Nossos
Corpos Voltarão aos Elementos
Por
Ajahn
Anan Akiñcano
Tradução
Anônima do Tailandês para o Inglês
Tradução
para o Português
Davi
Coêlho
Quando colocamos
empenho na prática da meditação, a mente se recolherá em quietude. Isso é samādhi
(concentração). Usamo-la para investigar esta pilha de sankhāra
(formações): esta pilha de rūpa (matéria) e nāma (mente). No
começo começamos a olhar diretamente à matéria: dos cabelos da cabeça, cabelos
do corpo, unhas, dentes, pele e nesta massa inteira que chamamos de um corpo.
Agora donde surge sua verdadeira essência?
A verdadeira essência
do corpo vem dos elementos. A comida que nos dá suporte inicialmente vem do
elemento terra. Podemos ver isso com as árvores. Elas absorvem os minerais e a
umidade da terra. O sol dá suporte ao processo de fotossíntese para as
folhagens da árvore e através disso a árvore cresce. Eventualmente ela produz
flores e frutos. No início a árvore cresce e floresce e finalmente produz
flores e frutos. Isso pode provê alimento e um lar para diferentes tipos de
animais, e se torna parte do ciclo da alimentação, dando suporte à vida.
Seres humanos dependem
de animais, plantas e frutas para manter suas forças vitais. É um ciclo que não
para de girar: tudo é dependente dos elementos de terra, ar, água e fogo,
provendo este corpo com terra, ar, água e fogo, facilitando assim seu
crescimento posterior.
Porém, quando não
compreendemos este simples e natural processo e nos apegamos a ele, pensando
que este amontoado de elementos sou “eu” ou “meu”, não conseguimos reconhecer que
no final tudo irá apenas se acabar. No final, tudo irá se degenerar e mudar sua
forma. Quando a respiração chegar a seu fim, este corpo começará a se decompor.
Os diferentes tipos de bactérias começarão a comer e roer e o corpo mudará sua
cor até que os vários elementos se decomponham de volta à seus respectivos
elementos, tudo isso seguindo seu curso natural. Terra volta para terra, água
de volta para água, fogo de volta para o fogo, e ar para o ar. Todos estes
fatores condicionados fizeram com que esta forma chegasse ao seu fim.
Portanto, quando vemos
que o corpo chega a seu fim desta maneira, onde está este “eu”? No passado,
considerávamos este corpo como sendo nós mesmos, mas agora onde está este ser?
Onde estão todas as “minhas” coisas? Nossos pais, a quem chamávamos de “mãe” e
“pai”, quando suas respirações chegarem a um fim, para onde “eles” foram? Os
amontoados de elementos se quebraram e se espalharam, terra de volta a terra,
água a água, fogo ao fogo, e ar ao ar.
A verdade é assim,
desta maneira. Mas se formos atrás de todas as convenções mundanas, ainda há um
“eu”, um “ele”, um “eles”. Ainda há “relações”, “irmão”, “irmã”, “marido”,
“esposa”, “mãe e pai”, “filhos e filhas”. Estas coisas existem de fato em nossa
realidade, mas são apenas convenções. E se o coração não conseguir enxergar a
verdade, então ele irá pensar que todas essas convenções são a realidade final
– que elas são sólidas e que contém uma existência própria.
O Buda descobriu a
verdade; ele descobriu que o que consideramos como sendo realidade não existe
de fato. É tudo vazio. Há apenas o surgimento, existência, e desparecimento.
Essa é a realidade de todo fenômeno. Ele viu saccadhamma, ou a verdade sobre as coisas até os seus mínimos
detalhes. Sua mente habitando na benção da libertação, ele sentiu que seria
impossível para as outras pessoas seguirem este caminho e ver seus frutos. Ele
pensou que porque não há nada mais refinado e extraordinário do que Nibbāna,
seria mais fácil se ele permanecesse em silêncio.
Então Brahma Sahampati,
uma divindade que estava intimamente ligado ao Buda desceu até a Terra e pediu
que ele ensinasse essa verdade aos outros. O Buda pensou primeiramente em seus
dois professores que tivera no passado, Uddaka Rāmaputta e Alara Kalāma, mas
ambos já haviam renascido em domínios brahmânicos imateriais, onde os seres
carecem de bases sensoriais, e, portanto não podiam ouvir os ensinamentos.
Então ele se recordou do pañcavaggiyā,
os cinco ascetas que haviam previamente dado assistência a ele nos seus dias de
práticas de austeridade. Ele viu que estes seriam capazes de compreender o
Dhamma. O Venerável Aññā Konóañña foi o primeiro a compreender o Dhamma, com o
restante do grupo seguindo não muito tempo depois. Por fim todos conseguiram
atingir o estado de arahant (santidade)
juntos. Eles conseguiram compreender Nibbāna porque todos viram que toda
matéria e mente são apenas impermanente, insatisfatória, e que tudo está
destituído de uma essência e identidade.
Se tivermos samādhi (concentração) e usarmos sua força para
investigar, passo a passo, seremos capazes de ver, ver que este corpo não é nem
belo nem atraente. É apenas constituído por elementos. Você já viu uma folha? Imagine uma. Ela começa como um
pequeno broto, então se torna mais verde e cresce. Então fica velha, murcha, e
eventualmente cai no chão. Todo o verde se foi e agora é apenas marrom. Esta folha marrom gradualmente se decompõe. E finalmente,
ela volta à terra.
Nosso corpo é o mesmo
que essa folha; o mesmo que a árvore, a casca, o cerne. Todos passam pelo
processo de condições mutantes nesta sequência – quando a força vital se vai, eles
se decompõem e desaparecem. No fim, não importa se forem os cabelos da cabeça,
cabelos do corpo, unhas, dentes, ou pele, todos seguem seu curso natural de
mudanças. A cor muda e eles se quebram. Os ossos são os mesmos; eles vão do
branco ao marrom. No fim eles apenas acabam como o elemento terra, assim como
eram originalmente. Então a percepção de “ossos” de um “corpo” desparecem e
apenas o elemento terra permanece. Quando realmente dividimos essas coisas em
partes e as analisamos como o elemento terra, vemos que tudo não passa de uma
grande massa de elementos naturalmente existindo que se juntaram para dar
formação a este corpo. Se dividirmos ainda mais, vemos que são apenas pequenas
moléculas e elementos. Se separarmos tudo, vemos que é apenas energia. Mas no
fim isso ainda pode ser separado até que nem mesmo isso esteja lá. Apenas uma
massa sem nenhuma essência permanente, uma fusão de energia que eventualmente
se dissipa.
É o mesmo com a água.
São apenas hidrogênio e oxigênio que se juntaram. Mas se separarmos estas duas
coisas a água já nem está mais lá. Do mesmo modo, o que chamamos de “nós” e “nossos”
corpos não tem nenhuma essência verdadeira, pois também irão ter que se quebrar
e desaparecer. Os rūpa sankhāras
(formações materiais) e nāma sankhāras (formações mentais) que são
dependentes de causas e condições simplesmente surgem, permanecem por um
instante e depois desaparecem. Se o coração estiver calmo em samādhi,
quando
investigarmos, ele será capaz de penetrar e ver claramente. Podemos então nos desprender
das convenções de um ser, uma pessoa, eu, nós e eles. Mas se o coração não
tiver este samādhi, então
apenas veremos as coisas em termos de “meu” e “eu”.
Portanto, temos que desenvolver o poder de samādhi. Investigando
o corpo como elementos é um método que podemos usar, dividindo o corpo em
quatro partes. Como uma pessoa cortando uma vaca em quatro partes. Vá até lá e
investigue cada parte, passo a passo. O elemento terra são todas as partes
duras do corpo. As partes líquidas tem a característica de serem fluida e macia;
isso é o elemento água. O elemento ar é basicamente a respiração (mas também
gases que se encontram no corpo), e os locais onde há calor é o elemento fogo.
Todos os quatro elementos se combinam para cumprir seu propósito. E mesmo assim
no final quando eles se quebram e desintegram não conseguimos encontrar nenhuma
pessoa, nenhum ser, eu, nós ou eles.
Portanto a sensação que temos de que o corpo é “nosso” – de onde ela vem?
Ela vem da própria mente em si, a mente ainda pressa em ignorância que se apega
a tudo. Perguntamos a nós mesmos, “Como é que esse corpo não é meu? Estas
sensações dolorosas que surgem e ai eu sinto dor aqui, dor ali. Se eu me sentar
por mais tempo, machuca mais ainda, talvez até fique dormente. Então como é
possível que essa sensação não seja minha?”
Bem, se essas sensações
são suas e você as rotulou com sendo sua propriedade, antes que você tivesse
vindo aqui sentar-se para meditar, tinha estas mesmas sensações? É claro que não. Não tinha esta dor ou desconforto. Conforme
veio até aqui para se sentar por um bom tempo, sua circulação não está se movendo
tanto quanto antes, portanto essas sensações dolorosas aparecem. E estas
sensações, elas estão sempre ali? Elas vão se dissipar brevemente ou não? É
claro que vão se dissipar. Estas sensações estão apenas surgindo, permanecendo
por um instante e depois desaparecem.
Podemos nos questionar
também, “Estas sensações são a mente? São a mente, ou apenas uma parte dela?” Vemos então que são apenas algo que surgiu. Não
estão aqui o tempo todo. A mente permanece, mas vedanā (sensação)
surgiu, permanecerá aqui por um instante e depois desaparecerá. Esta é a
natureza de vedanā khandha (o
agregado sensação).
E mesmo assim nossas mentes ainda se apegam a estas sensações e as
puxam de lá pra cá com todo o sofrimento embutido nelas. Não temos ainda força
o suficiente, nosso sati (atenção plena) ainda está fraco. Então por
isso é que temos que praticar. Temos que chegar ao estágio onde sati e samādhi
(concentração) estejam firmes. Temos que nos sentar na meditação e realizar
a prática até que nossos corações estejam calmos. Até que estejam imóveis.
Então podemos nos dirigir à nossas investigações.
Às vezes o coração está calmo, às vezes não, mas isso é normal. Temos
que dar continuidade a nossa prática com paciência, colocando empenho para
desenvolver nossa meditação.
Texto original retirado do livro Sotapattimagga: The Path of the Sotapanna, que é gratuitamente disponibilizado no endereço: http://www.watmarpjan.org/en/pdf/en-SOTA-LOW.pdf
Muito, muito obrigado a prática deve ir em direção de sati e samadhi, e desapego a tudo.
ResponderExcluirmaravilha!!!! queria que voce traduzisse esse livro todo... hahaha =))) Anan Akincano é uma inspiração pra mim Mettaa
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