Praticando
Para a Libertação – Nibbāna
Por
Ajahn Anan Akiñcano
Diversos Tradutores
Anônimos do Tailandês Para o Inglês
Tradução do Português
Davi Coêlho
Quando temos um olho que é funcional, um objeto
visual e luz, o sentido da visão surge. O obejeto visual contata a base
sensorial e manda uma impressão diretamente para o coração. Similarmente,
audição, cheiro, paladar, toque e cognição mental surgem diferindo-se apenas no
que diz respeito o órgão sensorial e seus correspondentes objetos sendo
sentidos. Se esta impressão sensorial vier através do olho, é chamado de cakkhuviññāṇa (consciência visual), para a orelha é
chamado de sota-viññāṇa (consciência auditiva), o nariz, ghāna-viññāṇa (consciência olfatória), a língua, jivhā-viññāṇa (consciência do paladar), o corpo, kāya-viññāṇa (consciência corporal), e a mente, manoviññāṇa
(consciência mental). Todos estes seis tipos de viññāṇa (consciência)
são da mesma natureza. Eles surgem, persistem e desaparecem. Mas todo este processo
ocorre de forma muito veloz.
Quando
a mente se agarra à consciência, temos uma sensação de que, “Eu estou vendo” ou
“Eu estou ouvindo”. Então nos agarramos às sensações prazerosas ou dolorosas
que surgem; isso é vedanā (sensação).
Então a mente forma ideias, que são saṅkhāra (formações mentais), e coloca um
rótulo nelas, tornado-se saññā (memória e percepção). É assim
que os nāmadhammas (agregados mentais) funcionam juntamente. É normal para
nós a experiência do mundo nesta forma.
Todas as nossas experiências funcionam neste
processo e quanto mais nos agarramos a elas, mais o ciclo de prazer e dor
surge. Mas o Buda pediu que parássemos por um instante e que investigássemos este
processo separando os khandhas (agregados) e que víssemos os quatro
elementos com paññā (discernimento). Fazemos isto para ver claramente
como este amontoado de matéria é apenas composto pelos quatro grandes elementos
(terra, água, fogo e ar). Não é nada mais do que saṅkhata (fabricações), algo
que foi formado em conjunção com outras coisas e que está em constante estado
de oscilação. Ainda sim, tudo isso tem que se despedaçar e desaparecer. E no
que diz respeito aos agregados mentais – vedanā, saññā, saṅkhāra e viññāṇa
– estes duram por um período de tempo ainda
menor do que a matéria antes que desapareçam.
É preciso
instigarmos paññā em nossos corações
para que a mente não vá a busca de e depois se apegue a todas as coisas que
experimentamos como sendo “minhas”. A mente que consegue fazer isso deixará
temporariamente de lado todas as impressões mentais e não se envolverá com
estas. Isso dá surgimento à vacuidade da identidade, ou à ausência de um “eu”, e
apenas isto é Nibbāna – um fogo extinguido e que agora esfriou. Isso é a cessação, o abandono pelo anseio e desejo por estados
mentais – o não apego.
Mas se
desejarmos pela experiência de Nibbāna e criarmos a expectativa de temos ela
toda a vez, então jamais compreenderemos Nibbāna. Luang Pu Chah sempre
enfatizava que temos que nos desprender de tudo. A coisa mais importante a se
fazer é praticar para se desprender.
Apesar
de não nos desapegarmos de toda a mente e matéria cem por cento (pois isso
seria o nível do arahant), pelo menos
teremos entendimento e insight sobre o fenômeno de mente e matéria. Dependo da
profundidade de nossa investigação, podemos nos desprender até certo ponto do
modo como temos a nossa experiência corriqueira do mundo. Nosso sofrimento
diminuirá, porque estaremos vendo as coisas de acordo com a verdade suprema.
Então
porque o discernimento não surge com regularidade? É porque nossa força e estabilidade em samādhi
(concentração) não é ainda o suficiente. Samādhi é uma firmeza
inabalável do coração. É um coração que tem estabilidade em um único objeto,
seja este a palavra-mantra “buddho”, “dhammo”, “sangho”, a nossa
respiração, ou qualquer objeto que escolhemos. Samādhi fará com que o
coração recolha-se em quietude, mesmo que seja por apenas um instante, para que
possamos ter força para investigar esta forma física, rūpa. Conseguimos
ver que é instável? Temos estudado ela o suficiente para enxergá-la claramente
ou não? Esta fabricação é apenas uma condição natural cuja natureza é oscilar e
mudar. Não há nada de errado ou irregular com ela; de fato, não poderia ser de
outro jeito. Você consegue ver isso?
Este corpo físico tem dor embutido em todos
os cantos como sua condição normal, tem mudança constante e instabilidade como sua natureza, tem velhice como parte inseparável dele, e eventualmente tem que
se despedaçar e desparecer. É apenas isso.
Nascemos neste domínio de seres humanos e
temos uma forma outra vez. Ela deve seguir este processo. Nascido assim em
todos os mundos; em todas as vidas deve ser deste jeito. E não é só para nós
humanos – devatās (seres celestiais) são feitos de saṅkhāras (formações) igualmente.
Eles são compostos por matéria, mas esta é chamada de opapātika, isto é, estes seres renascem
espontaneamente (sem ser gerados em um ventre como seres humanos) em uma forma
material mais sutil. Ainda sim, seus corpos se quebram que nem os nossos. Eles
não podem viver por tempo indeterminado, pois também são parte de saṅkhata-dhātu (o elemento condicional).
Mas há também outro lado disso tudo chamado
de asaṅkhata-dhātu, o elemento não condicionado – isto é Nibbāna. Nibbāna é a realidade. É algo que está aqui, mas que
não podemos localizar em canto algum ou direção alguma. Não é uma destinação em
nenhum mundo convencional, porque é vazio. É vacuidade que não pode ser medida
em tamanho algum. Este estado de vazio não tem lugar definido, não tem cor
alguma, e ainda sim, ali está. É a verdade, bem aqui, - a realidade.
Nibbāna é a única coisa que realmente sempre
esteve aqui porque é a única coisa que é permanente e durável. Ela não muda nem
oscila, porque não tem nenhuma causa como base. Não é nenhum tipo de saṅkhāra, é visaṅkhāra (aquilo que não tem
condições e por isso não muda). Mas está ali, eles co-existem, fabricações e Nibbāna. Quando temos saṅkhāra existindo, visaṅkhāra também deve existir ao
seu lado. Isso é a realidade.
Texto original retirado do livro Sotapattimagga: The Path of the Sotapanna, que é disponibilizado gratuitamente no endereço: http://www.watmarpjan.org/en/pdf/en-SOTA-LOW.pdf
Muito obrigado pela tradução, vc pretende traduzir o livro todo?
ResponderExcluirOi Luciano, com o tempo sim. Vou traduzindo uma coisa aqui, outra artigo ali, até que todos eles estejam traduzidos, ai pretendo juntá-los depois num pdf talvez e disponibilizar aqui.
ResponderExcluirMais uma vez,parabéns Davi pelo otimo trabalho de tradução.Obrigado amigo no Dhamma.
ResponderExcluirBoa!!! =)
ResponderExcluir