quarta-feira, 6 de março de 2013

Praticando Para a Libertação - Nibbāna


Praticando Para a Libertação – Nibbāna

Por

Ajahn Anan Akiñcano

Diversos Tradutores Anônimos do Tailandês Para o Inglês

Tradução do Português

Davi Coêlho

Quando temos um olho que é funcional, um objeto visual e luz, o sentido da visão surge. O obejeto visual contata a base sensorial e manda uma impressão diretamente para o coração. Similarmente, audição, cheiro, paladar, toque e cognição mental surgem diferindo-se apenas no que diz respeito o órgão sensorial e seus correspondentes objetos sendo sentidos. Se esta impressão sensorial vier através do olho, é chamado de cakkhuviññāa (consciência visual), para a orelha é chamado de sota-viññāa (consciência auditiva), o nariz, ghāna-viññāa (consciência olfatória), a língua, jivhā-viññāa (consciência do paladar), o corpo, kāya-viññāa (consciência corporal), e a mente, manoviññāa (consciência mental). Todos estes seis tipos de viññāa (consciência) são da mesma natureza. Eles surgem, persistem e desaparecem. Mas todo este processo ocorre de forma muito veloz.

Quando a mente se agarra à consciência, temos uma sensação de que, “Eu estou vendo” ou “Eu estou ouvindo”. Então nos agarramos às sensações prazerosas ou dolorosas que surgem; isso é vedanā (sensação). Então a mente forma ideias, que são saṅkhāra (formações mentais), e coloca um rótulo nelas, tornado-se saññā (memória e percepção). É assim que os nāmadhammas (agregados mentais) funcionam juntamente. É normal para nós a experiência do mundo nesta forma.

Todas as nossas experiências funcionam neste processo e quanto mais nos agarramos a elas, mais o ciclo de prazer e dor surge. Mas o Buda pediu que parássemos por um instante e que investigássemos este processo separando os khandhas (agregados) e que víssemos os quatro elementos com paññā (discernimento). Fazemos isto para ver claramente como este amontoado de matéria é apenas composto pelos quatro grandes elementos (terra, água, fogo e ar). Não é nada mais do que saṅkhata (fabricações), algo que foi formado em conjunção com outras coisas e que está em constante estado de oscilação. Ainda sim, tudo isso tem que se despedaçar e desaparecer. E no que diz respeito aos agregados mentais – vedanā, saññā, saṅkhāra e viññāa – estes duram por um período de tempo ainda menor do que a matéria antes que desapareçam.

É preciso instigarmos paññā em nossos corações para que a mente não vá a busca de e depois se apegue a todas as coisas que experimentamos como sendo “minhas”. A mente que consegue fazer isso deixará temporariamente de lado todas as impressões mentais e não se envolverá com estas. Isso dá surgimento à vacuidade da identidade, ou à ausência de um “eu”, e apenas isto é Nibbāna – um fogo extinguido e que agora esfriou. Isso é a cessação, o abandono pelo anseio e desejo por estados mentais – o não apego.
Mas se desejarmos pela experiência de Nibbāna e criarmos a expectativa de temos ela toda a vez, então jamais compreenderemos Nibbāna. Luang Pu Chah sempre enfatizava que temos que nos desprender de tudo. A coisa mais importante a se fazer é praticar para se desprender.

Apesar de não nos desapegarmos de toda a mente e matéria cem por cento (pois isso seria o nível do arahant), pelo menos teremos entendimento e insight sobre o fenômeno de mente e matéria. Dependo da profundidade de nossa investigação, podemos nos desprender até certo ponto do modo como temos a nossa experiência corriqueira do mundo. Nosso sofrimento diminuirá, porque estaremos vendo as coisas de acordo com a verdade suprema.

Então porque o discernimento não surge com regularidade? É porque nossa força e estabilidade em samādhi (concentração) não é ainda o suficiente. Samādhi é uma firmeza inabalável do coração. É um coração que tem estabilidade em um único objeto, seja este a palavra-mantra “buddho”, “dhammo”, “sangho”, a nossa respiração, ou qualquer objeto que escolhemos. Samādhi fará com que o coração recolha-se em quietude, mesmo que seja por apenas um instante, para que possamos ter força para investigar esta forma física, rūpa. Conseguimos ver que é instável? Temos estudado ela o suficiente para enxergá-la claramente ou não? Esta fabricação é apenas uma condição natural cuja natureza é oscilar e mudar. Não há nada de errado ou irregular com ela; de fato, não poderia ser de outro jeito. Você consegue ver isso?

Este corpo físico tem dor embutido em todos os cantos como sua condição normal, tem mudança constante e instabilidade como sua natureza, tem velhice como parte inseparável dele, e eventualmente tem que se despedaçar e desparecer. É apenas isso.

Nascemos neste domínio de seres humanos e temos uma forma outra vez. Ela deve seguir este processo. Nascido assim em todos os mundos; em todas as vidas deve ser deste jeito. E não é só para nós humanos – devatās (seres celestiais) são feitos de saṅkhāras (formações) igualmente. Eles são compostos por matéria, mas esta é chamada de opapātika, isto é, estes seres renascem espontaneamente (sem ser gerados em um ventre como seres humanos) em uma forma material mais sutil. Ainda sim, seus corpos se quebram que nem os nossos. Eles não podem viver por tempo indeterminado, pois também são parte de saṅkhata-dhātu (o elemento condicional).

Mas há também outro lado disso tudo chamado de asaṅkhata-dhātu, o elemento não condicionado – isto é Nibbāna. Nibbāna é a realidade. É algo que está aqui, mas que não podemos localizar em canto algum ou direção alguma. Não é uma destinação em nenhum mundo convencional, porque é vazio. É vacuidade que não pode ser medida em tamanho algum. Este estado de vazio não tem lugar definido, não tem cor alguma, e ainda sim, ali está. É a verdade, bem aqui, - a realidade.

Nibbāna é a única coisa que realmente sempre esteve aqui porque é a única coisa que é permanente e durável. Ela não muda nem oscila, porque não tem nenhuma causa como base. Não é nenhum tipo de saṅkhāra, é visaṅkhāra (aquilo que não tem condições e por isso não muda). Mas está ali, eles co-existem, fabricações e Nibbāna. Quando temos saṅkhāra existindo, visaṅkhāra também deve existir ao seu lado. Isso é a realidade.

Texto original retirado do livro Sotapattimagga: The Path of the Sotapanna, que é disponibilizado gratuitamente no endereço: http://www.watmarpjan.org/en/pdf/en-SOTA-LOW.pdf 


4 comentários:

  1. Muito obrigado pela tradução, vc pretende traduzir o livro todo?

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  2. Oi Luciano, com o tempo sim. Vou traduzindo uma coisa aqui, outra artigo ali, até que todos eles estejam traduzidos, ai pretendo juntá-los depois num pdf talvez e disponibilizar aqui.

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  3. Mais uma vez,parabéns Davi pelo otimo trabalho de tradução.Obrigado amigo no Dhamma.

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