assim como uma fórmula para proteção (paritta).
Então o Mestre recitou o Karaniya
Metta Sutta – o Hino do Amor Universal – do qual os monges aprenderam por
memória na presença do Mestre. Então eles voltaram para o mesmo local.
Conforme os monges aproximavam-se da floresta recitando o Metta Sutta, pensando e meditando sobre
o seu significado, os corações das deidades ficaram tão saturados de
sentimentos de boa vontade e compaixão que elas mesmas se materializaram em
forma humana e receberam os monges com grande devoção. Elas pegaram a tigela
destes, os conduziram para seus quartos, e materializaram comida e água para
serem fornecidos, e então, voltando à sua forma divina, pediram para que eles
ocupassem a base das árvores e meditassem sem hesitação ou medo.
Ademais, durante os três meses do retiro, as divindades não apenas
tomaram conta dos monges em todo o sentido como também asseguraram que o local
estivesse livre de qualquer barulho. Desfrutando do silêncio perfeito, ao final
do período de chuva, todos os monges tinham atingido o pináculo da perfeição
espiritual. Cada um dos quinhentos monges haviam tornado-se arahants.
De fato, tal é o poder intrínseco no Metta Sutta. Quem quer que seja que recite com fé firme, invocando
a proteção das devas e meditando em metta, não apenas protegerá a si mesmo em
todos os sentidos, mas também protegerá todos aqueles ao seu redor, e fará
grande progresso espiritual que poderá ser verificado. Nenhum mal pode cair
sobre a pessoa que trilha o caminho de metta.
Três
Aspectos de Metta
O Metta Sutta consiste em três partes, cada uma da qual foca em um
aspecto distinto de metta. A primeira parte (linhas 3 a 10) cobre os aspectos
que requerem uma aplicação minuciosa e sistemática da bondade-amorosa na
conduta diária. A segunda parte (linhas 11 a 20) descreve a bondade-amorosa
como uma técnica distinta de meditação ou cultivo da mente conduzindo à samadhi – estado de consciência superior
induzido pela absorção. E a terceira parte (linhas 21 a 40) fala sobre o
compromisso total com a filosofia do amor universal e suas extensões pessoais,
sociais e empíricas – bondade-amorosa através de atividades corporais, verbais
e mentais.
Metta é identificado
como aquele fator específico que ‘amadurece’ o mérito acumulado (puñña) adquirido através dos dez meios
para a aquisição de mérito (dasapunna-kiriyavatthu), tal como a prática da generosidade,
virtude, etc. Similarmente, é metta que trás à maturidade as dez qualidades
espirituais exaltadas, conhecidas como “perfeições” (paramita).
A prática de metta pode assim ser comparada a
trazer à existência uma grande árvore desde o tempo em que a semente é plantada
até a hora em que a árvore está carregada com frutas suculentas e exala sua
doce fragrância para todos os cantos, atraindo miríades de criaturas para
desfrutar de sua saborosa abundância. O brotar da semente e o crescimento
desta, são, como se fosse, causados pela primeira parte deste sutta. Na segunda
parte a árvore, já robusta e desenvolvida, é inteiramente cobeta com flores
belas e fragrantes, chamando a atenção de todos os olhares.
Como o padrão de comportamento, o primeiro aspecto
de metta faz a vida de alguém crescer como uma árvore, generosa e nobre. Metta,
como objeto de meditação, efetua aquela eflorescência espiritual por onde a
vida de um se torna a fonte de alegria para todos. A terceira parte prevê nesta
imagem a fruição deste processo de desenvolvimento espiritual por onde o ser
faz fruir uma aplicação abrangente do amor espiritual que pode condicionar
poderosamente a sociedade como um todo e até mesmo conduzir à realização mais
transcendental de todas, Nibbana.
A mente humana é como uma mina contendo uma reserva
inexaurível de poder espiritual e insight. Este imenso potencial de mérito pode
ser inteiramente explorado apenas pela prática de metta, conforme está claro na
descrição de metta como sendo aquela “força que amadurece” e resulta em méritos
dormentes. No Mangala Sutta é dito que apenas depois que um ser efetuou
um relacionamento elevador interpessoal (ao escolher boas companhias, etc.) é
que este ser poderá escolher o ambiente apropriado para os méritos do passado
encontrarem oportunidade de se manifestarem. Este encontrar da fruição do
mérito é exatamente o que metta faz. Apenas evitar más companhias e viver em um
ambiente culto não é o suficiente; a mente precisa ser cultivada através de
metta. Portanto a alusão à fruição de mérito passado.
A
Ética de Metta
Ética, em um contexto
Budista, é conduta correta, que trás felicidade e paz de mente, e nunca dá
origem ao remorso, preocupação ou ansiedade mental. Este é o benefício
psicológico imediato. Conduta correta também conduz a um renascimento feliz,
capacitando o aspirante a progredir ainda mais no caminho para a libertação
espiritual. É também a base para o progresso no Dhamma no aqui e no agora. Em
outras palavras, linguagem correta, ação correta, e meio de vida correto do
Nobre Caminho Óctuplo mostrado pelo Buda constituem a conduta correta no melhor
dos sentidos.
A ética budista é
dupla: o cumprimento de certos valores (caritta),
e os preceitos da abstinência (varitta).
Caritta, conforme descrito no Metta Sutta, é como se segue:
[Ele]
Deve ser capaz, honesto e justo,
Gentil
em sua linguagem, humilde e não orgulhoso.
Satisfeito,
ele deve ser fácil de sustentar,
Não
sobrecarregado com tarefas, simples no seu viver.
Seus
sentidos tranquilos, que ele seja prudente,
Moderado,
sem cobiçar ganhos.
Varitta
é descrita na seguinte gatha:
E
que este nunca faça nada
Que
homens sábios possam reprovar.
Caritta
e varitta são assim praticadas através de metta expresso em ações corporais e
verbais; a felicidade interna resultante e o instar altruísta são refletido
pela ação mental de metta do aspirante, conforme visto na conclusão da estrofe:
(então, que este cultive o pensamento):
felizes, seguros,
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança!
que todos os seres tenham os corações plenos de bem-aventurança!
A ética de metta provê assim não apenas um
bem-estar subjetivo, ou a oportunidade de progredir no Dhamma no aqui e no
agora e de desfrutarmos de um renascimento feliz no futuro, mas também
significa o ato de doar destemor e segurança – abhayadana e khemadana.
Uma analise do padrão de comportamento e traços
exaltados pelo Metta Sutta para relações significantes, ambos com referência às
pessoas individualmente e com a sociedade como todo, provê uma ampla visão nas
grandes implicações deste sutta para a saúde mental.
Ser
capaz não é apenas mera eficiência ou habilidade, mas significa fazer algo bem,
por consideração aos outros, para que não causemos inconveniência a estes. Como
um homem capaz pode ser muito presunçoso, o praticante é advertido a ser
‘honesto e justo’, enquanto sendo ao mesmo tempo ‘gentil em sua linguagem,
humilde e não orgulhoso’ – de fato uma síntese perfeita e um equilíbrio de
traços.
Aquele
que está intimamente satisfeito é por
consequência, ‘fácil de sustentar’. Frugalidade, vinda da consideração pelos
outros, é um traço nobre. A extensão em que a necessidade de alguém é racionada
como um exemplo para outros e como um meio de não incomodá-los, a esta extensão
um indivíduo demonstra refinamento. Quanto mais grosseira e materialista uma
pessoa se torna, mais suas necessidades aumentam. A régua métrica para medir a
saúde mental de uma dada sociedade é assim, a diminuição das necessidades; isto
quer dizer, o elemento da satisfação interna.
Uma
vida materialista e egocêntrica é caracterizada não apenas por um aumento em
necessidades, mas também por ansiedade,
mostrando seu rosto ao ser sobrecarregada e hiperativa e carecendo em moderação
e auto restrição. Metta, que promove o bem estar de todos, deve ser
naturalmente construída sobre as qualidades do sóbrio humanismo tais como
refletidas em apenas algumas atividades seletas e importantes que conduzem ao
bem estar de todos envolvidos.
Viver
uma vida simples como expressão de
metta envolve uma reorientação de nosso modo de ver as coisas e de nossa
conduta, até mesmo em nosso competitivo e possessivo mundo, sequioso pelo busca
do prazer. Um homem de vida simples é gentil, porém eficiente e eficaz, e tem
restrição sobre suas faculdades sensoriais, sendo moderado, frugal e
controlado. Cultivo mental através da meditação para tal pessoa torna-se
natural e fácil: portanto o atributo “tranquilo em seus sentidos”.
Metta
na conduta inclui o exercício da prudência,
quer dizer, sabedoria prática. É apenas uma pessoa sábia e sagaz que consegue
praticar metta em todas suas formas variadas na vida diária, e através de todos
os modos de relacionamento humano. A presunção, surgida de um senso de ser
melhor do que os outros ou mais devoto pode ser (assim como muitas vezes é) uma
máscara da pratica espiritual. Portanto “moderado, sem cobiçar ganhos” é assim
um indicador para a pessoa que pratica metta a não ser indulgente em qualquer
forma de presunção.
Ainda
mais, o praticante de metta é advertido a se restringir de qualquer ação, mesmo de convenções sociais, da qual homens sábios o possam reprovar como
carente em prudência ou justeza. Não é bom o suficiente que sejamos bom, mas
devemos ser vistos como bom, em consideração não apenas a nosso bem estar, mas
também aquele dos outros. Uma vida exemplar é para ser vivida para o benefício
de todos, para o bem estar da sociedade.
Uma
pessoa vivendo assim mergulha diretamente no cultivo de uma mente abrangente de
metta para com todos através das técnicas definidas de meditação conforme
previstas no restante deste sutta.
Metta
é também chamada de paritta – uma
formula espiritual capaz de proteger nosso bem estar e integridade,
guardando-nos de todo os perigos, e nos salvando de infortúnios e desgraças.
Quando
os monges não conseguiram permanecer e meditar naquela bela floresta fornecida
com todas as necessidades porque as divindades eram hostis a eles, eles tiveram
que deixar o local. E quando retornaram armados com a proteção do Metta Sutta,
do qual eles recitaram e meditaram sobre seu significado durante seu retorno,
no momento em que chegaram ao local, as divindades estavam cheias de
sentimentos afáveis e já antecipando o retorno destes. Hostilidade foi
transformada em hospitalidade.
A
proteção de paritta funciona tanto subjetivamente como objetivamente. Subjetivamente,
conforme metta limpa e fortifica a mente, também desperta os potenciais
dormentes, resultando numa transmutação espiritual da personalidade.
Transformado por metta, a mente não é mais assombrada por ganância, ódio,
lascívia ou inveja, e aqueles outros fatores que são poluentes mentais que são
nossos verdadeiros inimigos e fonte de infortúnio.
Objetivamente,
metta como um pensamento-fortaleza é capaz de afetar qualquer mente em qualquer
lugar, seja esta desenvolvida ou não desenvolvida. A radiação de metta pode não
apenas acalmar uma pessoa ou remover flechas de ódio de seu coração, mas em
alguns casos pode até mesmo curar de doenças severas. É uma experiência comum
em países Budistas ver pessoas sendo curadas de todo tipo de doenças e libertas
de infortúnios através da recitação dessa paritta. Assim, metta é realmente uma
fonte de poder curador. Deste modo, metta age como paritta, uma formula de cura
oferecendo proteção.
A
Psicologia de Metta
Os comentários em Pali
nos explicam que:
Um indivíduo ama todos
os seres:
(a)
Por não perturba-los e assim, evita a
perturbação;
(b)
Por ser não ofensivo (para com todos os
seres), e assim evita ser ofendido;
(c)
Por não torturar nenhum ser, e assim
evita ser torturado;
(d)
Pela não destruição da vida, e assim evita
a própria destruição;
(e)
Por não ser um incômodo, e assim evita
ser incomodado;
(f)
Por radiar o pensamento, “Que todos os
seres possam ser amigáveis e não hostis”;
(g)
Por radiar o pensamento, “Que todos os
seres possam ser felizes e estarem longe da infelicidade”;
(h)
Por radiar o pensamento, “Que todos os
seres possam desfrutar de bem-estar e não estarem aflitos”.
Destes oitos modos, um
indivíduo ama todos os seres; e, portanto isso é chamado de amor universal. E
já que esta qualidade de amor é concebida internamente, ela é uma qualidade
mental. E como esta mente está livre de todos os pensamentos de raiva, o
agregado do amor, mente e liberdade são definidos como amor universal conduzindo à libertação da mente.
Da passagem acima será
percebido que metta implica a superação de traços negativos por pôr ativamente
em prática as positivas virtudes correlativas. É apenas quando praticamos
ativamente a não perturbação para com todos os seres que podemos superar a
tendência de perturbarmos. Similarmente, o mesmo se dá com as qualidades de não
ofensividade, o não atormentar, a não destruição e o não incomodar em ação,
palavra ou pensamento que alguém pode superar os traços de não ofender, não
atormentar, não destruir e não ser um incômodo. E além de tal conduta positiva
e princípios de vida, cultivamos ainda mais a mente através da técnica
específica de meditação chamada metta-bhavana,
que gera poderosos pensamentos de amor espiritualizado que cresce de forma
ilimitada, tornando a consciência em si infinita e universal.
Pensamentos que desejam
que todos os seres sejam amigáveis e não hostis, felizes e nunca infelizes, que
possa desfrutar de bem estar e nunca de aflição, implicam não apenas
sublimidade e infinitude, mas também completa libertação mental. Portanto a
pertinente expressão “amor universal conduzindo à liberdade da mente”.
A substituição de um
traço negativo pelo curso oposto positivo implica uma forma bem madura e
desenvolvida de abordar a vida. A habilidade de não ser um incomodo,
perturbação, fonte de ofensividade, tortura e destruição significa um modo de
comportamento muito belo e refinado em um mundo onde a interação entre seres
humanos cria tanta tensão e miséria.
Metta é caracterizado
como aquilo que “promove o bem estar”. Sua função é “preferir o bem” ao invés
do mal. Metta se manifesta como uma força que “remove o aborrecimento” e sua
causa próxima é a tendência de ver o lado bom das coisas e dos demais seres e
nunca as culpas ou faltas. Metta é bem sucedido quando ama, e falha quando
degenera em afeição mundana.
Estará claro a partir
desta análise que apenas quando criarmos a tendência de ver o bem nas pessoas,
e preferir o bem destes, e de acordo, formos inofensivos (para removermos
qualquer perturbação ou ferida) e ativamente promover o bem estar, é que metta
funciona como um solvente. É dito que o propósito final de metta é atingir o
insight transcendente, e se isso não for possível, pelo menos resultará em um
renascimento na esfera sublime do mundo de Brahma, à parte de trazer paz
interior e um estado saudável mental no aqui e no agora. Portanto a garantia do
Buda no Metta Sutta:
E sem estar
aprisionado por falsas crenças,
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
em um ventre este não mais renascerá.
virtuoso e com a visão consumada,
tendo subjugado o desejo pelo prazer sensual,
em um ventre este não mais renascerá.
O amor afasta o ódio, que é a mais danificadora de todas as emoções.
Por isso é dito: “Esta é a escapatória da raiva, amigos, quer dizer, a libertação
da mente através do amor universal” (Digha Nikaya, III. 234).
Má vontade, raiva e ódio, por serem sentimentos não similares,
portanto constituem o “inimigo remoto”. O inimigo remoto pode ser facilmente
distinguido, portanto não devemos temê-lo, mas devemos superá-lo por
projetarmos uma força maior, a força do amor. Contudo, devemos estar sempre
atentos ao inimigo mais próximo porque este pode criar uma autoilusão, o que é
a pior coisa que pode acontecer com um indivíduo.
(Nota do tradutor: fica aqui
uma dica para ficar atento sobre como diferenciar entre o afeto mundano e o
amor universal. Houve certas vezes em que caí nessa ilusão durante a minha
prática de meditação, em que achei que um sentimento que estava surgindo no meu
coração era o do amor universal. Porém, ao analisá-lo mais atentamente, vi que
este sentimento só conseguia ser irradiado para uma pessoa com quem estava na
época tendo uma relação afetiva íntima, e quando eu visualizava outra pessoa,
não conseguia estender este mesmo sentimento. Outra vez, quando o sentimento de
amor universal surgiu, vi que conseguia visualizar qualquer pessoa em minha
mente e estender o mesmo sentimento de forma igual – isto sim é metta).
É dito que metta começa apenas quando há o zelo na forma de um desejo
de querer atuar. Tendo começado com um esforço honesto, só pode ser continuado
quando os cinco empecilhos mentais – desejo sensual, raiva, preguiça e torpor,
ansiedade e preocupação, e dúvida – forem colocados de lado. Metta atinge
culminação quando alcança a absorção meditativa (jhana).
Meditação sobre Metta
Há vários meios de se
praticar metta-bhavana, a meditação sobre o amor universal. Três dos principais
métodos serão explicados aqui. Estas instruções, baseadas em fontes canônicas e
comentários, destinam-se a explicar a prática de meditação metta em um modo
simples, claro e direto para que qualquer um que seja sincero em seu querer
possa adotar a prática possa estar livre de dúvidas sobre como proceder. Para
instruções completas sobre a teoria e prática de metta-bhavana, o leitor
deve-se direcionar ao Visuddhimagga, Capítulo
IX.
Método 1
Sente-se em uma postura confortável em um lugar silencioso – um quarto
de altar, um quarto quieto, um parque ou qualquer local que forneça privacidade
e silêncio. Mantendo os olhos fechados, repita a palavra “metta” algumas vezes
e invoque mentalmente o seu significado – amor como o oposto de ódio,
resentimento, malevolência, impaciência, orgulho e arrogância, e como um
profundo sentimento de boa vontade, simpatia e gentileza promovendo a
felicidade e bem estar de outros.
Próximo passo, visualize seu instrutor de meditação; se não tiver um,
escolha algum mestre que esteja vivo ou uma pessoa por quem você tenha muito
respeito. Veja esta pessoa em um estado de felicidade e projete o pensamento:
“Que meu mestre esteja livre de hostilidade, livre da aflição, livre do
estresse; que ele possa viver em felicidade!”.
Então imagine outras pessoas por a quem você reverencie, e que também
estejam vivas – monges, instrutores, pais ou anciãos, e estenda intensamente em
direção a eles o pensamento de metta na maneira anteriormente mencionada: “Que
todos estes possa estar livre de hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade!”
A visualização deve ser clara e a radiação do pensamento deve ser bem
definida e projetada. Se a visualização for apressada ou o desejo for feito de
uma forma superficial ou mecânica, a prática será de pouco benefício, pois
então a prática se tornará apenas um passatempo intelectual sobre pensar sobre metta. Devemos compreender
claramente que pensar sobre metta é
uma coisa, e sentir metta, ativamente
projetar a força da boa-vontade do amor, é outra coisa.
Perceba que apenas uma pessoa viva é quem deve ser visualizada, e não
uma já falecida. A razão para isto é que a pessoa falecida, tendo mudado sua
forma, ficará fora de foco da projetação de metta. O objeto de metta deve ser
sempre um ser vivo, e a força do pensamento será ineficaz se o objeto não
estiver vivo.
Enquanto estendendo metta para seus membros familiares, atenção deve
ser dada para que uma pessoa muito querida, como um marido ou uma esposa, seja
o último nessa lista. O motivo para isso é que a intimidade entre um marido e
uma esposa introduz o elemento da afeição mundana, que é o oposto de metta.
Amor espiritual deve ser o mesmo para com todos. Similarmente, se alguém teve
uma discussão ou briga com algum membro familiar ou parente, ele ou ela deve
ser visualizado ao final da lista para evitar a lembrança de incidentes
desagradáveis.
Depois disso, pessoas neutras devem ser visualizadas, pessoas a quem
nem sentimos afeto e nem desafeto, tal como nossos vizinhos, colegas de
trabalho, meros conhecidos, e assim por diante. Tendo projetado pensamentos
amorosos para todos em seu círculo neutro, deve-se visualizar em seguida
pessoas com quem possivelmente tenha tido um temporário mal-entendido. Conforme
visualizamos pessoas de quem não gostamos, para cada um destes devemos repetir:
“Nenhuma hostilidade eu tenho em relação a ele/ela,
que ele/ela possa também não reter nenhuma hostilidade contra mim. Que ele/ela
possa ser feliz!”
Assim,
conforme visualizamos as pessoas de círculos diferentes, “quebramos as
barreiras” causadas por preferências, por apego e por ódio. Quando somos
capazes de considerar um inimigo sem ódio e com a mesma quantia de boa-vontade
com que temos para um bom amigo, metta adquire uma imparcialidade sublime,
elevando a mente para cima e para fora, como num movimento espiral sempre
crescente, até que se torne completamente abrangente.
Por radiação é entendido, como explicado
acima, a projeção de certos pensamentos promovendo o bem estar das pessoas para
o qual sua mente está se direcionando. Um pensamento de metta é uma poderosa
força mental. Tem o poder de realmente efetuar o que foi desejado. Pois
estender o bem estar é desejar e portanto é uma força criativa. De fato, tudo o
que o homem criou em áreas diferentes é o resultado do que ele desejou, seja
uma cidade ou um projeto hidroelétrico, um foguete indo para a lua, uma arma de
destruição em massa, ou uma obra prima literária ou artística. A radiação de
pensamentos de amor, também, é desenvolvimento do poder da vontade que pode
efetuar o que foi desejado. Não é uma rara experiência ver doenças curadas ou
infortúnios evitados, até mesmo de uma grande distância, pela aplicação da
força mental de metta. Mas esta força mental tem que ser gerada em um modo
muito específico e habilidoso, seguido de certas sequências.
A formula
para radiar metta usada aqui chegou até nós através do antigo Patisambhidamagga: “Que eles possam
estar livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles
possam viver em felicidade” (avera hontu, abyapajjha hontu, anigha hontu,
sukhi attanam pariharantu). A
explicação dada nos comentários para estes termos são bem relevantes. “Livres
da hostilidade” (avera) significa a falta de hostilidade seja estimulada
em si mesmo ou nos outros, ou por conta de si mesmo por causa de outros ou
outros por causa de você mesmo ou outros. A raiva que sentimos com nós mesmos
pode tomar a forma de autopiedade, remorso ou uma agonizante sensação de culpa.
Pode ser condicionada também pela interação com os outros. Hostilidade combina
raiva com inimizade. “Livres da aflição” (abyapajjha) significa a ausência
de sofrimento mental, angústia ou ansiedade, o que geralmente é seguido por
hostilidade ou aflição corporal. É apenas quando estamos livres de hostilidade,
aflição e estresse que podemos “viver em felicidade”, isto é, conduzirmo-nos
com tranquilidade e alegria. Portanto todos estes termos estão
interconectados.
Por ordem é entendido a visualização de
objetos, um após o outro, ao adotar o caminho da menor resistência, em uma
sequência gradual, que progressivamente amplia o círculo de pessoas e assim, a
mente em si. O Visuddhimagga é bem claro a respeito desta ordem. De
acordo com Acariya Buddhaghosa, devemos começar a meditação sobre metta por
visualizar primeiramente pessoas queridas, após isso pessoas neutras, e então
pessoas hostis. Conforme radiamos pensamentos de amor nesta ordem, a mente
quebra as barreiras entre nós mesmo, uma pessoa reverenciada, uma pessoa neutra
e uma hostil. Todos se tornam iguais sobre o olhar do amor universal.
No Visuddhimagga Acariya Buddhaghosa faz uma
apta analogia para a quebra desta barreira: “Suponha que bandidos viessem até
um meditador que está sentado em um local com uma pessoa reverenciada, uma
amada, uma neutra e uma pessoa hostil ou má, e ordenasse, ‘Amigos, queremos um
de vocês para o propósito de ser oferecido como sacrifício humano’. Se o
meditador pensar, ‘Que ele leve aquele ou aquela pessoa’, este ainda não
quebrou as barreiras. E se ele até mesmo pensar, ‘Que nenhuma dessas pessoas
seja levada, mas que ele possa me levar no lugar destas’, ainda sim, ele ainda
não quebrou as barreiras já que ele procura o seu próprio dano, e metta
significa o bem estar de todos. Mas quando ele não vê a necessidade de nenhuma
destas serem dadas aos bandidos e imparcialmente projeta o pensamento de amor
universal para todos, até mesmo os bandidos, então pode ser dito que ele
quebrou todas as barreiras”.
Método 2
O primeiro
método de praticar a meditação sobre metta aplica a projeção de pensamentos
amorosos a indivíduos em específico numa ordem de crescente afastamento de si
mesmo. O segundo método apresenta um modo impessoal
de radiar metta que torna a mente verdadeiramente abrangente, conforme
sugerida pelo termo em Pali metta-cetovimutti,
“a libertação da mente através do amor universal”. A mente não libertada está
aprisionada entre as paredes do egocentrismo, ganância, ódio, ilusão, inveja e
mesquinharia. Enquanto a mente estiver sobre o poder destes fatores mentais
limitantes e poluentes, ela permanece insular e aprisionada. Ao quebrar estas
barreiras, metta liberta a mente, e a mente libertada naturalmente se expande
infinitamente, de forma imensurável.
Após a
conclusão da projeção de metta em direção a pessoas selecionadas, quando a
mente quebra as barreiras existindo entre si mesmo e pessoas reverenciadas,
amadas, amigos, pessoas neutras e hostis, o meditador agora embarca na grande
viagem da projeção impessoal, assim como um navio viaja pelo vasto e
imensurável oceano, não obstante retendo a rota e objetivo final. A técnica é a
seguinte:
Imagine
as pessoas residindo em sua casa como formando um único agregado, então
abrace-os todos em seu coração, radiando pensamentos de amor: “Que todos
aqueles habitando esta residência possam estar livres da hostilidade, livres da
aflição, livres do estresse; que estes possam viver em felicidade”. Tendo
visualizado sua própria casa nesta maneira, visualizamos em seguida a próxima casa,
e todos os seus residentes, e então a próxima casa, e a próxima, e assim por
diante até que todas as casas em sua rua tenham sido similarmente abraçadas por
pensamentos de amor universal. Agora o meditador deve visualizar a próxima rua,
e a próxima, até que vizinhança inteira ou vila esteja coberta. Depois disso
extensão por extensão, de forma bem direcionada, deve ser visualizado e
estendido com raios de metta de forma abundante. Neste modo a cidade inteira é
coberta; então o distrito e o estado inteiro coberto e radiado com pensamentos
de metta.
Após
isso, deve-se visualizar estado depois de estado, começando com seu próprio
estado, e depois os restantes em direções diferentes, o leste, oeste, sul e
norte. Assim, deve-se cobrir seu próprio país, geograficamente visualizando as
pessoas desta terra indiferente de classe, raça, setor ou religião. Pense: “Que
todos neste grande terra possam habitá-la em paz e bem estar! Que possa não
haver guerras, brigas, infortúnios ou doenças! Radiante com simpatia e boa
vontade, com compaixão e sabedoria, que todos neste grande país possam
desfrutar de paz e abundância”.
Deve-se
encobrir agora o continente inteiro, país por país, na direção leste, oeste,
sul e norte. Geograficamente visualizando cada país e as pessoas ali habitando
de acordo com suas aparências, devemos radiar em abundante quantidade
pensamentos de metta: “Que eles possam estar felizes! Que possa não haver
conflitos e discórdia! Que a boa-vontade e compreensão mútua possa prevalecer! Que
a paz esteja com todos!”.
Após
isso, deve-se visualizar todos os demais continentes – África, Ásia, Austrália,
Europa, América do Sul e do Norte – visualizando país por país e povo por povo,
cobrindo o globo inteiro. Imagine-se em um ponto em particular no globo e
projeto o poderoso pensamento de metta, encobrindo uma direção do globo, então
outra, e depois outra, até que o globo inteiro esteja coberto e inteiramente
envolvido por luminosos pensamentos de amor universal.
Projetamos
em seguida para o vasto espaço raios de metta para todos os outros seres em
outros mundos, primeiramente nas quatro direções cardeais – leste, oeste, sul e
norte – então nas direções intermediárias – nordeste, sudeste, noroeste e
sudoeste – e então acima e abaixo, encobrindo todas as dez direções com
abundantes e imensuráveis pensamentos de amor universal.
Método 3
De acordo
com a cosmologia Budista há diversos sistemas de mundo habitados por inúmeras
categorias variadas de seres em diferentes estágios de evolução. Nossa terra é
apenas um cisco em nosso sistema mundial, e este é por sua vez apenas um
pequeno ponto no universo com seus quase infinitos sistemas mundiais.
Direcionados a todos os seres em todos os lugares é que devemos radiar
pensamentos de amor ilimitado. Isso é desenvolvido na próxima prática, a universalização de metta.
A
universalização de metta é efetuada em três meios específicos:
1. Projeção generalizada (anodhiso-pharana),
2. Projeção especificada (odhiso-pharana),
3. Projeção direcionada (disa-pharana).
PROJEÇÃO GENERALIZADA
Os cinco
modos de projeção generalizada são como segue:
1. Que todos os seres (sabbe
satta) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade.
2. Que todos aqueles que respiram (sabbe pana) estejam livres da hostilidade, livres da aflição,
livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
3. Que todas as criaturas (sabbe
bhuta) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que elas possam viver em felicidade.
4. Que todos aqueles com existência individual (sabbe puggala) estejam livres da
hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em
felicidade.
5. Que todos aqueles que estejam encarnados (sabbe attabhavapariyapanna) estejam livres da hostilidade, livres
da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
PROJEÇÃO ESPECÍFICA
Os sete
meios de projeção específica são como segue:
1. Que todas as mulheres (sabbe
itthiyo) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que elas possam viver em felicidade.
2. Que todos os homens (sabbe purisa) estejam livres da
hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em
felicidade.
3. Que todos os Nobres (sabbe
ariya) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade.
4. Que todos os mundanos (sabbe
anariya) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade.
5. Que todos os deuses (sabbe
deva) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse;
que eles possam viver em felicidade.
6. Que todos os seres humanos (sabbe
manussa) estejam livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade.
7. Que todos aqueles em estado de miséria (sabbe vinipatika) estejam livres da hostilidade, livres da aflição,
livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
PROJEÇÃO DIRECIONADA
Os dez
meios de projeção direcionada envolvem estender pensamentos de metta para todos
os seres nas dez direções. Este método, em sua forma básica, é aplicado a
classe de seres (satta), o primeiro dos cinco objetos generalizados de metta. Mas
pode ser desenvolvido ainda mais ao estender metta através de cada um dos cinco
meios de projeção generalizada e os sete meios de projeção específica, conforme
veremos.
I.
1. Que todos os seres no leste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
2.
Que todos os seres no oeste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
3.
Que todos os seres no norte estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
4.
Que todos os seres no sul estejam livres hostilidade, livres
da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
5.
Que todos os seres no nordeste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
6.
Que todos os seres no sudeste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
7.
Que todos os seres no noroeste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
8. Que todos os seres no sudoeste estejam livres da hostilidade,
livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
9.
Que todos os seres acima estejam livres da hostilidade, livres
da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
10.
Que todos os seres abaixo estejam livres da hostilidade, livres
da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
II.
1-10.
Que todos aqueles que respiram, na direção leste, possam estar livres da
hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam viver em
felicidade. (Seguido da direção oeste, sul, norte, etc. e assim por diante).
III.
1-10.
Que todas as criaturas na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam
estar livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que elas
possam viver em felicidade.
IV.
1-10.
Que todos aqueles com existência individual na direção leste (oeste,
sul,...acima, etc.) possam estar livres da hostilidade, livres da aflição,
livres do estresse; que eles possam viver em felicidade.
V.
1-10.
Que todos os encarnados na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam
estar livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles
possam viver em felicidade.
VI.
1-10.
Que todas as mulheres na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam estar
livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que elas possam
viver em felicidade.
VII.
1-10.
Que todos os homens na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam estar
livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam
viver em felicidade.
VIII.
1-10.
Que todos os Nobres na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam estar
livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam
viver em felicidade.
IX.
1-10.
Que todos os mundanos na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam estar
livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam
viver em felicidade.
X.
1-10.
Que todos os deuses na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam estar
livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles possam
viver em felicidade.
XI.
1-10.
Que todos os seres humanos na direção leste (oeste, sul,...acima, etc.) possam
estar livres da hostilidade, livres da aflição, livres do estresse; que eles
possam viver em felicidade.
XII.
1-10.
Que todos aqueles em estados de miséria na direção leste (oeste, sul,...acima,
etc.) possam estar livres da hostilidade, livres da aflição, livres do
estresse; que eles possam viver em felicidade.
EXPLICAÇÃO
Nesta técnica de universalizar metta, cada uma das cinco
categorias da projeção generalizada refere-se à dimensão da existência animada,
senciente, ou orgânica, pertencendo as três esferas mundanas, ou seja, kamaloka, as esferas de existências
sensoriais onde o desejo é a motivação primordial; rupaloka, os domínios dos radiantes deuses Brahmas constituídos por
matéria sutil; e arupaloka, os
domínios de seres sem forma constituídos por pura vida mental. Seja um “ser” ou
aquilo que “respira” ou uma “criatura”, ou aquilo que tem “existência
individual” ou os que “estão encarnados” – todos se referem à totalidade da
existência animada, a distinção sendo que cada termo expressa exaustivamente um
aspecto particular da vida em sua totalidade.
Quando visualizando cada categoria, devemos manter em mente o
aspecto específico expresso por sua designação. Se alguém treinar sua mente na
maneira de “furadeira mental” após ter exercido-a com os primeiros dois
métodos, o significado dos cinco termos generalizados se tornará claro. No
momento em que tiver completado os dois métodos, a consciência estará
suficientemente desenvolvida e abrangente. E com tal consciência, quando cada
uma destes conceitos universais for compreendido, a universalização de metta
acontecerá naturalmente e sem esforço. A projeção neste caso se torna uma
correnteza de amor que “flui para fora” em medida abundante em direção ao
objeto mental conceituado – todos os seres, todas as criaturas, etc.
Cada uma das sete categorias de projeção específica abrange uma parte da gama total da vida, e em
combinação com outras, exprime o inteiro. Itthi
refere-se ao princípio feminino em geral, abrangendo todas as fêmeas entre
devas, seres humanos, animais, demônios, espíritos e habitantes do inferno. Purisa significa o princípio masculino
em todas as esferas existenciais, e ambos itthi e purisa juntos abrangem a
totalidade. Novamente, de outro ângulo, os ariyas
ou Nobres que transcenderam o sofrimento, e anariyas ou mundanos que ainda estão presos à roda dos ciclos do
vir-a-ser, abrangem a totalidade. Ariyas são aqueles que entraram no caminho
transcendental; eles podem ser encontrados tanto no mundo dos seres humanos
como nos mundos celestiais, e assim formam o topo da pirâmide da existência
senciente. Mundanos estão em todas as esferas da existência e constituem o
corpo da pirâmide da base até quase altura, assim podemos dizer. Da mesma
forma, as três categorias de deva,
manussa e vinipatika – deuses,
seres humanos e aqueles que caíram em estados de miséria e privação – abrangem
a totalidade em termos de status cosmológico. Devas, os radiantes seres
celestiais, formam a camada superior, seres humanos o meio, e vinipatikas a
camada inferior do monte cosmológico.
A “furadeira mental” em termos de projeção direcionada, a projeção de metta às doze categorias de
seres encontrados nas dez direções, faz da universalização de metta uma
experiência extremamente emocionante. Conforme nos colocamos mentalmente em uma
direção e então deixamos o amor fluir e cobrir toda aquela região, literalmente
transportamos a mente às alturas mais sublimes conduzindo-a até samadhi, a
concentração absorta da mente.
Quando projetamos este desejo para que os outros vivam em
felicidade, livres da hostilidade, aflição e estresse, não apenas nos elevamos
a um nível onde a verdadeira felicidade prevalece, mas colocamos em andamento
poderosas vibrações conduzindo à felicidade, o esfriamento da inimizade,
aliviando aflições e conflitos. Será compreendido, então, que o amor universal
infunde bem-estar e felicidade e remove o sofrimento físico e mental causado
por poluentes mentais como hostilidade, inimizade e raiva.
As
Bençãos de Metta
“Monges,
quando o amor universal conduzindo à libertação da mente é ardentemente
praticado, desenvolvido, frequentemente recorrido, usado como o veículo
principal (para a iluminação), é feito a base de suas vidas, inteiramente
estabelecido, bem consolidado e aperfeiçoado, então estas onze bênçãos podem
ser esperadas. Quais onze?
Um indivíduo dorme
feliz; acorda feliz, não sofre de pesadelos; é querido tanto para com seres
humanos quanto para seres não humanos; os deuses o protegem; fogo algum ou
veneno ou armas não o machucam; sua mente se concentra rapidamente; a expressão
de seu rosto se torna serena; sua morte é tranquila; e mesmo que este não
consiga atingir nenhum estágio mais avançado em seu caminho, pelo menos
renascerá no estado do mundo de Brahma.
Monges, quando o amor
universal conduzindo a libertação da mente é ardentemente
praticado, desenvolvido, frequentemente recorrido, usado como o veículo
principal (para a iluminação), feito a base de suas vidas, inteiramente
estabelecido, bem consolidado e aperfeiçoado, então estas onze bênçãos podem
ser esperadas.”
--- A.N 11.16
Metta
cetovimutti – amor universal conduzindo à libertação
da mente – significa o alcance de samadhi, absorção baseado na meditação sobre
metta. Como metta libera a mente do cativeiro da raiva e ódio, egocentrismo,
ganância e ilusão, isso se constitui como um estado de libertação. Cada vez que
praticamos metta, não importa quão curto o período de duração seja, desfrutamos
um pouco da liberdade da mente. Libertação ilimitada da mente, contudo, só pode
ser esperada quando metta estiver inteiramente desenvolvido em samadhi.
As várias aplicações de
metta, conforme indicadas pelos termos “praticada, desenvolvida,” etc.,
significam uma força bem estruturada vinda não apenas de algumas horas de
meditação, mas também convertendo todas as nossas ações, palavras e pensamentos
em atos de metta.
Por “praticado” (asevita) significa a prática ardente de
metta, não apenas como um exercício intelectual, mas sim por fazer um
compromisso de coração inteiro e torna-lo a nossa filosofia da vida, algo que
condiciona nossas atitudes, o modo de ver as coisas e nossa conduta.
Por “desenvolver” (bhavita) é implicado os vários processos
de cultura interna e integração mental efetuado pela prática da meditação do
amor universal. Como a meditação trás a unificação da mente por integrar as
várias faculdades, isso é chamado de desenvolvimento da mente. O Buda ensinou
que o mundo mental inteiro é desenvolvido pela prática da meditação do amor
universal, conduzindo à libertação da mente e a transformação da personalidade.
“Frequentemente
recorrido” (bahulikata) enfatiza a prática
repetida de metta durante todas as horas em que estamos acordados, em ação,
palavras e pensamentos, e mantendo o ritmo desta consciência durante o dia.
Ação repetida significa a geração de poder. Todas as cinco faculdades
espirituais, isto é, fé, vigor, atenção plena, concentração e sabedoria, são
exercidas e cultivadas pela prática repetida de metta.
“Usado como o veículo
principal” (yanikata) significa um
“compromisso total” ao ideal de metta como o único método válido para a solução
de problemas interpessoais e como um instrumento para o crescimento espiritual.
Quando metta é o único “modo de comunicação”, o único veículo, a vida
automaticamente se torna “uma moradia divina” conforme mencionado no Metta
Sutta.
“É feito a base de sua
vida” (vatthikata) é fazer de metta a
base de nossa existência em todos os aspectos. Metta se torna nosso recurso
principal, o refúgio de nossas vidas, tornando nosso refúgio no Dhamma uma
realidade.
“Inteiramente estabelecido”
(anutthita) refere-se a uma vida que
é firmemente enraizada em metta, é ancorada em metta em todas as
circunstâncias. Quando metta é praticado naturalmente, sem esforço algum, nem
mesmo por erro violamos as leis do amor universal.
“Bem consolidado” (paricita) significa que estamos tão
habituados a metta que permanecemos imerso nele sem esforço, tanto na meditação
como em nossa conduta na vida diária.
“Aperfeiçoado” (susamaraddha) indica um modo de
plenitude através da aderência e cultivo, conduzindo àquele estado
completamente integrado no qual desfrutamos de perfeito bem estar e felicidade
espiritual, indicado pela passagem detalhando as onze bênçãos de metta.
Os benefícios de metta
são realmente grandes e abrangentes. Para um seguidor do Buda este é um
instrumento supremo que pode ser exercido com vantagens em qualquer lugar.
O Poder de Metta
O benefício subjetivo
do amor universal é evidente o suficiente. O desfrute do bem estar, boa saúde,
paz de mente, expressão serena, e afeição e boa vontade de todos são realmente
bênçãos da vida vindas da prática da meditação sobre metta. Mas o que é ainda
mais maravilhoso é o impacto que metta tem sobre o ambiente e sobre outros
seres, incluindo animais e devas, conforme as escrituras Pali e comentários nos
ilustram com um número de histórias memoráveis.
Certa vez o Buda estava
voltando de sua coleta de esmolas juntamente com seu grupo de monges. Conforme
se aproximavam de uma prisão, em consideração a um abundante suborno dado por
Devadatta, o primo mal e ambicioso do Buda, o executor soltou o violento
elefante Nalagiri, que era usado para a execução de criminosos. Conforme o
elefante bêbado corria em direção ao Buda alardeando ferozmente, o Buda
projetou poderosos pensamentos de metta para ele. O Venerável Ananda, o
atendente do Buda, ficou tão profundamente alarmado pela segurança do Buda que
correu em frente a ele para protegê-lo, mas o Buda pediu que ele se afastasse,
pois a projeção do amor em si seria o bastante. O impacto da radiação de metta
feita pelo Buda foi tão imediata e intensa que na hora em que o animal se
aproximou do Buda, ele estava completamente domado, tal como um bêbado que fica
imediatamente sóbrio através de algum poder mágico ou feitiço. As presas,
relata a história, se abaixaram em sinal de reverência da forma como elefantes
treinados fazem em circos.
O Visuddhimagga registra um caso de um proprietário de terra de
Pataliputra (hoje em dia, Patna), Visakha era seu nome. Ele ouviu o rumor de
que a ilha do Sri Lanka era um verdadeiro jardim do Dhamma com seus inúmeros
santuáriose e estupas adornando a ilha. E era também abençoada por um clima
favorável, as pessoas eram altamente morais, seguindo o ensinamento do Buda com
grande fervor e sinceridade.
Visakha decidiu visitar
o Sri Lanka e passar o resto de sua vida lá como um monge. Conformemente, ele
passou sua grande fortuna para sua esposa e filhos e deixou sua casa com apenas
uma moeda de ouro. Ele ficou por algum tempo no porto da cidade de Tamralipi
(Tamluk hoje em dia), aguardando um barco, e durante este tempo ele se engajou
em negócios e vendas e conseguiu fazer mil moedas de ouro.
Eventualmente ele
chegou ao Sri Lanka e foi para a capital de Anuradhapura. Ali ele se dirigiu ao
famoso mosteiro Mahavihara e pediu a permissão do abade para entrar no Sangha.
Conforme ele foi conduzido ao grande salão para a cerimônia de ordenação, o
saco que carregava com si com as mil moedas caiu de sua cintura. Quando
questionado, “O que é isto?" ele disse, “Eu
tenho mil moedas de ouro, senhor”. Quando ele foi avisado de que monges não
podiam possuir dinheiro, ele disse, “Oh não, eu não desejo possuir dinheiro,
mas gostaria de distribuí-lo entre todos que vierem para esta cerimônia”.
Conformemente, ele abriu seu saco e adornou o quintal inteiro do salão de
cerimônia, dizendo, “Que ninguém que veio testemunhar a ordenação de Visakha
saia de mãos vazias”.
Após
passar cinco anos com seu mestre, ele decidiu ir à famosa floresta de
Cittalapabbata, onde um grande número de monges com poderes sobrenaturais
viviam. Durante seu percurso até a floresta ele chegou a uma divisão na estrada
e ficou parado pensando em qual direção tomar. Como ele estava praticando a
meditação sobre metta assiduamente, ele viu uma deva que vivia em uma pedra ali
por perto, apontando sua mão em direção ao caminho certo. Após ter chegado ao
mosteiro da floresta de Cittalapabbata, ele habitou em uma das cabanas.
Lá
residindo por quatro meses, conforme ele pensava que havia chegado a hora de
partir na manhã seguinte, ele ouviu alguém chorando e perguntou, “Quem está ai?”.
Uma deva que vivia em uma árvore manila* próximo a sua cabana disse, “Venerável
senhor, eu sou Maniliya (isto é, pertencendo à árvore manila).
(Nota do tradutor: fui atrás de informação a
respeito desta árvore na internet, mas não consegui achar muito coisa a
respeito. Aparentemente, é uma espécie de árvore que dá mangas).
“E porque
está chorando?”.
“Porque o
senhor está pensando em ir embora daqui.”
“E qual
benefício tens com minha residência aqui?”
“Venerável
senhor, enquanto tens vivido aqui, as devas e outros seres não humanos têm se
tratado com gentileza e bondade. Quando for embora, eles retornarão a suas
discussões e brigas.”
“Bem, se
minha vivência aqui faz com que todos vivam em paz, então tudo bem.” E assim
ele permaneceu lá por mais quatro meses. É relatado nesta história que, quando
ele novamente pensou em ir embora, novamente aquela divindade começou a chorar.
Então este Ancião ficou lá permanentemente e atingiu Nibbana naquele local. Tal
é o impacto de metta-bhavana sobre os outros, até mesmo entre seres invisíveis.
Há ainda
outra história registrada sobre uma vaca. Foi dito que certa vaca estava
amamentando seu filhote numa floresta. Um caçador querendo matá-la lançou uma
lança que, quando atingiu seu corpo, bateu de volta como uma bola jogada contra
a parede. Tão poderoso é o sentimento de metta – o amor-bondade. Este nem mesmo
é o caso de alguém que desenvolveu metta-samadhi
(absorção na meditação sobre o amor universal). É apenas um simples caso de
consciência amorosa de uma mãe para com seu filho.
De fato,
inúmeros são os exemplos do poder de metta. Os comentários nas escrituras Pali
são repletos de histórias, não apenas de monges, mas também de pessoas comuns
que superaram vários perigos, incluindo o de armas e veneno, através do simples
poder de metta – amor desinteressado.
Mas não
pense que metta é apenas um mero sentimento. É o poder dos fortes. Se lideres
de diferentes caminhos da vida dessem uma chance a metta, nenhum princípio ou
diretriz de ação haveria com maior eficácia e sucesso em todas as esferas.
Em todas
as coisas, o homem é a medida principal. Se o homem decidisse substituir metta
como política de ação pela agressão e ódio, o mundo se tornaria em um
verdadeiro domínio da paz. Pois é apenas quando o homem tiver paz em si mesmo,
e boa vontade ilimitada para com os outros, que a paz no mundo se tornará
verdadeira e duradoura.
O artigo original em inglês pode ser encontrado no seguinte endereço: http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/buddharakkhita/wheel365.html#ch8
O artigo original em inglês pode ser encontrado no seguinte endereço: http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/buddharakkhita/wheel365.html#ch8