Os
Discursos do Buda sobre a Generosidade
Tradução
por
Michael
Beisert
&
Introdução
Quando estamos falando
dos ensinamentos do Buda, não podemos deixar de lado três aspectos bem
importantes destes: kamma, renascimento e planos de existência. Kamma é a
doutrina de que nossas ações geram frutos, resultados. O Buda definiu kamma
como intenção (A.N 6.63); em outras palavras, tendo intencionado, agimos
através da mente, da fala e do corpo. O acúmulo de kamma durante o curso de uma
vida inteira é o que nos leva a renascer vez após vez. Estamos presos em um
ciclo existencial, de nascimento, envelhecimento e morte. As pessoas estão em
contato com isso o tempo todo, mas não percebem a relevância destes três
mensageiros. E dentro deste ciclo de renascimentos, temos os diferentes mundos
ou planos no qual o fluxo de consciência pode renascer. Aqui mesmo em nossa
terra vemos dois destes – o plano humano e o plano dos animais. Fora estes, o
Buda havia declarado que existem outros mais do que nossa vã concepção de mundo
possa imaginar.
É dentro deste contexto
que devemos enxergar a importância da generosidade. O objetivo final de nossa
jornada como budistas é eventualmente sair destes ciclos de morte e
renascimento, repletos de sofrimento e insatisfação. O Buda traçou três coisas
para seus seguidores leigos cultivarem, para que possam avançar nesta jornada –
generosidade, virtude e a prática da meditação. Uma pessoa avara, mesquinha,
por exemplo, não consegue progredir na meditação devido ao fato de sua mente
estar suja com a mancha do egoísmo.
Lembro-me muito bem da
primeira vez que estava lendo estes suttas e a impressão que eles causaram em
mim. Foi numa madrugada de Novembro de 2012, e era um study-guide (guia de estudos) feito pelo Ven. Thanissaro Bhikkhu. Muitos
dos suttas que estavam naquele study-guide
estão aqui também, com a inclusão de alguns outros que não aparecem na coleção
feita por ele. Espero que esta coletânea possa exercer o mesmo efeito na mente
dos leitores que exerceu na minha, isto é, a de nos inspirarmos a sermos generosos.
Logo quando iniciei
meus estudos dos suttas eu estava mais interessado no lado que pode ser mais
atraente para a maioria das pessoas à primeira vista – a recompensa e promessa
de um bom renascimento, seja neste mundo ou num mundo celestial. Afinal, quem
não gostaria disso, e se para isso basta fazer ações generosas, porque não
tentar? O que eu teria a perder com isso? Não muito, não é como se eu fosse
doar coisas que iriam me fazer falta. Eu já havia trabalhado com ações sociais
antes quando frequentava o centro espírita de minha cidade natal. Lá eles fazem
a Campanha do Quilo no primeiro Domingo de todo mês. Coletam alimentos para
doarem para pessoas de áreas carentes que vão até lá pegarem uma cesta básica
que montamos a partir das doações que recebemos das pessoas. E naquele tempo eu
participava disso sem a intenção ou conhecimento de que tal tipo de ação
poderia me levar a um rumo mais feliz ainda nesta vida ou na próxima – e minha
mente se alegrava (como ainda se alegra) ao fazer este tipo de serviço. Então
porque não se sentir mais motivado ainda tendo fé de que há bons resultados
para este tipo de ação?
Bem, com o passar do
tempo meu conhecimento acerca do Dhamma foi amadurecendo e fui refletindo mais
a respeito – a vida dos seres humanos é curta, quem tem sorte vai além dos cem
anos, mas geralmente em condições debilitadas. E a própria vida dos seres
celestiais, por mais longa que seja, e por mais alegre e bem aventurada também,
é igualmente impermanente, chega a um fim assim como a dos seres humanos. Então
eu refletia, “Não há segurança nem mesmo no mundo dos devas e não é possível
prever o curso de renascimento dos seres, se irão nascer em uma boa destinação
ou em uma má”. Os suttas dizem que só há uma forma de se garantir bons
renascimentos apenas, até o momento em que eventualmente iremos deixar o
Samsara – e isto é, tornar-se um Sotapanna ou Alguém que Entrou na Correnteza
(que conduz até Nibbana). Desde então toda e qualquer boa ação que faço é com a
intenção (kamma) de que eu possa desfrutar deste grande mérito de que minha
mente entre na correnteza nesta vida ainda.
É importante que
mantenhamos este senso de urgência em nossos corações, sobre a incerteza da
vida, a certeza da morte e a incerteza sobre onde iremos renascer futuramente e
estarmos nos perguntando – que estamos fazendo para adiantar nosso progresso?
Tal senso é o que nos motiva primeiramente a realizarmos ações hábeis. A
prática da generosidade dentro deste contexto assume fundamental importância
para nós. A bondade que praticamos não é perdida, e o Buda nos promete que cedo
ou tarde iremos sempre receber os frutos dela. Para aqueles que se esforçam por
realizar o Dhamma aqui mesmo nesta vida, ela é um fator crucial para nosso
progresso rumo ao fim do sofrimento. Portanto, espero que todos possam tirar
bons proveitos destas leituras e que possamos fazer o bem aos outros, não só
com uma mente que esteja almejando as recompensas e frutos destas boas ações,
mas sim com uma mente que se inclina a cada vez mais se desprender até alcançar
a Outra Margem – Nibbana.
– Davi Coêlho,
26 de Janeiro,
2014.
Agradecimento
Gostaria de agradecer a
permissão concedida por Michael Beisert do Acesso ao Insight por ter deixado
reproduzir as traduções por ele feitas aqui nesta coletânea. Os suttas que
foram retirados de seu website foram:
- Do Samyutta Nikaya: 1.41, 3.24,
- Do Anguttara Nikaya: 5.31, 5.35, 5.36, 5.148, 6.37,
7.49, 10. 177,
- Do Itivuttaka: 26
Fonte: http://acessoaoinsight.net/
As traduções feitas por mim foram as seguintes:
- Do Samyutta Nikaya: 1.42, 1.75, 3.20, 42.9
- Do Anguttara Nikaya: 3.57, 5.37, 9.20
- Do Itivuttaka: 75, 98
Fonte: http://www.accesstoinsight.org/
I
Aquele
que pratica a generosidade não deve temer o rumo de seu próximo renascimento:
“Por
que tantas pessoas aqui estão temerosas
Quando
o caminho foi ensinado com tantas bases?
Eu
lhe pergunto, Oh Gotama, amplo em sabedoria:
Sobre
o que nos devemos apoiar
Para
não temermos o próximo mundo?”
“Tendo
direcionado a fala e mente corretamente,
A
não realização de más ações com o corpo,
Habitando
o lar com comida e bebida ampla,
Dotado
de fé, gentil, generoso, amigável:
Quando
alguém se apoia sobre estas quatro coisas,
Não
se deve temer o próximo mundo.”
-
Samyutta Nikaya 1.75
II
Não
se arrependa da generosidade que você pratica:
Em Savatthi. Então o Rei Pasenadi Kosala foi até o Abençoado no meio do dia e, ao chegar, tendo se prostrado diante do Abençoado, sentou-se de um lado. Conforme ele estava se sentando ali o Abençoado disse a ele, “Bem, agora, grande rei, de onde está vindo ao meio do dia?”
“Agora pouco, senhor, um banqueiro dono de casa
morreu em Savatthi. Eu venho da confiscação de sua fortuna sem herdeiros para o
palácio real: dez milhões em prata, para não dizer nada do ouro. Mas mesmo ele
tendo sido um banqueiro dono de casa, seu desfrute de comida era assim: ele
comia arroz quebrado e picles em salmoura. Seu desfrute de roupas era assim:
ele vestia três comprimentos de pano de cânhamo. Seu desfrute de veículo era
assim: ele dirigia uma carruagem dilapidada com um toldo de folhas.”
“Deveras assim é, grande rei. Deveras assim é. Certa
vez no passado este banqueiro dono de casa proveu esmolas para o Paccekabuddha
chamado Tagarasikhi. Dizendo [para seu servo], ‘Dê esmolas para o
contemplativo,’ ele se levantou de seu assento e foi embora. Depois de ter
dado, porém, ele sentiu remorso: ‘Teria sido melhor se meus escravos ou servos
tivessem comido aquelas esmolas.’ E ele também assassinou o único herdeiro de
seu irmão para ficar com sua fortuna. Agora, como resultado dessa ação por ter
provido esmolas para o Paccekabuddha chamado Tagarasikhi foi que ele renasceu
sete vezes em uma boa destinação, o mundo celestial. E pelo resultado
remanescente daquela ação ele agiu como um banqueiro sete vezes nesta mesma
Savatthi. Mas o resultado de sua ação em ter sentido remorso após ter dado
aquelas esmolas – ‘Teria sido melhor se
meus escravos ou servos tivessem comido aquelas esmolas’ – foi que sua mente
não se inclinou para o luxuoso desfrute de comida, não se inclinou para o
luxuoso desfrute de roupas, não se inclinou para o luxuoso desfrute de veículos,
não se inclinou para o luxuoso desfrute das cinco correntes de sensualidade. O
resultado de sua ação em ter assassinado o único herdeiro de seu irmão para
ficar com sua fortuna foi que ele ferveu no inferno por muitos anos, muitas
centenas de anos, muitos milhares de anos, muitas centenas de milhares de anos.
E pelo resultado remanescente dessa ação ele deixou esta sétima fortuna sem
herdeiro para a tesouraria real.
“Agora, por causa do fim do antigo mérito daquele
banqueiro dono de casa e por sua não acumulação de novo mérito, ele hoje está sendo
fervido no Grande Inferno de Roruva.”
“Então ele renasceu no Grande Inferno de Roruva,
senhor?”
“Sim, grande rei. Ele
reapareceu no Grande Inferno de Roruva.”
Isso foi o que o Abençoado disse. Tendo dito isso,
o Bem-Aventurado, o Mestre, disse mais:
“Grão, riqueza, ouro,
ou qualquer outros pertences que você tenha;
escravos, servos, mensageiros,
e qualquer dependentes:
você irá sem levar nenhum deles;
deverá deixar todos para trás.
O que você faz com o corpo,
fala e mente:
isso lhe pertence,
levando isso consigo você vai,
isso é o que lhe segue
como uma sombra que nunca lhe deixa.
Portanto deves fazer o que é bom
como um acúmulo para a vida futura.
Atos de mérito são o suporte para os
seres
ao renascerem no outro mundo.”
-
Samyutta
Nikaya 3.20
III
Se
as pessoas apenas soubessem os benefícios de ser generoso:
Isto foi dito pelo Abençoado, dito
pelo Arahant, assim ouvi: “Se os seres soubessem, como eu sei, os resultados de
dar e compartir, eles não comeriam sem antes ter dado, nem permitiriam que a
mácula do egoísmo tome conta das suas mentes. Mesmo se fosse o seu último
bocado, a sua última mordida, eles não comeriam sem ter compartido, se houvesse
alguém com quem compartir. Mas porque os seres não sabem, como eu sei, os
resultados de dar e compartir, eles comem sem ter dado. A mácula do egoísmo
toma conta das suas mentes.”
Se os seres soubessem
aquilo que o Grande Sábio disse,
que o resultado da generosidade
produz tão grande fruto,
então, subjugando a mácula do egoísmo
com a mente luminosa,
eles dariam no momento apropriado
para os nobres,
onde uma oferenda produz grandes frutos.
aquilo que o Grande Sábio disse,
que o resultado da generosidade
produz tão grande fruto,
então, subjugando a mácula do egoísmo
com a mente luminosa,
eles dariam no momento apropriado
para os nobres,
onde uma oferenda produz grandes frutos.
Tendo dado comida
como uma oferenda
para aqueles dignos de oferendas,
muitos doadores,
quando aqui falecem,
do estado humano,
vão
para o paraíso.
como uma oferenda
para aqueles dignos de oferendas,
muitos doadores,
quando aqui falecem,
do estado humano,
vão
para o paraíso.
Eles, tendo ido para
o paraíso,
se regozijam,
desfrutando dos prazeres sensuais,
sem egoísmo, eles
participam do resultado
da generosidade.
o paraíso,
se regozijam,
desfrutando dos prazeres sensuais,
sem egoísmo, eles
participam do resultado
da generosidade.
-
Itivuttaka
26
IV
Quais
as intenções por trás de se dar um presente, e quais os resultados:
Ouvi que em certa ocasião o
Abençoado estava em Campa, às margens do lago Gaggara. Então um grande grupo de
discípulos leigos de Campa foram até o Venerável Sariputta e, quando chegaram,
depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e disseram:
"Já faz muito tempo, venerável
senhor, desde que tivemos a oportunidade de ouvir um discurso do Dhamma na
presença do Abençoado. Seria bom se pudéssemos ouvir um discurso do Dhamma na
presença do Abençoado."
"Então nesse caso, meus
amigos, retornem no próximo dia de Uposatha, e talvez vocês possam ouvir um
discurso do Dhamma na presença do Abençoado."
"Assim seja, venerável
senhor," os discípulos leigos de Campa disseram para o Venerável
Sariputta. Levantando-se dos seus assentos, e depois de homenageá-lo, mantendo-o
à sua direita, partiram. Então no próximo dia de Uposatha, os discípulos leigos
de Campa foram até o Venerável Sariputta e, tendo chegado, depois de
cumprimentá-lo, ficaram em pé a um lado. Então o Venerável Sariputta,
juntamente com os discípulos leigos de Campa, foram até o Abençoado e chegando,
depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e o Venerável Sariputta disse para
o Abençoado:
"Pode haver o caso em que uma
pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e
grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e
ela produz grandes frutos e grandes benefícios?"
"Sim, Sariputta, há o caso em
que uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos
e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e
ela produz grandes frutos e grandes benefícios."
"Senhor, qual é a causa, qual
é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz
grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda
do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios?"
"Sariputta, há o caso em que a
pessoa dá uma oferenda buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à
recompensa], pensando em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a
desfrutarei após a morte.' Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um
veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma
lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta?
Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"
"Sim, senhor."
"Tendo dado essa oferenda
buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à recompensa], pensando
em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a
morte.' - na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas
dos Quatro Grandes Reis. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele
status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.
"Então há o caso em que a
pessoa dá uma oferenda sem buscar seu próprio benefício, sem a mente apegada [à
recompensa], não pensando em acumulá-la para si mesma nem [com o pensamento],
'Eu a desfrutarei após a morte.' Ao invés disso, ela dá uma oferenda com o
pensamento ‘A generosidade é boa.’ Ela dá uma oferenda - comida, bebida,
roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia,
uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa,
Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"
"Sim, senhor."
"Tendo dado essa oferenda com
o pensamento, ‘A generosidade é boa,’ na dissolução do corpo, após a morte, ela
renasce no mundo dos devas do Tavatimsa. Então tendo esgotado aquela ação,
aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este
mundo.
"Ou, ao invés de pensar ‘A
generosidade é boa’ ela dá a oferenda com o pensamento, 'Isto foi dado no
passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria correto que eu
permitisse que esse antigo costume da família fosse descontinuado' ... na
dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Yama.
Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela
soberania, ela retorna, voltando a este mundo.
"Ou, ao invés de pensar ...
ela dá uma oferenda com o pensamento, ‘Eu sou próspero. Eles não são prósperos.
Não seria correto, que em sendo eu próspero, não desse uma oferenda para
aqueles que não são prósperos ... na dissolução do corpo, após a morte, ela
renasce no mundo dos devas do Tusita. Então tendo esgotado aquela ação, aquele
poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.
"Ou, ao invés de pensar … ela
dá uma oferenda com o pensamento ‘Tal como no passado houve o sacrifício dos
sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa,
Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da mesma forma essa será a minha
distribuição de oferendas’ ... na dissolução do corpo, após a morte, ela
renasce no mundo dos devas Nimmanarati. Então tendo esgotado aquela ação,
aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este
mundo.
"Ou, ao invés de pensar … ela
dá uma oferenda com o pensamento, ‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha
mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ... na
dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas
Paranimmita-vasavatti. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele
status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo.
"Ou, ao invés de pensar
‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena
confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ela dá uma oferenda com o
pensamento ‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ Ela dá
uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e
ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um
contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda
como essa?"
"Sim, senhor."
"Tendo dado isso, sem buscar
seu próprio benefício, nem com a mente apegada [à recompensa], pensando em
acumulá-la para si mesmo [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.'
" – nem com o pensamento, 'A
generosidade é boa,’
" – nem com o pensamento,
'Isto foi dado no passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria
correto que eu permitisse que esse antigo costume da família fosse
descontinuado,'
" – nem com o pensamento, ‘Eu
sou próspero. Eles não são prósperos. Não seria correto, em sendo eu próspero,
não desse uma oferenda para aqueles que não são prósperos,'
" – nem com o pensamento, ‘Tal
como no passado houve o sacrifício dos sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva,
Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da
mesma forma essa será a minha distribuição de oferendas,’
" – nem com o pensamento,
‘Quanto esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena
confiança. Surgem a satisfação e a alegria,’
" – porém com o pensamento,
‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ - na dissolução do
corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Cortejo de Brahma. Então
tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela
não retorna. Ela não retornará a este mundo.
"Essa, Sariputta, é a causa,
essa é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e não
resulta em grandes frutos ou grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá
uma oferenda do mesmo tipo e resulta em grandes frutos e grandes
benefícios."
- Anguttara Nikaya 7.49
V
Quais
os resultados para uma pessoa que faz a caridade conscientemente:
"Bhikkhus, há
cinco benefícios da generosidade. Quais cinco? (1) A pessoa é estimada pelas
pessoas em geral. (2) A pessoa tem pessoas verdadeiras como companheiros. (3)
Ela desfruta de boa reputação. (4) A pessoa não se esquiva das
responsabilidades de um chefe de família. (5) Na dissolução do corpo após a
morte, ela renasce num destino feliz, no paraíso."
- Anguttara Nikaya 5.35
* * *
“Bhikkhus, há essas cinco oferendas
de uma pessoa verdadeira¹. Quais cinco? Uma pessoa verdadeira dá
uma oferenda com base na fé; ela dá uma oferenda respeitosamente; ela dá uma
oferenda no momento apropriado; ela dá uma oferenda com o coração empático; ela
dá uma oferenda sem afetar de modo adverso a si mesma ou os outros.
“Porque ela dá uma oferenda com
base na fé, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica
e afluente, com muita riqueza, e ela será bela, atraente, graciosa, com a
complexão de uma flor de lótus.
“Porque ela dá uma oferenda
respeitosamente, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna
rica e afluente, com muita riqueza. E os seus filhos, esposas, escravos,
serviçais e empregados lhe dão ouvidos com atenção, são obedientes e a atendem
com o coração compreensivo.
“Porque ela dá uma oferenda no
momento apropriado, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se
torna rica e afluente, com muita riqueza. E os seus objetivos são realizados no
momento apropriado.
“Porque ela dá uma oferenda com o
coração empático, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se
torna rica e afluente, com muita riqueza. E a sua mente se inclina pelo gozo de
excelentes prazeres dos sentidos.
“Porque ela dá uma oferenda sem
afetar de modo adverso a si mesma ou os outros, onde quer que o fruto daquela
oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E de onde
quer que seja não ocorre perda da sua riqueza, quer seja através do fogo, da
água, de reis, de ladrões ou de parentes detestáveis.
“Essas são as oferendas de uma
pessoa verdadeira.”
-
Anguttara
Nikaya 5.148
Nota:
1. Sappurisa:
uma pessoa com bom caráter, uma pessoa digna. Essa palavra é algumas vezes,
embora não sempre, empregada quase como um sinônimo para ariya, um
nobre.
VI
Não seja como uma nuvem que não chove:
Isso foi dito pelo
Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Estes três tipos de pessoas
podem ser encontradas existindo no mundo. Quais três? Uma é como uma nuvem sem
chuva, outra é como uma que chove localmente, e outra é como uma que chove em
todos os lugares.
“E como é que uma pessoa
é como uma nuvem sem chuva? Há o caso onde uma pessoa não é um doador de
comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas,
moradias ou de lâmpadas para nenhum brâmane ou contemplativo, para nenhum
miserável, sem-teto ou mendigo. É assim como uma pessoa é como uma nuvem sem
chuva.
“E como é que uma pessoa
é como uma nuvem que chove localmente? Há o caso em que uma pessoa é um doador
de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas,
moradias e lâmpadas para alguns brâmanes e contemplativos, para alguns dos
miseráveis, sem tetos e mendigos, mas não para outros. É assim que uma pessoa é
como uma nuvem que chove localmente.
“E como é que uma pessoa
é como uma nuvem que chove em todos os lugares? Há caso onde uma pessoa é um doador de comida,
bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias e
lâmpadas para todos os brâmanes e contemplativos, para todos os miseráveis, sem
tetos e mendigos. É assim que uma pessoa é como uma nuvem que chove em todos os
lugares.
“Estes são os três tipos de pessoas que podem ser
encontradas existindo no mundo.”
Não para
contemplativos,
para
brâmanes,
para os
miseráveis,
nem para
os sem tetos
ele
divide aquilo que ganhou:
comida,
bebida,
nutrimento.
Ele, o
mais baixo de todas as pessoas,
é chamado de nuvem sem chuva.
Para
alguns ele doa,
para
outros não:
os inteligentes o chamam
de alguém que chove localmente.
Uma
pessoa responsiva a pedidos,
complacente
para com todos os seres,
deleitando-se
em distribuir esmolas:
“Dê a eles!
Dê!”
ele diz.
Como uma
nuvem – retumbante, trovejante – chove,
enchendo
com água, encharcando os platôs e ravinas:
uma pessoa desse tipo
é assim.
Tendo
acumulado
riquezas
obtidas através de sua iniciativa,
ele
satisfaz inteiramente com comida e bebida
aqueles
que caíram no estado de sem-teto.
-
Itivuttaka 75
VII
Todas as famílias que hoje vivem em abundância,
vivem devido ao fato de terem sido generosas em vidas prévias:
Em certa ocasião o Abençoado, enquanto caminhava
entre os Kosalas juntamente com uma
grande comunidade de monges, chegou à Nalanda. Ali ele ficou em Nalanda no Bosque
das Mangueiras de Pavarika.
Agora naquele tempo Nalanda estava no meio de uma
grande fome, em uma época de escassez, as lavouras brancas com crestamento e reduzidas a palha. E naquele tempo Nigantha Nataputta estava habitando em
Nalanda juntamente com uma grande companhia de niganthas. Então
Asibandhakaputta o chefe, um discípulo dos niganthas, foi até Nigantha
Nataputta e, ao chegar, tendo se prostrado diante dele, sentou-se a um lado.
Conforme ele estava se sentando ali, Nigantha Nataputta disse a ele, “Venha,
agora, chefe. Refute as palavras de Gotama o contemplativo, e essa maravilhosa
notícia se espalhará ao seu respeito: ‘As palavras de Gotama o contemplativo – tão
forte, tão poderoso – foram refutadas por Asibandhakaputta o chefe! ’”.
“Mas como, venerável senhor, irei refutar as
palavras de Gotama o contemplativo – tão forte, tão poderoso?”
“Venha agora, chefe. Vá até Gotama o contemplativo
e diga isto ao chegar lá: ‘Venerável senhor, o Abençoado em muitos modos não
louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?’ Se Gotama o contemplativo,
assim questionado, responder, ‘Sim chefe, o Tathagata em muitos modos louva a
bondade, proteção e simpatia por famílias,’ então você deve dizer, ‘Então
porque, venerável senhor, o Abençoado, juntamente com uma grande comunidade de
monges, está caminhando por volta de Nalanda durante uma época de fome, uma
época de escassez, quando as lavouras estão brancas com crestamento e reduzidas a palha? O Abençoado está praticando para o arruinamento das
famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está
praticando para a queda das famílias.’ Quanto Gotama o contemplativo for
questionado com essa pergunta de duas vertentes por ti, ele não será capaz de
engoli-la ou de botá-la para fora.”
Respondendo, “Como quiser, venerável senhor,”
Asibandhakaputta o chefe levantou-se de seu assento, prostrou-se diante de
Nigantha Nataputta, circundou-o, e então foi até o Abençoado. Ao chegar, ele
prostrou-se diante do Abençoado e sentou-se de um lado. Conforme ele estava se
sentando, ele disse ao Abençoado, “Venerável senhor, o Abençoado em muitos
modos não louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?”
“Sim chefe, o Tatathagata em muitos modos louva a
bondade, proteção e simpatia por famílias.”
“Então porque, venerável senhor, o Abençoado,
juntamente com uma grande comunidade de monges, está caminhando por volta de
Nalanda durante uma época de fome, uma época de escassez, quando as lavouras
estão brancas com crestamento e reduzidas a palha? O Abençoado está
praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o
fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda das famílias.”
“Chefe, recordando-me de 91 éons, eu não conheço
nenhuma família que tenha sido trazida à ruína através da doação de esmolas
cozidas. Pelo contrário: quaisquer famílias que hoje são ricas – com muita
opulência, muitas posses, uma grande quantia de dinheiro, um grande acúmulo de
riqueza, e muitas comodidades – todas se tornaram assim a partir da
generosidade, da verdade, do refreamento.
“Chefe, há oito causas, oito motivos para a queda
das famílias. Famílias vão para seu fim por causa de reis, ou famílias vão para
o seu fim por causa de ladrões, ou famílias vão para seu fim por causa de fogo,
ou famílias vão para seu fim por causa de enchentes, ou seus tesouros guardados
desaparecem, ou seus empreendimentos são mal administrados, ou na família nasce
um vagabundo que esbanja, espalha e espatifa sua fortuna, e a impermanência é a
oitava. Estas são as oito causas, os oito motivos para a queda das famílias.
Agora, quando estas oito causas, estes oito motivos são encontrados, se alguém
disser de mim, ‘O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O
Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando
para a queda das famílias’ – sem abandonar esta afirmação, sem ter abandonado
esta intenção, sem ter descartado esta opinião – então é como se ele fosse
arrastado, ele assim seria posto no inferno.”
Quando isso foi dito, Asibandhakaputta, o chefe,
disse para o Abençoado: “Magnífico, senhor! Magnífico! Assim como se ele
tivesse virado pra cima o que estava de cabeça para baixo, revela-se o que
estava escondido, mostra-se o caminho para alguém que estava perdido, ou
carregasse uma lâmpada no escuro para aqueles com olhos poderem enxergar, da
mesma maneira tem feito o Abençoado – através de muitas linhas de raciocínio –
o Dhamma claro. Eu vou ao Buda para refúgio, ao Dhamma e à comunidade de
monges. Que possa o Abençoado se lembrar de mim como um seguidor leigo que foi
a ele para refúgio deste dia em diante, para vida toda.”
- Samyutta Nikaya 42.9
VIII
A
vida é incerta, a morte é uma certeza. Sabendo assim, não devemos negligenciar
a oportunidade de sermos generosos:
Assim ouvi. Em certa ocasião, o
Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika.
Então, quando a noite estava bem avançada, certa devata com belíssima aparência
que iluminou todo o Bosque de Jeta, se aproximou do Abençoado. Ao se aproximar
ela homenageou o Abençoado e ficando em pé a um lado a devata disse:
“Quando
a casa está em chamas
o balde removido
é aquele que é útil,
não aquele que foi deixado para queimar lá dentro.
o balde removido
é aquele que é útil,
não aquele que foi deixado para queimar lá dentro.
“Portanto,
quando o mundo arde
com [as chamas] do envelhecimento e morte,
ele deveria remover [sua riqueza] sendo generoso:
aquilo que é dado está bem salvo.
com [as chamas] do envelhecimento e morte,
ele deveria remover [sua riqueza] sendo generoso:
aquilo que é dado está bem salvo.
“Aquilo
que é dado produz bons frutos,
mas não aquilo que não é dado.
Ladrões ou reis roubam-no,
é queimado pelo fogo ou perdido.
mas não aquilo que não é dado.
Ladrões ou reis roubam-no,
é queimado pelo fogo ou perdido.
“Então,
no final ele deixa o corpo
junto com as suas posses.
Ao compreender isso, a pessoa sábia
deve desfrutar e também dar.
Ao dar e desfrutar de acordo com os seus meios,
inculpável ela segue para o paraíso.”
junto com as suas posses.
Ao compreender isso, a pessoa sábia
deve desfrutar e também dar.
Ao dar e desfrutar de acordo com os seus meios,
inculpável ela segue para o paraíso.”
- Samyutta Nikaya 1.41
IX
Cinco coisas que uma
pessoa generosa dá, e cinco coisas que ela recebe:
“Ao dar uma refeição, o doador dá cinco coisas a
quem recebe. Quais cinco? Ele ou ela dá vida, beleza, felicidade, força e
rapidez de raciocínio. Tendo dado vida, ele ou ela tem uma cota em longa vida,
seja humana ou divina. Tendo dado beleza, ele ou ela tem uma cota em beleza,
seja humana ou divina. Tendo dado felicidade, ele ou ela tem uma cota em felicidade,
seja humana ou divina. Tendo dado força, ele ou ela tem uma cota em força, seja
humana ou divina. Tendo dado rapidez de raciocínio, ele ou ela tem uma cota em
rapidez de raciocínio, seja humano ou divino. Ao dar uma refeição, o doador dá
estas cinco coisas a quem recebe.”
A pessoa
prudente dando vida, força,
beleza, rapidez de raciocínio –
a pessoa
sábia, uma doadora de felicidade,
alcança a felicidade ela mesma.
Tendo
dado vida, força, beleza,
felicidade, rapidez de raciocínio,
ela tem
longa vida e status
onde quer que ela renasça.
- Anguttara Nikaya 5. 37
X
Os momentos propícios
para dar um presente ou oferenda:
“Existem essas cinco oferendas
oportunas. Quais cinco? Alguém dá para um recém-chegado. Alguém dá para quem
vai partir. Alguém dá para quem esteja enfermo. Alguém dá em época de fome.
Alguém dá os primeiros frutos do campo e do pomar para aqueles que são virtuosos.
Essas são as cinco oferendas oportunas.”
Na época oportuna eles dão -
aqueles com sabedoria,
responsivos, livres da avareza.
Tendo dado na época oportuna,
com os corações inspirados pelos Nobres
- eretos, Assim -
as suas oferendas produzem abundância.
Aqueles que se regozijam com essa oferenda
ou dão assistência,
eles, também, compartem do mérito,
e a oferenda não fica esgotada por isso.
Assim, com a mente sem hesitação
a pessoa deve dar onde a oferenda produz bons frutos.
aqueles com sabedoria,
responsivos, livres da avareza.
Tendo dado na época oportuna,
com os corações inspirados pelos Nobres
- eretos, Assim -
as suas oferendas produzem abundância.
Aqueles que se regozijam com essa oferenda
ou dão assistência,
eles, também, compartem do mérito,
e a oferenda não fica esgotada por isso.
Assim, com a mente sem hesitação
a pessoa deve dar onde a oferenda produz bons frutos.
Mérito é o que estabelece
os seres na próxima vida.
os seres na próxima vida.
- Anguttara Nikaya 5.36
XI
Toda generosidade é uma fonte de mérito, porém,
algumas ações geram mais mérito do que outras:
Então Vacchagotta o viajante foi até o Abençoado e,
tendo chegado, trocou comprimentos cortês com ele. Após uma troca de
comprimentos amigáveis e cortesias, ele se sentou de um lado. Conforme ele
estava se sentando, ele disso ao Abençoado: “Mestre Gotama, eu tenho ouvido que
‘Gotama o contemplativo diz isso: “Apenas para mim uma oferenda deve ser dada,
e não para outros. Apenas para meus discípulos uma oferenda deve ser dada, e a
não para outros. Apenas o que é dado a mim gera grande fruto, e não aquilo que
é dado aos outros. Apenas o que é dado para meus discípulos gera grande fruto,
e não o que é dado para os discípulos de outros.’ Agora aqueles que dizem isso:
eles estão relatando as verdadeiras palavras do Mestre Gotama, ou eles estão
deturpando-o com o que é falso, eles estão respondendo em linha com o Dhamma,
para aqueles cujo pensamento estão em linha com o Dhamma não terão base para
criticá-los? Pois não queremos deturpar o Mestre Gotama.”
“Vaccha, quem quer que seja que diga isso: ‘Gotama
o contemplativo diz isso: “Apenas para mim uma oferenda deve ser dada, apenas o
que é dado para meus discípulos gera grande fruto e não o que é dado para os
discípulos de outros,”’ não está relatando minhas verdadeiras palavras, está me
deturpando com o que é falso e não fatual.
“Vaccha, quem quer que seja que impeça alguém de
dar um presente cria três obstruções, três impedimentos. Quais três? Ele cria
uma obstrução para o mérito do doador, uma obstrução para o ganho de quem
recebe, e além disso ele causa dano e prejuízo a si mesmo. Qualquer pessoa que
impeça alguém de dar um presente cria estas três obstruções, estes três
impedimentos.
“Eu lhe digo, Vaccha, mesmo que uma pessoa jogue os
restos [de comida] de uma tigela ou copo no lago ou rio de uma vila, pensando,
‘Que quaisquer animais que aqui vivam se alimentem disso’, isso em si já seria
uma fonte de mérito, sem dizer nada daquilo que é dado para seres humanos. Mas
eu digo sim que aquilo que é dado para uma pessoa virtuosa gera grandes
frutos, e não tanto aquilo que é dado para uma pessoa que não é virtuosa. E a
pessoa virtuosa abandonou cinco fatores e é dotada de outros cinco.
“Quais
cinco ela abandonou? Ela abandonou desejo sensual, raiva, preguiça e torpor,
agitação e ansiedade, incerteza. Estes são os cinco fatores que ela abandonou.
E com quais cinco ela é dotada? Ela é dotada com o agregado de virtude de
alguém que está além do treinamento, o agregado da concentração de alguém que
está além do treinamento, o agregado de discernimento de alguém que está além
do treinamento, o agregado da libertação de alguém que está além do treinamento,
o agregado de conhecimento e visão da libertação de alguém que está além do
treinamento. Estes são os cinco fatores com os quais ela é dotada.
“Eu lhe
digo: aquilo que é dado para alguém que abandonou estes cinco fatores e é
dotado com estes outros cinco, gera grande fruto.
“Em um
rebanho de gado,
seja preto, branco,
ruivo, marrom,
manchado ou uniforme,
ou cinza:
se um boi
ali nasce –
domado, resistente,
consumado em força,
e veloz –
as
pessoas o jugam a fardos,
não
importa a sua cor.
Da mesma
forma,
onde quer
que alguém nasça,
entre
seres humanos –
nobres guerreiros, brâmanes,
comerciantes, trabalhadores,
exilados ou catadores –
se ele
for domado, com boas práticas,
reto,
consumado em virtude,
alguém
que fala a verdade, com consciência em seu coração,
alguém
que
abandonou o nascimento e morte,
que tenha
completado a vida santa,
retirado
de si o fardo,
realizado
a tarefa,
livre de fermentações,
indo além
de todos os dhammas [fenômenos],
liberto
através da ausência de apego:
oferendas feitas a este campo imaculado
geram uma grande abundância de frutos.
Mas os
tolos, ignorantes,
lentos,
desinformados,
dão
oferendas pra fora
e não
chegam perto dos bons
- considerados como iluminados,
sábios –
aqueles
cuja confiança no Tathagata
consolidou suas raízes,
está estabelecida e firme:
estes vão
para o mundo dos devas
ou
renascem em uma boa família aqui.
Passo a passo
eles alcançam
o Desatar:
aqueles que são sábios.”
- Anguttara Nikaya 3. 57
* * *
Em Savatthi. Sentado a um lado, o rei Pasenadi de
Kosala disse para o Abençoado:
“Onde, venerável senhor, deve uma oferenda ser
dada?”
“Em qualquer lugar em que a mente sinta confiança,
grande rei.”
“Mas uma oferenda dada onde, senhor, resulta em
grandes frutos?”
“Esta [questão] é uma coisa, grande rei - ‘Onde
deve uma oferenda ser dada?’ - enquanto essa - ‘Onde é que uma oferenda dada resulta
em grandes frutos’ - é algo totalmente diferente. O que é dado a uma pessoa
virtuosa - ao invés de a uma pessoa não virtuosa - resulta em grandes frutos.”
Neste caso, grande rei, eu lhe farei uma contra pergunta. Responda como quiser.
“O que você pensa, grande rei?
Suponha que você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. E um jovem
khattiya se aproximasse – sem treinamento, sem prática, indisciplinado,
temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o aceitaria? Você teria
como aproveitar um homem como esse?”
“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não
teria como aproveitar um homem como esse.”
“Então, um jovem brâmane … um jovem comerciante …
um jovem trabalhador se aproximasse – sem treinamento, sem prática,
indisciplinado, temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o
aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?
“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não
teria como aproveitar um homem como esse.”
“Agora, o que você pensa, grande rei? Suponha que
você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. Um jovem khattiya se
aproximasse – treinado, com prática, disciplinado, destemido, corajoso, pronto
para defender seu posto. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem
como esse?”
“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria
como aproveitar um homem como esse.”
“Então um jovem brâmane … um jovem comerciante … um
jovem trabalhador se aproximasse – treinado, com prática, disciplinado,
destemido, corajoso, pronto para defender seu posto. Você o aceitaria? Você
teria como aproveitar um homem como esse?”
“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria
como aproveitar um homem como esse.”
“Da mesma forma, grande rei. Quando alguém
abandonou a vida em família e seguiu a vida santa – não importando o seu clã –
e ele abandonou cinco fatores e está dotado de cinco fatores, aquilo que lhe é
dado resulta em grandes frutos.
“E quais são os cinco fatores que
ele abandonou? Ele abandonou o desejo sensual ... má vontade ... preguiça e
torpor ... inquietação e ansiedade ...e dúvida. Esses são os cinco fatores que
ele abandonou. E quais são os cinco fatores dos quais ele está
dotado? Ele está dotado do agregado da virtude de alguém que está mais além do
treinamento ... do agregado da concentração de alguém que está mais além do
treinamento ... do agregado da sabedoria de alguém que está mais além do
treinamento ... do agregado da libertação de alguém que está mais além do
treinamento ... do agregado do conhecimento e visão da libertação de alguém que
está mais além do treinamento. Esses são os cinco fatores dos quais ele está
dotado.
“Aquilo que é dado para aquele que abandonou cinco
fatores e está dotado de cinco fatores resulta em grandes frutos.”
Isso foi o que o Abençoado disse. Dito isso, o
Iluminado, o Mestre disse ainda mais:
“Como um rei decidido pela batalha
contrataria um jovem que tivesse habilidades com o arco,
alguém dotado de força e vigor,
mas não o covarde apenas devido ao seu nascimento –
contrataria um jovem que tivesse habilidades com o arco,
alguém dotado de força e vigor,
mas não o covarde apenas devido ao seu nascimento –
e muito embora ele possa ter um nascimento inferior,
a pessoa com a conduta nobre deve ser honrada,
o sábio no qual estão estabelecidas
as virtudes da paciência e nobreza.
a pessoa com a conduta nobre deve ser honrada,
o sábio no qual estão estabelecidas
as virtudes da paciência e nobreza.
“Ele deve construir retiros agradáveis
e convidar os sábios para ali habitarem;
ele deve construir reservatórios nas florestas
e trilhas no terreno acidentado.
e convidar os sábios para ali habitarem;
ele deve construir reservatórios nas florestas
e trilhas no terreno acidentado.
“Com o coração confiante ele deve dar,
para aqueles com o caráter íntegro:
dar comida e bebida e coisas para comer,
roupas para vestir e camas e assentos.
para aqueles com o caráter íntegro:
dar comida e bebida e coisas para comer,
roupas para vestir e camas e assentos.
“Pois, tal como uma nuvem trovejante,
enfeitada por raios com cem cristas,
derrama a chuva sobre a terra,
preenchendo a planície e os vales -
enfeitada por raios com cem cristas,
derrama a chuva sobre a terra,
preenchendo a planície e os vales -
Da mesma forma o homem sábio, fiel, estudado,
ao preparar uma refeição,
satisfaz com comida e bebida
os mendicantes que vivem de esmolas.
Alegrando-se, ele distribui oferendas,
e proclama, ‘Dar, dar.’
ao preparar uma refeição,
satisfaz com comida e bebida
os mendicantes que vivem de esmolas.
Alegrando-se, ele distribui oferendas,
e proclama, ‘Dar, dar.’
“Pois esse é o trovão dele
tal qual o céu quando chove.
Essa chuva de mérito, tão abundante,
derramar-se-á sobre o doador.”
tal qual o céu quando chove.
Essa chuva de mérito, tão abundante,
derramar-se-á sobre o doador.”
-
Samyutta Nikaya 3. 24
XII
Os resultados da
generosidade que você prática o acompanha em qualquer plano que você renasça:
Certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no
Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então a Princesa Sumana,¹
acompanhada por quinhentas carruagens e quinhentas acompanhantes da corte foi
até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo ela sentou a um lado e disse para o
Abençoado:
"Aqui, venerável senhor, podem haver dois
discípulos do Abençoado iguais em convicção, comportamento virtuoso e
sabedoria, mas um deles é generoso enquanto que o outro não é. Com a dissolução
do corpo, após a morte. ambos renasceriam num destino feliz, no paraíso. Quando
eles se tornassem devas, haveria alguma distinção ou diferença entre os
dois?"
"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu.
"O generoso, tendo se tornado um deva, superaria o outro em cinco
aspectos: no tempo de vida celestial, na beleza celestial, na felicidade
celestial, na glória celestial e na autoridade celestial. O generoso, tendo se
tornado um deva, superaria o outro nesses cinco aspectos."
"Mas, venerável senhor, se os dois falecessem
do paraíso e novamente se tornassem seres humanos, ainda haveria alguma
distinção ou diferença entre os dois?"
"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu.
"Quando eles novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o
outro em cinco aspectos: no tempo de vida humano, na beleza humana, na
felicidade humana, na glória humana e na autoridade humana. Quando eles
novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o outro nesses cinco
aspectos."
"Mas, venerável senhor, se os dois
abandonassem a vida em família e seguissem a vida santa, ainda haveria alguma
distinção ou diferença entre os dois?"
"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu.
"O generoso tendo seguido a vida santa superaria o outro em cinco
aspectos: (1) Em geral ele usaria mantos que tivessem sido especificamente
oferecidos para ele, raramente ele usaria mantos que não tivessem sido especificamente
oferecidos para ele.² (2) Em geral ele comeria comida esmolada que tivesse sido
especificamente oferecida para ele, raramente ele comeria comida esmolada que
não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (3) Em geral ele usaria
moradia que tivesse sido especificamente oferecida para ele, raramente ele
usaria moradia que não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (4) Em
geral ele usaria medicamentos que tivessem sido especificamente oferecidos para
ele, raramente ele usaria medicamentos que não tivessem sido especificamente
oferecidos para ele. (5) Os seus companheiros monásticos, aqueles com quem ele
convive, em geral se comportariam de modo agradável através do corpo, linguagem
e mente, raramente de modo desagradável. O generoso tendo seguido a vida santa
superaria o outro nesses cinco aspectos."
"Mas, venerável senhor, se os dois realizassem
o estado de arahant, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os
dois?"
"Nesse caso, Sumana, eu declaro que não
haveria diferença entre a libertação de um e a libertação do outro."
"É maravilhoso e admirável, venerável senhor!
Deveras, todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações
meritórias, visto que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser
humano, ou seguir a vida santa."
"Assim é, Sumana! Assim é, Sumana! Deveras,
todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações meritórias, visto
que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser humano, ou seguir a
vida santa."
Isso foi o que o Abençoado disse. Tendo dito isso,
o Iluminado, o Mestre, disse ainda mais:
"Tal
como a lua imaculada
movendo-se através do espaço
supera com o seu brilho
todas as estrelas no mundo,
assim também quem é consumado no comportamento virtuoso,
uma pessoa dotada de convicção,
supera com a generosidade
todos os avaros no mundo.
movendo-se através do espaço
supera com o seu brilho
todas as estrelas no mundo,
assim também quem é consumado no comportamento virtuoso,
uma pessoa dotada de convicção,
supera com a generosidade
todos os avaros no mundo.
"Tal
como uma imensa nuvem de chuva,
trovejando, coroada por raios,
derrama a chuva sobre a terra,
inundando as planícies e as baixadas,
assim também o discípulo do Iluminado,
sábio com a visão consumada,
supera o avaro
em cinco aspectos:
tempo de vida e glória,
beleza e felicidade.
Possuindo riqueza, após a morte
ele se delicia no paraíso."
trovejando, coroada por raios,
derrama a chuva sobre a terra,
inundando as planícies e as baixadas,
assim também o discípulo do Iluminado,
sábio com a visão consumada,
supera o avaro
em cinco aspectos:
tempo de vida e glória,
beleza e felicidade.
Possuindo riqueza, após a morte
ele se delicia no paraíso."
Notas:
2. Em termos literais: "os mantos que ele
usa em geral são aqueles que lhe pediram que ele aceitasse, raramente mantos
que ele não tenha sido pedido aceitar." Da mesma forma com relação aos
demais requisitos.
- Anguttara
Nikaya 5.31
XIII
Ações generosas praticadas por
nós podem ajudar nossos parentes que possam ter renascido em planos
existenciais mais baixos:
Então o brâmane Janussoni foi até o Abençoado e
ambos se cumprimentaram. Quando a conversa amigável e cortês havia terminado,
ele sentou a um lado e disse:
"Mestre Gotama, nós brâmanes damos oferendas e
realizamos cerimônias para os mortos com o pensamento: 'Que as nossas oferendas
beneficiem nossos parentes e familiares que partiram. Que nossos parentes e
familiares que partiram recebam a nossa oferenda.' A nossa oferenda, Mestre
Gotama, pode na verdade beneficiar os nossos parentes e familiares que
partiram? Os nossos parentes e familiares que partiram podem na verdade receber
a nossa oferenda?"
"Na ocasião certa, brâmane, poderá beneficiar,
não na ocasião errada."
"Mas, Mestre Gotama, qual é a ocasião certa e
qual é a ocasião errada?"
"Aqui, brâmane, alguém mata seres vivos, toma
aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem
mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é
cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Com a dissolução do
corpo, após a morte, ele renasce no inferno. Ele se sustenta e subsiste da
comida dos seres no inferno. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não
irá beneficiar aquele que ali se encontra.
"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento
incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo
animal. Ele se sustenta e subsiste da comida dos animais. Essa também é uma
ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se
encontra.
"Alguém se abstém de matar seres vivos, de
tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem
mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem
frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Com a
dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ele se
sustenta e subsiste da comida dos seres humanos. Essa é uma ocasião errada,
quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.
"Alguém se abstém de matar seres vivos ... tem
entendimento correto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce
entre os devas. Ele se sustenta e subsiste da comida dos devas. Essa é uma
ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se
encontra.
"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento
incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo dos
fantasmas famintos. Ele se sustenta e subsiste da comida dos fantasmas
famintos, ou então ele se sustenta com aquilo que os seus amigos, companheiros,
parentes ou familiares neste mundo lhe oferecem. Essa é uma ocasião certa,
quando a oferenda irá beneficiar aquele que ali se encontra."
"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da
oferenda se o parente ou familiar do falecido não renasceram nesse mundo?"
"Outros parentes ou familiares falecidos que
renasceram nesse mundo se beneficiam da oferenda."
"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da
oferenda se nem os parentes ou familiares do falecido tampouco outros tenham
renascido nesse mundo?"
"Brâmane, durante este longo período de tempo
[no samsara] é impossível e inconcebível que aquele mundo esteja desprovido de
parentes ou familiares falecidos. Além disso, o doador também não fica
desprovido de frutos."
"O Mestre Gotama postula [o valor da
generosidade] mesmo na ocasião errada?"
"Brâmane, eu postulo [o valor da generosidade]
mesmo na ocasião errada.
"Aqui, Brâmane, alguém mata seres vivos, toma
aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem
mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é
cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Ele dá para um
contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos,
perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução
do corpo, após a morte, ele renasce entre os elefantes. Ali ele obtém comida e
bebida, e vários ornamentos.
"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve
entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce
entre os elefantes. Mas visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane
comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e vários ornamentos.
"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento
incorreto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ...
lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os
cavalos ... bois ... cachorros. Ali ele obtém comida e bebida, e vários
ornamentos.
"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve
entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce
entre os cavalos ... bois ... cachorros. Mas visto que ele deu para um
contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e
vários ornamentos.
"Alguém se abstém de matar seres vivos, de
tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem
mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem
frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Ele dá
para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos,
perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução
do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ali ele obtém os
cinco elementos do prazer sensual humano.
"Visto que aqui ele se absteve de matar seres
vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte,
ele renasce entre os seres humanos. E visto que ele deu para um contemplativo
ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer
sensual humano.
"Alguém se abstém de matar seres vivos, ...
tem entendimento correto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida,
bebida; ... lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce
entre os devas. Ali ele obtém os cinco elementos do prazer celestial.
"Visto que aqui ele se absteve de matar seres
vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte,
ele renasce entre os devas. E visto que ele deu para um contemplativo ou
brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer
celestial. [Foi por isso que eu disse:] 'Além disso, o doador também não fica
desprovido de frutos'."
"É admirável e maravilhoso, Mestre Gotama, que
há razão em dar oferendas e realizar cerimônias em memória dos mortos, visto
que o doador também não fica desprovido de frutos."
"Assim é, brâmane! Assim é, brâmane! O doador
também não fica desprovido de frutos."
Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama!
Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em
pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido,
mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada
no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco
refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre
Gotama me aceite como discípulo leigo que nele buscou refúgio para o resto da minha
vida."
- Anguttara
Nikaya 10.177
XIV
Os seis fatores com os quais a
generosidade se torna uma fonte incalculável de mérito:
Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no
Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Agora naquela ocasião a discípula
leiga Velukantaki Nandamata estava preparando uma oferenda com seis fatores
para a Sangha dos bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. Com o olho
divino que é purificado e sobrepuja o humano, o Abençoado viu a discípula leiga
Velukantaki Nandamata preparando a oferenda e então se dirigiu aos bhikkhus:
"Bhikkhus, a discípula leiga Velukantaki
Nandamata está preparando uma oferenda com seis fatores para a Sangha dos
bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. E como uma oferenda possui seis
fatores? Aqui, o doador possui três fatores e os recipientes possuem três
fatores.
"Quais são os três fatores do doador? (1) O
doador sente alegria antes de dar; (2) ele tem uma mente tranquila ao dar; e
(3) a sua mente se delicia depois de dar. Esses são os três fatores do doador.
"Quais são os três fatores dos recipientes?
Aqui, (4) os recipientes estão desprovidos de cobiça ou praticam para a remoção
da cobiça; (5) eles estão desprovidos de raiva ou praticam para a remoção da
raiva; (6) eles estão desprovidos de delusão ou praticam para a remoção da
delusão. Esses são os três fatores dos recipientes.
"Assim o doador possui três fatores e os
recipientes possuem três fatores. Desse modo a oferenda possui seis fatores.
Não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas assim: 'Tanto assim é essa
fonte de méritos, fonte daquilo que é benéfico, alimento da felicidade,
celestial, que resulta na felicidade, conduz ao paraíso, conduz ao que é
desejável, prazeroso e almejado, para o bem-estar e a felicidade'; ao invés
disso é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável,
imensurável. Bhikkhus, tal como não é fácil medir a água no grande oceano
assim: 'Há tantos litros de água,' ou 'Há tantas centenas de litros de água,'
ou 'Há tantos milhares de litros de água,' mas ao invés disso é considerado
simplesmente como uma grande massa de água incalculável, imensurável; assim
também, não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas ... ao invés disso
é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável,
imensurável."
Antes de
dar há alegria;
enquanto dá a mente está tranquila;
depois de dar a mente se delicia:
esse é o êxito na generosidade.
enquanto dá a mente está tranquila;
depois de dar a mente se delicia:
esse é o êxito na generosidade.
Desprovidos
da cobiça e da raiva,
desprovidos da delusão, sem impurezas,
com auto-controle, vivendo a vida santa,
o campo de méritos está completo.
desprovidos da delusão, sem impurezas,
com auto-controle, vivendo a vida santa,
o campo de méritos está completo.
Tendo se
purificado¹
e dado com as próprias mãos,
a generosidade produz muitos frutos
para si mesmo e em relação aos outros.
e dado com as próprias mãos,
a generosidade produz muitos frutos
para si mesmo e em relação aos outros.
Tendo
sido generoso
com a mente livre da avareza,
a pessoa sábia, rica em fé,
renasce num destino feliz, num mundo sem aflições.
com a mente livre da avareza,
a pessoa sábia, rica em fé,
renasce num destino feliz, num mundo sem aflições.
Nota:
1. Os comentários explicam isto de
forma literal: lavar as mãos, os pés e a boca.
-
Anguttara Nikaya 6.37
XV
Escala de ações meritórias:
“Oferendas ainda são dadas em minha família,
senhor, mas são inferiores: arroz quebrado cozido com farelo, acompanhado de
picles em salmoura.¹”
“Chefe de família, não importa se a oferenda for
inferior ou refinada, se é dada de forma desatenta, de forma desrespeitosa, não
com suas próprias mãos, como se estivesse jogando fora, com o pensamento de que
nada virá disso [desta ação]: Seja lá aonde os resultados desta oferenda vieram
à fruição, a mente de uma pessoa não irá se inclinar para o desfrute de comida
esplendida, não irá se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, não irá
se inclinar para o desfrute de veículos esplendidos, não irá se inclinar para o
desfrute das esplendidas cinco correntes de sensualidade. E seus filhos e
filhas, escravos, servos e trabalhadores não lhe darão ouvidos, não o ouvirão,
não farão com que suas mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é
assim? Porque este é o resultado da desatenção.
“Chefe de família, não importa se a oferenda é
inferior ou refinado, se é dado atenciosamente, respeitosamente, com suas
próprias mãos, não como se estivesse jogando fora, com o pensamento de que algo
virá disso: Seja lá aonde os resultados daquela oferenda vier à fruição, a
mente de uma pessoa irá se inclinar para o desfrute de comida esplendida, irá
se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, irá se inclinar para o
desfrute de veículos esplendidos, irá se inclinar para o desfrute das
esplendidas cinco correntes de sensualidade. E seus filhos e filhas, escravos,
servos e trabalhadores lhe darão ouvidos, escutarão, irão fazer com que suas
mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é assim? Porque este é o
resultado de ações atenciosas.
“Certa vez, chefe de família, havia um brâmane
chamado Velāma. E esta foi a natureza da oferenda, da grande oferenda, que ele
deu: Ele deu 84,000 bandejas de ouro cheias de prata, 84,000 bandejas de prata
cheias de ouro, 84,000 bandejas de bronze cheias de pedras preciosas. Ele deu
84,000 elefantes com ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com
redes de fio de ouro. Ele deu 84,000 carruagens repletas de peles de leão,
peles de tigre, peles de leopardos, cobertores com cor de açafrão, com
ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com redes de fio de ouro. Ele
deu 84,000 vacas leiteiras com amarras de fina juta e baldes de bronze. Ele deu
84,000 donzelas adornadas com brinco de joias. Ele deu 84,000 sofás repletos de
cobertores de longo velo, cobertores bordados, tapetes de pele de veados
kadalis, cada um com um dossel em cima e almofadas vermelhas de ambos lados.
Ele deu 84,000 comprimentos de pano – do linho mais fino, do algodão mais fino,
da seda mais fina. Isso, claro, para não dizer nada da comida e bebida, loções
e camas: Elas fluíam, por assim dizer, como rios.
“Agora, chefe de família, se o pensamento ocorrer a
ti, ‘Talvez fosse outra pessoa que naquele tempo era Velāma o brâmane, que deu
aquela oferenda, aquela grande oferenda,’ esta não é forma como desse ser
visto. Eu era Velāma o brâmane naquele tempo. Eu dei aquela oferenda, aquela
grande oferenda. Mas naquele presente não havia ninguém digno de oferendas;
ninguém purificou aquela oferenda.
“Se alguém alimentasse uma pessoa consumada em
visão [i.e, um sotapanna], isso seria mais frutífero do que a oferenda, a
grande oferenda, que Velāma o brâmane deu.
“Se alguém alimentasse um sakadagami, isso seria
mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu,
e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem pessoas consumadas em visão,
maior ainda seria o fruto se alguém alimentasse um único sakadagami.”
“Se alguém alimentasse um anagami, isso seria mais
frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu, e se
[em adição a isso] alguém alimentasse cem sakadagamis, maior ainda seria o
fruto se alguém alimentasse um único anagami.”
“Se alguém alimentasse um arahant, isso seria mais
frutífero do que, etc., se alguém alimentasse cem anagamis...”
“Se alguém alimentasse um Paccekabuddha, isso seria
mais frutífero do que, etc. se alguém alimentasse cem arahants...”
“Se alguém alimentasse um Tathagata – digno e
devidamente auto-iluminado – isso seria mais frutífero do que, etc. se alguém
alimentasse cem Paccekabuddhas...”
“Se alguém alimentasse uma comunidade de monges
liderada pelo Buda, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém
alimentasse um Tathagata – digno e devidamente auto-iluminado.”
“Se alguém construísse um prédio e o dedicasse à
Comunidade das quatro direções, isso seria mais frutífero do que, etc., se
alguém alimentasse uma comunidade de monges liderada pelo Buda.”
“Se com uma mente confiante alguém fosse ao Buda,
Dhamma e Sangha para refúgio, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém
construísse um prédio e o dedicasse à Comunidade das quatro direções.”
“Se com uma mente confiante alguém empreendesse a
seguir as regras do treinamento – refrear-se de tirar vida, refrear-se de tomar
para si aquilo que não foi dado, refrear-se de sexo ilícito, refrear-se de
mentir, refrear-se de bebidas destiladas e fermentadas que causa o descuido –
isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém com uma mente confiante fosse
ao Buda, Dhamma e Sangha para refúgio.”
“Se alguém desenvolvesse apenas um pouquinho de um
coração com boa-vontade, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém com
uma mente confiante empreendesse a seguir as regras do treinamento...”
“Se alguém
desenvolvesse apenas por o tempo que leva o estalo dos dedos a percepção da
inconstância, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda,
que Velāma o brâmane deu, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem
pessoas consumadas em visão, cem sakadagamis, cem anagamis, cem arahants, cem
Paccekabuddhas, um Tathagatha – digno e devidamente auto-iluminado – e
alimentasse uma comunidade de monges liderada pelo Buda, e tivesse um prédio
construído e dedicado à Comunidade das quatro direções, e com uma mente confiante
fosse ao Buda, Dhamma e Sangha para refúgio, e com uma mente confiante
empreendesse a seguir as regras de treinamento, e desenvolvesse por apenas um
pouquinho um coração de boa-vontade, maior ainda seria o fruto se alguém
desenvolvesse por o tempo que leva para estalar os dedos a percepção da
inconstância.”
Nota:
1. Os comentários dizem que
Anathapindika está aqui se referindo às esmolas que ele dava aos pobres; as
esmolas para o Sangha continuavam a ser de alta qualidade. Porém, pode ter sido
que este discurso tenha acontecido durante uma época de fome, quando até mesmo
Anathapindika foi reduzido a dar apenas comida inferior a ambos o Sangha e os
pobres. Se este é o caso, então podemos ler as observações do Buda para
Anathapindika como uma forma de tranquiliza-lo de que em circunstâncias
difíceis ainda sim é frutífero ser generoso, até mesmo quando só podemos dar
coisas de baixa qualidade. O mérito da oferenda é determinado mais pelo estado
de mente com qual o é dado do que pela qualidade externa da oferenda.
- Anguttara Nikaya 9.20
XVI
Doações e presentes de coisas
materiais são bons, mas o presente do Dhamma excede todas as outras:
[Um
deva:]
Um doador de que, é um doador de força?
Um doador de que, é um doador de força?
Um
doador de que, é um doador de beleza?
Um
doador de que, é um doador de alívio?
Um
doador de que, é um doador de visão?
E
quem é um doador de tudo?
Tendo sido questionado, por
favor, explique-me isso.
[O Buda:]
Um doador de alimento é um doador de força.
[O Buda:]
Um doador de alimento é um doador de força.
Um
doador de roupas, um doador de beleza.
Um
doador de veículos, um doador de alívio.
Um
doador de lâmpadas, um doador de visão.
E
aquele que doa uma residência é o que doa tudo.
Mas aquele que
ensina o Dhamma
é um doador do Imortal.
- Samyutta Nikaya 1. 42
- Samyutta Nikaya 1. 42
* * *
Isso foi dito pelo
Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Há estes três tipos de presente: um
presente de coisas materiais e um presente do Dhamma. Destes dois, este é o
supremo: um presente do Dhamma. Há dois tipos de compartir: o compartir de
coisas materiais e o compartir do Dhamma. Destes dois, este é supremo: o
compartir do Dhamma. Há estes dois tipos de assistência: assistência com coisas
materiais e assistência com o Dhamma. Destes dois, esse é o supremo: ajuda com
o Dhamma.”
O presente que ele descreve
como sendo o principal e inigualável,
o compartir que o Abençoado exaltou:
quem –
confiante no supremo campo de mérito,
sábio, perspicaz –
não o daria em horas apropriadas?
Ambos
para aqueles que proclamam
e aqueles
que escutam,
confiantes
na mensagem do Bem-Aventurado:
isso
purifica seu benefício principal –
aqueles
que dão ouvidos a mensagem do Bem-Aventurado.
- Itivuttaka
98