domingo, 26 de janeiro de 2014

Os Discursos do Buda Sobre a Generosidade



Os Discursos do Buda sobre a Generosidade

Tradução por

Michael Beisert 

&

Davi Coêlho


Introdução 

Quando estamos falando dos ensinamentos do Buda, não podemos deixar de lado três aspectos bem importantes destes: kamma, renascimento e planos de existência. Kamma é a doutrina de que nossas ações geram frutos, resultados. O Buda definiu kamma como intenção (A.N 6.63); em outras palavras, tendo intencionado, agimos através da mente, da fala e do corpo. O acúmulo de kamma durante o curso de uma vida inteira é o que nos leva a renascer vez após vez. Estamos presos em um ciclo existencial, de nascimento, envelhecimento e morte. As pessoas estão em contato com isso o tempo todo, mas não percebem a relevância destes três mensageiros. E dentro deste ciclo de renascimentos, temos os diferentes mundos ou planos no qual o fluxo de consciência pode renascer. Aqui mesmo em nossa terra vemos dois destes – o plano humano e o plano dos animais. Fora estes, o Buda havia declarado que existem outros mais do que nossa vã concepção de mundo possa imaginar. 

É dentro deste contexto que devemos enxergar a importância da generosidade. O objetivo final de nossa jornada como budistas é eventualmente sair destes ciclos de morte e renascimento, repletos de sofrimento e insatisfação. O Buda traçou três coisas para seus seguidores leigos cultivarem, para que possam avançar nesta jornada – generosidade, virtude e a prática da meditação. Uma pessoa avara, mesquinha, por exemplo, não consegue progredir na meditação devido ao fato de sua mente estar suja com a mancha do egoísmo. 

Lembro-me muito bem da primeira vez que estava lendo estes suttas e a impressão que eles causaram em mim. Foi numa madrugada de Novembro de 2012, e era um study-guide (guia de estudos) feito pelo Ven. Thanissaro Bhikkhu. Muitos dos suttas que estavam naquele study-guide estão aqui também, com a inclusão de alguns outros que não aparecem na coleção feita por ele. Espero que esta coletânea possa exercer o mesmo efeito na mente dos leitores que exerceu na minha, isto é, a de nos inspirarmos a sermos generosos.  

Logo quando iniciei meus estudos dos suttas eu estava mais interessado no lado que pode ser mais atraente para a maioria das pessoas à primeira vista – a recompensa e promessa de um bom renascimento, seja neste mundo ou num mundo celestial. Afinal, quem não gostaria disso, e se para isso basta fazer ações generosas, porque não tentar? O que eu teria a perder com isso? Não muito, não é como se eu fosse doar coisas que iriam me fazer falta. Eu já havia trabalhado com ações sociais antes quando frequentava o centro espírita de minha cidade natal. Lá eles fazem a Campanha do Quilo no primeiro Domingo de todo mês. Coletam alimentos para doarem para pessoas de áreas carentes que vão até lá pegarem uma cesta básica que montamos a partir das doações que recebemos das pessoas. E naquele tempo eu participava disso sem a intenção ou conhecimento de que tal tipo de ação poderia me levar a um rumo mais feliz ainda nesta vida ou na próxima – e minha mente se alegrava (como ainda se alegra) ao fazer este tipo de serviço. Então porque não se sentir mais motivado ainda tendo fé de que há bons resultados para este tipo de ação? 

Bem, com o passar do tempo meu conhecimento acerca do Dhamma foi amadurecendo e fui refletindo mais a respeito – a vida dos seres humanos é curta, quem tem sorte vai além dos cem anos, mas geralmente em condições debilitadas. E a própria vida dos seres celestiais, por mais longa que seja, e por mais alegre e bem aventurada também, é igualmente impermanente, chega a um fim assim como a dos seres humanos. Então eu refletia, “Não há segurança nem mesmo no mundo dos devas e não é possível prever o curso de renascimento dos seres, se irão nascer em uma boa destinação ou em uma má”. Os suttas dizem que só há uma forma de se garantir bons renascimentos apenas, até o momento em que eventualmente iremos deixar o Samsara – e isto é, tornar-se um Sotapanna ou Alguém que Entrou na Correnteza (que conduz até Nibbana). Desde então toda e qualquer boa ação que faço é com a intenção (kamma) de que eu possa desfrutar deste grande mérito de que minha mente entre na correnteza nesta vida ainda. 

É importante que mantenhamos este senso de urgência em nossos corações, sobre a incerteza da vida, a certeza da morte e a incerteza sobre onde iremos renascer futuramente e estarmos nos perguntando – que estamos fazendo para adiantar nosso progresso? Tal senso é o que nos motiva primeiramente a realizarmos ações hábeis. A prática da generosidade dentro deste contexto assume fundamental importância para nós. A bondade que praticamos não é perdida, e o Buda nos promete que cedo ou tarde iremos sempre receber os frutos dela. Para aqueles que se esforçam por realizar o Dhamma aqui mesmo nesta vida, ela é um fator crucial para nosso progresso rumo ao fim do sofrimento. Portanto, espero que todos possam tirar bons proveitos destas leituras e que possamos fazer o bem aos outros, não só com uma mente que esteja almejando as recompensas e frutos destas boas ações, mas sim com uma mente que se inclina a cada vez mais se desprender até alcançar a Outra Margem – Nibbana. 

– Davi Coêlho,
26 de Janeiro, 2014.

Agradecimento 

Gostaria de agradecer a permissão concedida por Michael Beisert do Acesso ao Insight por ter deixado reproduzir as traduções por ele feitas aqui nesta coletânea. Os suttas que foram retirados de seu website foram: 

- Do Samyutta Nikaya: 1.41, 3.24, 

- Do Anguttara Nikaya: 5.31, 5.35, 5.36, 5.148, 6.37, 7.49, 10. 177, 

- Do Itivuttaka: 26


As traduções feitas por mim foram as seguintes:

- Do Samyutta Nikaya: 1.42, 1.75, 3.20, 42.9 

- Do Anguttara Nikaya: 3.57, 5.37, 9.20

- Do Itivuttaka: 75, 98

Fonte:  http://www.accesstoinsight.org/


I

Aquele que pratica a generosidade não deve temer o rumo de seu próximo renascimento:

“Por que tantas pessoas aqui estão temerosas
Quando o caminho foi ensinado com tantas bases?
Eu lhe pergunto, Oh Gotama, amplo em sabedoria:
Sobre o que nos devemos apoiar
Para não temermos o próximo mundo?”

“Tendo direcionado a fala e mente corretamente,
A não realização de más ações com o corpo,
Habitando o lar com comida e bebida ampla,
Dotado de fé, gentil, generoso, amigável:
Quando alguém se apoia sobre estas quatro coisas,
Não se deve temer o próximo mundo.”

- Samyutta Nikaya 1.75      

II

Não se arrependa da generosidade que você pratica: 

Em Savatthi. Então o Rei Pasenadi Kosala foi até o Abençoado no meio do dia e, ao chegar, tendo se prostrado diante do Abençoado, sentou-se de um lado. Conforme ele estava se sentando ali o Abençoado disse a ele, “Bem, agora, grande rei, de onde está vindo ao meio do dia?” 

“Agora pouco, senhor, um banqueiro dono de casa morreu em Savatthi. Eu venho da confiscação de sua fortuna sem herdeiros para o palácio real: dez milhões em prata, para não dizer nada do ouro. Mas mesmo ele tendo sido um banqueiro dono de casa, seu desfrute de comida era assim: ele comia arroz quebrado e picles em salmoura. Seu desfrute de roupas era assim: ele vestia três comprimentos de pano de cânhamo. Seu desfrute de veículo era assim: ele dirigia uma carruagem dilapidada com um toldo de folhas.” 

“Deveras assim é, grande rei. Deveras assim é. Certa vez no passado este banqueiro dono de casa proveu esmolas para o Paccekabuddha chamado Tagarasikhi. Dizendo [para seu servo], ‘Dê esmolas para o contemplativo,’ ele se levantou de seu assento e foi embora. Depois de ter dado, porém, ele sentiu remorso: ‘Teria sido melhor se meus escravos ou servos tivessem comido aquelas esmolas.’ E ele também assassinou o único herdeiro de seu irmão para ficar com sua fortuna. Agora, como resultado dessa ação por ter provido esmolas para o Paccekabuddha chamado Tagarasikhi foi que ele renasceu sete vezes em uma boa destinação, o mundo celestial. E pelo resultado remanescente daquela ação ele agiu como um banqueiro sete vezes nesta mesma Savatthi. Mas o resultado de sua ação em ter sentido remorso após ter dado aquelas esmolas – ‘Teria sido melhor se meus escravos ou servos tivessem comido aquelas esmolas’ – foi que sua mente não se inclinou para o luxuoso desfrute de comida, não se inclinou para o luxuoso desfrute de roupas, não se inclinou para o luxuoso desfrute de veículos, não se inclinou para o luxuoso desfrute das cinco correntes de sensualidade. O resultado de sua ação em ter assassinado o único herdeiro de seu irmão para ficar com sua fortuna foi que ele ferveu no inferno por muitos anos, muitas centenas de anos, muitos milhares de anos, muitas centenas de milhares de anos. E pelo resultado remanescente dessa ação ele deixou esta sétima fortuna sem herdeiro para a tesouraria real. 

“Agora, por causa do fim do antigo mérito daquele banqueiro dono de casa e por sua não acumulação de novo mérito, ele hoje está sendo fervido no Grande Inferno de Roruva.” 

“Então ele renasceu no Grande Inferno de Roruva, senhor?”

“Sim, grande rei. Ele reapareceu no Grande Inferno de Roruva.” 

Isso foi o que o Abençoado disse. Tendo dito isso, o Bem-Aventurado, o Mestre, disse mais: 

       “Grão, riqueza, ouro,
        ou qualquer outros pertences que você tenha;
        escravos, servos, mensageiros,
        e qualquer dependentes:
        você irá sem levar nenhum deles;
        deverá deixar todos para trás.

        O que você faz com o corpo,
        fala e mente:
        isso lhe pertence,
        levando isso consigo você vai,
        isso é o que lhe segue
        como uma sombra que nunca lhe deixa.  

        Portanto deves fazer o que é bom
        como um acúmulo para a vida futura.

        Atos de mérito são o suporte para os seres
        ao renascerem no outro mundo.” 


- Samyutta Nikaya 3.20


III

Se as pessoas apenas soubessem os benefícios de ser generoso: 

Isto foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Se os seres soubessem, como eu sei, os resultados de dar e compartir, eles não comeriam sem antes ter dado, nem permitiriam que a mácula do egoísmo tome conta das suas mentes. Mesmo se fosse o seu último bocado, a sua última mordida, eles não comeriam sem ter compartido, se houvesse alguém com quem compartir. Mas porque os seres não sabem, como eu sei, os resultados de dar e compartir, eles comem sem ter dado. A mácula do egoísmo toma conta das suas mentes.”

Se os seres soubessem
aquilo que o Grande Sábio disse,
que o resultado da generosidade
produz tão grande fruto,
então, subjugando a mácula do egoísmo
com a mente luminosa,
eles dariam no momento apropriado
      para os nobres,
      onde uma oferenda produz grandes frutos.
Tendo dado comida
      como uma oferenda
      para aqueles dignos de oferendas,
muitos doadores,
quando aqui falecem,
      do estado humano,
vão
      para o paraíso.
Eles, tendo ido para
      o paraíso,
      se regozijam,
desfrutando dos prazeres sensuais,
sem egoísmo, eles
participam do resultado
      da generosidade.

- Itivuttaka 26
IV

Quais as intenções por trás de se dar um presente, e quais os resultados: 

Ouvi que em certa ocasião o Abençoado estava em Campa, às margens do lago Gaggara. Então um grande grupo de discípulos leigos de Campa foram até o Venerável Sariputta e, quando chegaram, depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e disseram: 

"Já faz muito tempo, venerável senhor, desde que tivemos a oportunidade de ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado. Seria bom se pudéssemos ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado." 

"Então nesse caso, meus amigos, retornem no próximo dia de Uposatha, e talvez vocês possam ouvir um discurso do Dhamma na presença do Abençoado." 

"Assim seja, venerável senhor," os discípulos leigos de Campa disseram para o Venerável Sariputta. Levantando-se dos seus assentos, e depois de homenageá-lo, mantendo-o à sua direita, partiram. Então no próximo dia de Uposatha, os discípulos leigos de Campa foram até o Venerável Sariputta e, tendo chegado, depois de cumprimentá-lo, ficaram em pé a um lado. Então o Venerável Sariputta, juntamente com os discípulos leigos de Campa, foram até o Abençoado e chegando, depois de cumprimentá-lo, sentaram a um lado e o Venerável Sariputta disse para o Abençoado: 

"Pode haver o caso em que uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios?" 

"Sim, Sariputta, há o caso em que uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios." 

"Senhor, qual é a causa, qual é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e ela não produz grandes frutos e grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e ela produz grandes frutos e grandes benefícios?" 

"Sariputta, há o caso em que a pessoa dá uma oferenda buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado essa oferenda buscando seu próprio benefício, com sua mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesma [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' - na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas dos Quatro Grandes Reis. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Então há o caso em que a pessoa dá uma oferenda sem buscar seu próprio benefício, sem a mente apegada [à recompensa], não pensando em acumulá-la para si mesma nem [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' Ao invés disso, ela dá uma oferenda com o pensamento ‘A generosidade é boa.’ Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa, Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado essa oferenda com o pensamento, ‘A generosidade é boa,’ na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Tavatimsa. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Ou, ao invés de pensar ‘A generosidade é boa’ ela dá a oferenda com o pensamento, 'Isto foi dado no passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria correto que eu permitisse que esse antigo costume da família fosse descontinuado' ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Yama. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Ou, ao invés de pensar ... ela dá uma oferenda com o pensamento, ‘Eu sou próspero. Eles não são prósperos. Não seria correto, que em sendo eu próspero, não desse uma oferenda para aqueles que não são prósperos ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Tusita. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Ou, ao invés de pensar … ela dá uma oferenda com o pensamento ‘Tal como no passado houve o sacrifício dos sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da mesma forma essa será a minha distribuição de oferendas’ ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas Nimmanarati. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Ou, ao invés de pensar … ela dá uma oferenda com o pensamento, ‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ... na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas Paranimmita-vasavatti. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela retorna, voltando a este mundo. 

"Ou, ao invés de pensar ‘Quando esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria’ ela dá uma oferenda com o pensamento ‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ Ela dá uma oferenda - comida, bebida, roupas, um veículo, um ornamento, perfume e ungüento, roupas de cama, moradia, uma lamparina - para um brâmane ou um contemplativo. O que você pensa , Sariputta? Pode uma pessoa dar uma oferenda como essa?"

"Sim, senhor."

"Tendo dado isso, sem buscar seu próprio benefício, nem com a mente apegada [à recompensa], pensando em acumulá-la para si mesmo [com o pensamento], 'Eu a desfrutarei após a morte.' 

" – nem com o pensamento, 'A generosidade é boa,’

" – nem com o pensamento, 'Isto foi dado no passado, feito no passado, por meu pai e avô. Não seria correto que eu permitisse que esse antigo costume da família fosse descontinuado,' 

" – nem com o pensamento, ‘Eu sou próspero. Eles não são prósperos. Não seria correto, em sendo eu próspero, não desse uma oferenda para aqueles que não são prósperos,' 

" – nem com o pensamento, ‘Tal como no passado houve o sacrifício dos sábios - Atthaka, Vamaka, Vamadeva, Vessamitta, Yamataggi, Angirasa, Bharadvaja, Vasettha, Kassapa, e Bhagu - da mesma forma essa será a minha distribuição de oferendas,’ 

" – nem com o pensamento, ‘Quanto esta minha oferenda é dada, a minha mente fica clara com serena confiança. Surgem a satisfação e a alegria,’

" – porém com o pensamento, ‘Isto é um ornamento para a mente, um suporte para a mente.’ - na dissolução do corpo, após a morte, ela renasce no mundo dos devas do Cortejo de Brahma. Então tendo esgotado aquela ação, aquele poder, aquele status, aquela soberania, ela não retorna. Ela não retornará a este mundo. 

"Essa, Sariputta, é a causa, essa é a razão, porque uma pessoa dá uma oferenda de um certo tipo e não resulta em grandes frutos ou grandes benefícios, enquanto que outra pessoa dá uma oferenda do mesmo tipo e resulta em grandes frutos e grandes benefícios."

 - Anguttara Nikaya 7.49 

V

Quais os resultados para uma pessoa que faz a caridade conscientemente:

"Bhikkhus, há cinco benefícios da generosidade. Quais cinco? (1) A pessoa é estimada pelas pessoas em geral. (2) A pessoa tem pessoas verdadeiras como companheiros. (3) Ela desfruta de boa reputação. (4) A pessoa não se esquiva das responsabilidades de um chefe de família. (5) Na dissolução do corpo após a morte, ela renasce num destino feliz, no paraíso."

- Anguttara Nikaya 5.35 

*   *   *

“Bhikkhus, há essas cinco oferendas de uma pessoa verdadeira¹. Quais cinco? Uma pessoa verdadeira dá uma oferenda com base na fé; ela dá uma oferenda respeitosamente; ela dá uma oferenda no momento apropriado; ela dá uma oferenda com o coração empático; ela dá uma oferenda sem afetar de modo adverso a si mesma ou os outros. 

“Porque ela dá uma oferenda com base na fé, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza, e ela será bela, atraente, graciosa, com a complexão de uma flor de lótus. 

“Porque ela dá uma oferenda respeitosamente, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E os seus filhos, esposas, escravos, serviçais e empregados lhe dão ouvidos com atenção, são obedientes e a atendem com o coração compreensivo. 

“Porque ela dá uma oferenda no momento apropriado, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E os seus objetivos são realizados no momento apropriado. 

“Porque ela dá uma oferenda com o coração empático, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E a sua mente se inclina pelo gozo de excelentes prazeres dos sentidos. 

“Porque ela dá uma oferenda sem afetar de modo adverso a si mesma ou os outros, onde quer que o fruto daquela oferenda amadureça, ela se torna rica e afluente, com muita riqueza. E de onde quer que seja não ocorre perda da sua riqueza, quer seja através do fogo, da água, de reis, de ladrões ou de parentes detestáveis. 

“Essas são as oferendas de uma pessoa verdadeira.” 

- Anguttara Nikaya 5.148 

Nota:

     1.      Sappurisa: uma pessoa com bom caráter, uma pessoa digna. Essa palavra é algumas vezes, embora não sempre, empregada quase como um sinônimo para ariya, um nobre.


VI

Não seja como uma nuvem que não chove:

Isso foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Estes três tipos de pessoas podem ser encontradas existindo no mundo. Quais três? Uma é como uma nuvem sem chuva, outra é como uma que chove localmente, e outra é como uma que chove em todos os lugares. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem sem chuva? Há o caso onde uma pessoa não é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias ou de lâmpadas para nenhum brâmane ou contemplativo, para nenhum miserável, sem-teto ou mendigo. É assim como uma pessoa é como uma nuvem sem chuva. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem que chove localmente? Há o caso em que uma pessoa é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias e lâmpadas para alguns brâmanes e contemplativos, para alguns dos miseráveis, sem tetos e mendigos, mas não para outros. É assim que uma pessoa é como uma nuvem que chove localmente. 

“E como é que uma pessoa é como uma nuvem que chove em todos os lugares? Há caso onde uma pessoa é um doador de comida, bebida, vestimenta, veículos, festões, fragrâncias, pomadas, camas, moradias e lâmpadas para todos os brâmanes e contemplativos, para todos os miseráveis, sem tetos e mendigos. É assim que uma pessoa é como uma nuvem que chove em todos os lugares.  

“Estes são os três tipos de pessoas que podem ser encontradas existindo no mundo.” 

Não para contemplativos,
para brâmanes,
para os miseráveis,
nem para os sem tetos
ele divide aquilo que ganhou:
       comida,
       bebida,
       nutrimento.
Ele, o mais baixo de todas as pessoas,
           é chamado de nuvem sem chuva.

Para alguns ele doa,
para outros não:
         os inteligentes o chamam
         de alguém que chove localmente.

Uma pessoa responsiva a pedidos,
complacente para com todos os seres,
deleitando-se em distribuir esmolas:
        “Dê a eles!
         Dê!”
         ele diz.
Como uma nuvem – retumbante, trovejante – chove,
enchendo com água, encharcando os platôs e ravinas:
                       uma pessoa desse tipo
                        é assim.
Tendo acumulado
riquezas obtidas através de sua iniciativa,
ele satisfaz inteiramente com comida e bebida
aqueles que caíram no estado de sem-teto. 

- Itivuttaka 75

VII

Todas as famílias que hoje vivem em abundância, vivem devido ao fato de terem sido generosas em vidas prévias:

Em certa ocasião o Abençoado, enquanto caminhava entre os Kosalas juntamente com uma grande comunidade de monges, chegou à Nalanda. Ali ele ficou em Nalanda no Bosque das Mangueiras de Pavarika. 

Agora naquele tempo Nalanda estava no meio de uma grande fome, em uma época de escassez, as lavouras brancas com crestamento e reduzidas a palha. E naquele tempo Nigantha Nataputta estava habitando em Nalanda juntamente com uma grande companhia de niganthas. Então Asibandhakaputta o chefe, um discípulo dos niganthas, foi até Nigantha Nataputta e, ao chegar, tendo se prostrado diante dele, sentou-se a um lado. Conforme ele estava se sentando ali, Nigantha Nataputta disse a ele, “Venha, agora, chefe. Refute as palavras de Gotama o contemplativo, e essa maravilhosa notícia se espalhará ao seu respeito: ‘As palavras de Gotama o contemplativo – tão forte, tão poderoso – foram refutadas por Asibandhakaputta o chefe! ’”. 

“Mas como, venerável senhor, irei refutar as palavras de Gotama o contemplativo – tão forte, tão poderoso?” 

“Venha agora, chefe. Vá até Gotama o contemplativo e diga isto ao chegar lá: ‘Venerável senhor, o Abençoado em muitos modos não louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?’ Se Gotama o contemplativo, assim questionado, responder, ‘Sim chefe, o Tathagata em muitos modos louva a bondade, proteção e simpatia por famílias,’ então você deve dizer, ‘Então porque, venerável senhor, o Abençoado, juntamente com uma grande comunidade de monges, está caminhando por volta de Nalanda durante uma época de fome, uma época de escassez, quando as lavouras estão brancas com crestamento e reduzidas a palha? O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda das famílias.’ Quanto Gotama o contemplativo for questionado com essa pergunta de duas vertentes por ti, ele não será capaz de engoli-la ou de botá-la para fora.” 

Respondendo, “Como quiser, venerável senhor,” Asibandhakaputta o chefe levantou-se de seu assento, prostrou-se diante de Nigantha Nataputta, circundou-o, e então foi até o Abençoado. Ao chegar, ele prostrou-se diante do Abençoado e sentou-se de um lado. Conforme ele estava se sentando, ele disse ao Abençoado, “Venerável senhor, o Abençoado em muitos modos não louva a bondade, proteção e simpatia por famílias?” 

“Sim chefe, o Tatathagata em muitos modos louva a bondade, proteção e simpatia por famílias.” 

“Então porque, venerável senhor, o Abençoado, juntamente com uma grande comunidade de monges, está caminhando por volta de Nalanda durante uma época de fome, uma época de escassez, quando as lavouras estão brancas com crestamento e reduzidas a palha? O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda das famílias.” 

“Chefe, recordando-me de 91 éons, eu não conheço nenhuma família que tenha sido trazida à ruína através da doação de esmolas cozidas. Pelo contrário: quaisquer famílias que hoje são ricas – com muita opulência, muitas posses, uma grande quantia de dinheiro, um grande acúmulo de riqueza, e muitas comodidades – todas se tornaram assim a partir da generosidade, da verdade, do refreamento. 

“Chefe, há oito causas, oito motivos para a queda das famílias. Famílias vão para seu fim por causa de reis, ou famílias vão para o seu fim por causa de ladrões, ou famílias vão para seu fim por causa de fogo, ou famílias vão para seu fim por causa de enchentes, ou seus tesouros guardados desaparecem, ou seus empreendimentos são mal administrados, ou na família nasce um vagabundo que esbanja, espalha e espatifa sua fortuna, e a impermanência é a oitava. Estas são as oito causas, os oito motivos para a queda das famílias. Agora, quando estas oito causas, estes oito motivos são encontrados, se alguém disser de mim, ‘O Abençoado está praticando para o arruinamento das famílias. O Abençoado está praticando para o fim das famílias. O Abençoado está praticando para a queda das famílias’ – sem abandonar esta afirmação, sem ter abandonado esta intenção, sem ter descartado esta opinião – então é como se ele fosse arrastado, ele assim seria posto no inferno.”  

Quando isso foi dito, Asibandhakaputta, o chefe, disse para o Abençoado: “Magnífico, senhor! Magnífico! Assim como se ele tivesse virado pra cima o que estava de cabeça para baixo, revela-se o que estava escondido, mostra-se o caminho para alguém que estava perdido, ou carregasse uma lâmpada no escuro para aqueles com olhos poderem enxergar, da mesma maneira tem feito o Abençoado – através de muitas linhas de raciocínio – o Dhamma claro. Eu vou ao Buda para refúgio, ao Dhamma e à comunidade de monges. Que possa o Abençoado se lembrar de mim como um seguidor leigo que foi a ele para refúgio deste dia em diante, para vida toda.” 

- Samyutta Nikaya 42.9 

VIII

A vida é incerta, a morte é uma certeza. Sabendo assim, não devemos negligenciar a oportunidade de sermos generosos:

Assim ouvi. Em certa ocasião, o Abençoado estava em Savatthi no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então, quando a noite estava bem avançada, certa devata com belíssima aparência que iluminou todo o Bosque de Jeta, se aproximou do Abençoado. Ao se aproximar ela homenageou o Abençoado e ficando em pé a um lado a devata disse:

      “Quando a casa está em chamas
      o balde removido
      é aquele que é útil,
      não aquele que foi deixado para queimar lá dentro.
      “Portanto, quando o mundo arde
      com [as chamas] do envelhecimento e morte,
      ele deveria remover [sua riqueza] sendo generoso:
      aquilo que é dado está bem salvo.
      “Aquilo que é dado produz bons frutos,
      mas não aquilo que não é dado.
      Ladrões ou reis roubam-no,
      é queimado pelo fogo ou perdido.
      “Então, no final ele deixa o corpo
      junto com as suas posses.
      Ao compreender isso, a pessoa sábia
      deve desfrutar e também dar.
      Ao dar e desfrutar de acordo com os seus meios,
      inculpável ela segue para o paraíso.”

- Samyutta Nikaya 1.41

IX

Cinco coisas que uma pessoa generosa dá, e cinco coisas que ela recebe: 

“Ao dar uma refeição, o doador dá cinco coisas a quem recebe. Quais cinco? Ele ou ela dá vida, beleza, felicidade, força e rapidez de raciocínio. Tendo dado vida, ele ou ela tem uma cota em longa vida, seja humana ou divina. Tendo dado beleza, ele ou ela tem uma cota em beleza, seja humana ou divina. Tendo dado felicidade, ele ou ela tem uma cota em felicidade, seja humana ou divina. Tendo dado força, ele ou ela tem uma cota em força, seja humana ou divina. Tendo dado rapidez de raciocínio, ele ou ela tem uma cota em rapidez de raciocínio, seja humano ou divino. Ao dar uma refeição, o doador dá estas cinco coisas a quem recebe.”

A pessoa prudente dando vida, força,
      beleza, rapidez de raciocínio –
a pessoa sábia, uma doadora de felicidade,
      alcança a felicidade ela mesma.
Tendo dado vida, força, beleza,
       felicidade, rapidez de raciocínio,
ela tem longa vida e status
       onde quer que ela renasça. 

- Anguttara Nikaya 5. 37 

X

Os momentos propícios para dar um presente ou oferenda: 

“Existem essas cinco oferendas oportunas. Quais cinco? Alguém dá para um recém-chegado. Alguém dá para quem vai partir. Alguém dá para quem esteja enfermo. Alguém dá em época de fome. Alguém dá os primeiros frutos do campo e do pomar para aqueles que são virtuosos. Essas são as cinco oferendas oportunas.” 

Na época oportuna eles dão -
aqueles com sabedoria,
responsivos, livres da avareza.
Tendo dado na época oportuna,
com os corações inspirados pelos Nobres
- eretos, Assim -
as suas oferendas produzem abundância.
Aqueles que se regozijam com essa oferenda
ou dão assistência,
eles, também, compartem do mérito,
e a oferenda não fica esgotada por isso.
Assim, com a mente sem hesitação
a pessoa deve dar onde a oferenda produz bons frutos.
Mérito é o que estabelece
os seres na próxima vida.

- Anguttara Nikaya 5.36 

XI 

Toda generosidade é uma fonte de mérito, porém, algumas ações geram mais mérito do que outras: 

Então Vacchagotta o viajante foi até o Abençoado e, tendo chegado, trocou comprimentos cortês com ele. Após uma troca de comprimentos amigáveis e cortesias, ele se sentou de um lado. Conforme ele estava se sentando, ele disso ao Abençoado: “Mestre Gotama, eu tenho ouvido que ‘Gotama o contemplativo diz isso: “Apenas para mim uma oferenda deve ser dada, e não para outros. Apenas para meus discípulos uma oferenda deve ser dada, e a não para outros. Apenas o que é dado a mim gera grande fruto, e não aquilo que é dado aos outros. Apenas o que é dado para meus discípulos gera grande fruto, e não o que é dado para os discípulos de outros.’ Agora aqueles que dizem isso: eles estão relatando as verdadeiras palavras do Mestre Gotama, ou eles estão deturpando-o com o que é falso, eles estão respondendo em linha com o Dhamma, para aqueles cujo pensamento estão em linha com o Dhamma não terão base para criticá-los? Pois não queremos deturpar o Mestre Gotama.”

“Vaccha, quem quer que seja que diga isso: ‘Gotama o contemplativo diz isso: “Apenas para mim uma oferenda deve ser dada, apenas o que é dado para meus discípulos gera grande fruto e não o que é dado para os discípulos de outros,”’ não está relatando minhas verdadeiras palavras, está me deturpando com o que é falso e não fatual. 

“Vaccha, quem quer que seja que impeça alguém de dar um presente cria três obstruções, três impedimentos. Quais três? Ele cria uma obstrução para o mérito do doador, uma obstrução para o ganho de quem recebe, e além disso ele causa dano e prejuízo a si mesmo. Qualquer pessoa que impeça alguém de dar um presente cria estas três obstruções, estes três impedimentos.

“Eu lhe digo, Vaccha, mesmo que uma pessoa jogue os restos [de comida] de uma tigela ou copo no lago ou rio de uma vila, pensando, ‘Que quaisquer animais que aqui vivam se alimentem disso’, isso em si já seria uma fonte de mérito, sem dizer nada daquilo que é dado para seres humanos. Mas eu digo sim que aquilo que é dado para uma pessoa virtuosa gera grandes frutos, e não tanto aquilo que é dado para uma pessoa que não é virtuosa. E a pessoa virtuosa abandonou cinco fatores e é dotada de outros cinco. 

“Quais cinco ela abandonou? Ela abandonou desejo sensual, raiva, preguiça e torpor, agitação e ansiedade, incerteza. Estes são os cinco fatores que ela abandonou. E com quais cinco ela é dotada? Ela é dotada com o agregado de virtude de alguém que está além do treinamento, o agregado da concentração de alguém que está além do treinamento, o agregado de discernimento de alguém que está além do treinamento, o agregado da libertação de alguém que está além do treinamento, o agregado de conhecimento e visão da libertação de alguém que está além do treinamento. Estes são os cinco fatores com os quais ela é dotada.

“Eu lhe digo: aquilo que é dado para alguém que abandonou estes cinco fatores e é dotado com estes outros cinco, gera grande fruto.

“Em um rebanho de gado,
                 seja preto, branco,     
                 ruivo, marrom,
                 manchado ou uniforme,
                 ou cinza:
se um boi ali nasce –
                 domado, resistente,
                consumado em força,
                e veloz –
as pessoas o jugam a fardos,
não importa a sua cor.   
Da mesma forma,
onde quer que alguém nasça,
entre seres humanos –
                 nobres guerreiros, brâmanes,
                 comerciantes, trabalhadores,
                 exilados ou catadores –
se ele for domado, com boas práticas,
reto, consumado em virtude,
alguém que fala a verdade, com consciência em seu coração,
                 alguém
que abandonou o nascimento e morte,
que tenha completado a vida santa,
retirado de si o fardo,
realizado a tarefa,
               livre de fermentações,
indo além de todos os dhammas [fenômenos],
liberto através da ausência de apego:

   oferendas feitas a este campo imaculado
   geram uma grande abundância de frutos.

Mas os tolos, ignorantes,
lentos, desinformados,
dão oferendas pra fora
e não chegam perto dos bons
             - considerados como iluminados,
               sábios –
aqueles cuja confiança no Tathagata
                    consolidou suas raízes,
                    está estabelecida e firme:
estes vão para o mundo dos devas
ou renascem em uma boa família aqui.
                    Passo a passo
                    eles alcançam
                    o Desatar:
                    aqueles que são sábios.”

-  Anguttara Nikaya 3. 57

*   *   *

Em Savatthi. Sentado a um lado, o rei Pasenadi de Kosala disse para o Abençoado: 

“Onde, venerável senhor, deve uma oferenda ser dada?” 

“Em qualquer lugar em que a mente sinta confiança, grande rei.” 

“Mas uma oferenda dada onde, senhor, resulta em grandes frutos?” 

“Esta [questão] é uma coisa, grande rei - ‘Onde deve uma oferenda ser dada?’ - enquanto essa - ‘Onde é que uma oferenda dada resulta em grandes frutos’ - é algo totalmente diferente. O que é dado a uma pessoa virtuosa - ao invés de a uma pessoa não virtuosa - resulta em grandes frutos.” Neste caso, grande rei, eu lhe farei uma contra pergunta. Responda como quiser. 

O que você pensa, grande rei? Suponha que você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. E um jovem khattiya se aproximasse – sem treinamento, sem prática, indisciplinado, temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?” 

“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não teria como aproveitar um homem como esse.”
“Então, um jovem brâmane … um jovem comerciante … um jovem trabalhador se aproximasse – sem treinamento, sem prática, indisciplinado, temeroso, aterrorizado, covarde, rápido na fuga. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?

“Não, venerável senhor, eu não o aceitaria. Eu não teria como aproveitar um homem como esse.”
“Agora, o que você pensa, grande rei? Suponha que você estivesse em guerra e uma batalha fosse iminente. Um jovem khattiya se aproximasse – treinado, com prática, disciplinado, destemido, corajoso, pronto para defender seu posto. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?” 

“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria como aproveitar um homem como esse.” 

“Então um jovem brâmane … um jovem comerciante … um jovem trabalhador se aproximasse – treinado, com prática, disciplinado, destemido, corajoso, pronto para defender seu posto. Você o aceitaria? Você teria como aproveitar um homem como esse?”

“Sim, venerável senhor, eu o aceitaria. Eu teria como aproveitar um homem como esse.” 

“Da mesma forma, grande rei. Quando alguém abandonou a vida em família e seguiu a vida santa – não importando o seu clã – e ele abandonou cinco fatores e está dotado de cinco fatores, aquilo que lhe é dado resulta em grandes frutos. 

E quais são os cinco fatores que ele abandonou? Ele abandonou o desejo sensual ... má vontade ... preguiça e torpor ... inquietação e ansiedade ...e dúvida. Esses são os cinco fatores que ele abandonou. E quais são os cinco fatores dos quais ele está dotado? Ele está dotado do agregado da virtude de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da concentração de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da sabedoria de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado da libertação de alguém que está mais além do treinamento ... do agregado do conhecimento e visão da libertação de alguém que está mais além do treinamento. Esses são os cinco fatores dos quais ele está dotado.

“Aquilo que é dado para aquele que abandonou cinco fatores e está dotado de cinco fatores resulta em grandes frutos.”

Isso foi o que o Abençoado disse. Dito isso, o Iluminado, o Mestre disse ainda mais: 

“Como um rei decidido pela batalha
contrataria um jovem que tivesse habilidades com o arco,
alguém dotado de força e vigor,
mas não o covarde apenas devido ao seu nascimento – 
e muito embora ele possa ter um nascimento inferior,
a pessoa com a conduta nobre deve ser honrada,
o sábio no qual estão estabelecidas
as virtudes da paciência e nobreza.
“Ele deve construir retiros agradáveis
e convidar os sábios para ali habitarem;
ele deve construir reservatórios nas florestas
e trilhas no terreno acidentado.
“Com o coração confiante ele deve dar,
para aqueles com o caráter íntegro:
dar comida e bebida e coisas para comer,
roupas para vestir e camas e assentos.
“Pois, tal como uma nuvem trovejante,
enfeitada por raios com cem cristas,
derrama a chuva sobre a terra,
preenchendo a planície e os vales -
Da mesma forma o homem sábio, fiel, estudado,
ao preparar uma refeição,
satisfaz com comida e bebida
os mendicantes que vivem de esmolas.
Alegrando-se, ele distribui oferendas,
e proclama, ‘Dar, dar.’   
“Pois esse é o trovão dele
tal qual o céu quando chove.
Essa chuva de mérito, tão abundante,
derramar-se-á sobre o doador.” 

- Samyutta Nikaya 3. 24

XII

Os resultados da generosidade que você prática o acompanha em qualquer plano que você renasça: 

Certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Então a Princesa Sumana,¹ acompanhada por quinhentas carruagens e quinhentas acompanhantes da corte foi até o Abençoado e depois de cumprimentá-lo ela sentou a um lado e disse para o Abençoado: 

"Aqui, venerável senhor, podem haver dois discípulos do Abençoado iguais em convicção, comportamento virtuoso e sabedoria, mas um deles é generoso enquanto que o outro não é. Com a dissolução do corpo, após a morte. ambos renasceriam num destino feliz, no paraíso. Quando eles se tornassem devas, haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?" 

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "O generoso, tendo se tornado um deva, superaria o outro em cinco aspectos: no tempo de vida celestial, na beleza celestial, na felicidade celestial, na glória celestial e na autoridade celestial. O generoso, tendo se tornado um deva, superaria o outro nesses cinco aspectos." 

"Mas, venerável senhor, se os dois falecessem do paraíso e novamente se tornassem seres humanos, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?" 

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "Quando eles novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o outro em cinco aspectos: no tempo de vida humano, na beleza humana, na felicidade humana, na glória humana e na autoridade humana. Quando eles novamente se tornassem seres humanos, o generoso superaria o outro nesses cinco aspectos." 

"Mas, venerável senhor, se os dois abandonassem a vida em família e seguissem a vida santa, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?" 

"Haveria Sumana," o Abençoado respondeu. "O generoso tendo seguido a vida santa superaria o outro em cinco aspectos: (1) Em geral ele usaria mantos que tivessem sido especificamente oferecidos para ele, raramente ele usaria mantos que não tivessem sido especificamente oferecidos para ele.² (2) Em geral ele comeria comida esmolada que tivesse sido especificamente oferecida para ele, raramente ele comeria comida esmolada que não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (3) Em geral ele usaria moradia que tivesse sido especificamente oferecida para ele, raramente ele usaria moradia que não tivesse sido especificamente oferecida para ele. (4) Em geral ele usaria medicamentos que tivessem sido especificamente oferecidos para ele, raramente ele usaria medicamentos que não tivessem sido especificamente oferecidos para ele. (5) Os seus companheiros monásticos, aqueles com quem ele convive, em geral se comportariam de modo agradável através do corpo, linguagem e mente, raramente de modo desagradável. O generoso tendo seguido a vida santa superaria o outro nesses cinco aspectos." 

"Mas, venerável senhor, se os dois realizassem o estado de arahant, ainda haveria alguma distinção ou diferença entre os dois?" 

"Nesse caso, Sumana, eu declaro que não haveria diferença entre a libertação de um e a libertação do outro." 

"É maravilhoso e admirável, venerável senhor! Deveras, todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações meritórias, visto que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser humano, ou seguir a vida santa." 

"Assim é, Sumana! Assim é, Sumana! Deveras, todos têm bons motivos para prover alimentos e realizar ações meritórias, visto que isso será benéfico se alguém se tornar um deva, um ser humano, ou seguir a vida santa." 

Isso foi o que o Abençoado disse. Tendo dito isso, o Iluminado, o Mestre, disse ainda mais: 

"Tal como a lua imaculada
movendo-se através do espaço
supera com o seu brilho
todas as estrelas no mundo,
assim também quem é consumado no comportamento virtuoso,
uma pessoa dotada de convicção,
supera com a generosidade
todos os avaros no mundo.
"Tal como uma imensa nuvem de chuva,
trovejando, coroada por raios,
derrama a chuva sobre a terra,
inundando as planícies e as baixadas,
assim também o discípulo do Iluminado,
sábio com a visão consumada,
supera o avaro
em cinco aspectos:
tempo de vida e glória,
beleza e felicidade.
Possuindo riqueza, após a morte
ele se delicia no paraíso." 

Notas:               

      1.      Os comentários informam que ela era filha do Rei Pasenadi de Kosala.
      2.       Em termos literais: "os mantos que ele usa em geral são aqueles que lhe pediram que ele aceitasse, raramente mantos que ele não tenha sido pedido aceitar." Da mesma forma com relação aos demais requisitos.

- Anguttara Nikaya 5.31
XIII

Ações generosas praticadas por nós podem ajudar nossos parentes que possam ter renascido em planos existenciais mais baixos:

Então o brâmane Janussoni foi até o Abençoado e ambos se cumprimentaram. Quando a conversa amigável e cortês havia terminado, ele sentou a um lado e disse: 

"Mestre Gotama, nós brâmanes damos oferendas e realizamos cerimônias para os mortos com o pensamento: 'Que as nossas oferendas beneficiem nossos parentes e familiares que partiram. Que nossos parentes e familiares que partiram recebam a nossa oferenda.' A nossa oferenda, Mestre Gotama, pode na verdade beneficiar os nossos parentes e familiares que partiram? Os nossos parentes e familiares que partiram podem na verdade receber a nossa oferenda?" 

"Na ocasião certa, brâmane, poderá beneficiar, não na ocasião errada." 

"Mas, Mestre Gotama, qual é a ocasião certa e qual é a ocasião errada?" 

"Aqui, brâmane, alguém mata seres vivos, toma aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no inferno. Ele se sustenta e subsiste da comida dos seres no inferno. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra. 

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo animal. Ele se sustenta e subsiste da comida dos animais. Essa também é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra. 

"Alguém se abstém de matar seres vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ele se sustenta e subsiste da comida dos seres humanos. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra.
"Alguém se abstém de matar seres vivos ... tem entendimento correto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. Ele se sustenta e subsiste da comida dos devas. Essa é uma ocasião errada, quando a oferenda não irá beneficiar aquele que ali se encontra. 

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce no mundo dos fantasmas famintos. Ele se sustenta e subsiste da comida dos fantasmas famintos, ou então ele se sustenta com aquilo que os seus amigos, companheiros, parentes ou familiares neste mundo lhe oferecem. Essa é uma ocasião certa, quando a oferenda irá beneficiar aquele que ali se encontra." 

"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da oferenda se o parente ou familiar do falecido não renasceram nesse mundo?" 

"Outros parentes ou familiares falecidos que renasceram nesse mundo se beneficiam da oferenda." 

"Mas, Mestre Gotama, quem se beneficia da oferenda se nem os parentes ou familiares do falecido tampouco outros tenham renascido nesse mundo?" 

"Brâmane, durante este longo período de tempo [no samsara] é impossível e inconcebível que aquele mundo esteja desprovido de parentes ou familiares falecidos. Além disso, o doador também não fica desprovido de frutos." 

"O Mestre Gotama postula [o valor da generosidade] mesmo na ocasião errada?" 

"Brâmane, eu postulo [o valor da generosidade] mesmo na ocasião errada. 

"Aqui, Brâmane, alguém mata seres vivos, toma aquilo que não é dado, tem conduta sexual imprópria, emprega a linguagem mentirosa, a linguagem maliciosa, a linguagem grosseira, a linguagem frívola, é cobiçoso, tem má vontade, e tem entendimento incorreto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos, perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os elefantes. Ali ele obtém comida e bebida, e vários ornamentos. 

"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os elefantes. Mas visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e vários ornamentos. 

"Alguém mata seres vivos ... tem entendimento incorreto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os cavalos ... bois ... cachorros. Ali ele obtém comida e bebida, e vários ornamentos. 

"Visto que aqui ele matou seres vivos ... teve entendimento incorreto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os cavalos ... bois ... cachorros. Mas visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém comida e bebida, e vários ornamentos. 

"Alguém se abstém de matar seres vivos, de tomar aquilo que não é dado, da conduta sexual imprópria, da linguagem mentirosa, da linguagem maliciosa, da linguagem grosseira, da linguagem frívola, não é cobiçoso, tem boa vontade, e tem entendimento correto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; roupas, um veículo; ornamentos, perfume e ungüento; roupas de cama, moradia, e uma lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. Ali ele obtém os cinco elementos do prazer sensual humano. 

"Visto que aqui ele se absteve de matar seres vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os seres humanos. E visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer sensual humano. 

"Alguém se abstém de matar seres vivos, ... tem entendimento correto. Ele dá para um contemplativo ou brâmane comida, bebida; ... lamparina. Com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. Ali ele obtém os cinco elementos do prazer celestial. 

"Visto que aqui ele se absteve de matar seres vivos ... teve entendimento correto, com a dissolução do corpo, após a morte, ele renasce entre os devas. E visto que ele deu para um contemplativo ou brâmane comida, bebida ... ele ali obtém os cinco elementos do prazer celestial. [Foi por isso que eu disse:] 'Além disso, o doador também não fica desprovido de frutos'." 

"É admirável e maravilhoso, Mestre Gotama, que há razão em dar oferendas e realizar cerimônias em memória dos mortos, visto que o doador também não fica desprovido de frutos." 

"Assim é, brâmane! Assim é, brâmane! O doador também não fica desprovido de frutos." 

Magnífico, Mestre Gotama! Magnífico, Mestre Gotama! Mestre Gotama esclareceu o Dhamma de várias formas, como se tivesse colocado em pé o que estava de cabeça para baixo, revelasse o que estava escondido, mostrasse o caminho para alguém que estivesse perdido ou segurasse uma lâmpada no escuro para aqueles que possuem visão pudessem ver as formas. Eu busco refúgio no Mestre Gotama, no Dhamma e na Sangha dos bhikkhus. Que o Mestre Gotama me aceite como discípulo leigo que nele buscou refúgio para o resto da minha vida." 

- Anguttara Nikaya 10.177

XIV 

Os seis fatores com os quais a generosidade se torna uma fonte incalculável de mérito: 

Em certa ocasião o Abençoado estava em Savathi, no Bosque de Jeta, no Parque de Anathapindika. Agora naquela ocasião a discípula leiga Velukantaki Nandamata estava preparando uma oferenda com seis fatores para a Sangha dos bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. Com o olho divino que é purificado e sobrepuja o humano, o Abençoado viu a discípula leiga Velukantaki Nandamata preparando a oferenda e então se dirigiu aos bhikkhus: 

"Bhikkhus, a discípula leiga Velukantaki Nandamata está preparando uma oferenda com seis fatores para a Sangha dos bhikkhus liderada por Sariputta e Moggallana. E como uma oferenda possui seis fatores? Aqui, o doador possui três fatores e os recipientes possuem três fatores. 

"Quais são os três fatores do doador? (1) O doador sente alegria antes de dar; (2) ele tem uma mente tranquila ao dar; e (3) a sua mente se delicia depois de dar. Esses são os três fatores do doador. 

"Quais são os três fatores dos recipientes? Aqui, (4) os recipientes estão desprovidos de cobiça ou praticam para a remoção da cobiça; (5) eles estão desprovidos de raiva ou praticam para a remoção da raiva; (6) eles estão desprovidos de delusão ou praticam para a remoção da delusão. Esses são os três fatores dos recipientes. 

"Assim o doador possui três fatores e os recipientes possuem três fatores. Desse modo a oferenda possui seis fatores. Não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas assim: 'Tanto assim é essa fonte de méritos, fonte daquilo que é benéfico, alimento da felicidade, celestial, que resulta na felicidade, conduz ao paraíso, conduz ao que é desejável, prazeroso e almejado, para o bem-estar e a felicidade'; ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável, imensurável. Bhikkhus, tal como não é fácil medir a água no grande oceano assim: 'Há tantos litros de água,' ou 'Há tantas centenas de litros de água,' ou 'Há tantos milhares de litros de água,' mas ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de água incalculável, imensurável; assim também, não é fácil calcular o mérito de uma oferenda dessas ... ao invés disso é considerado simplesmente como uma grande massa de mérito incalculável, imensurável." 

Antes de dar há alegria;
enquanto dá a mente está tranquila;
depois de dar a mente se delicia:
esse é o êxito na generosidade.
Desprovidos da cobiça e da raiva,
desprovidos da delusão, sem impurezas,
com auto-controle, vivendo a vida santa,
o campo de méritos está completo.
Tendo se purificado¹
e dado com as próprias mãos,
a generosidade produz muitos frutos
para si mesmo e em relação aos outros.
Tendo sido generoso
com a mente livre da avareza,
a pessoa sábia, rica em fé,
renasce num destino feliz, num mundo sem aflições. 

Nota:   
    
      1.      Os comentários explicam isto de forma literal: lavar as mãos, os pés e a boca.

- Anguttara Nikaya 6.37
XV

Escala de ações meritórias:

Em certa ocasião o Abençoado estava próximo a Savatti, no Bosque de Jeta, o mosteiro de Anathapindika. Então Anathapindika o chefe de família foi até o Abençoado e, tendo chegado, prostrou-se diante dele e sentou-se de um lado. Conforme ele estava se sentando, o Abençoado disse a ele: “Chefe de família, oferendas ainda são dadas em sua família?” 
 
“Oferendas ainda são dadas em minha família, senhor, mas são inferiores: arroz quebrado cozido com farelo, acompanhado de picles em salmoura.¹” 

“Chefe de família, não importa se a oferenda for inferior ou refinada, se é dada de forma desatenta, de forma desrespeitosa, não com suas próprias mãos, como se estivesse jogando fora, com o pensamento de que nada virá disso [desta ação]: Seja lá aonde os resultados desta oferenda vieram à fruição, a mente de uma pessoa não irá se inclinar para o desfrute de comida esplendida, não irá se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, não irá se inclinar para o desfrute de veículos esplendidos, não irá se inclinar para o desfrute das esplendidas cinco correntes de sensualidade. E seus filhos e filhas, escravos, servos e trabalhadores não lhe darão ouvidos, não o ouvirão, não farão com que suas mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é assim? Porque este é o resultado da desatenção.

“Chefe de família, não importa se a oferenda é inferior ou refinado, se é dado atenciosamente, respeitosamente, com suas próprias mãos, não como se estivesse jogando fora, com o pensamento de que algo virá disso: Seja lá aonde os resultados daquela oferenda vier à fruição, a mente de uma pessoa irá se inclinar para o desfrute de comida esplendida, irá se inclinar para o desfrute de roupas esplendidas, irá se inclinar para o desfrute de veículos esplendidos, irá se inclinar para o desfrute das esplendidas cinco correntes de sensualidade. E seus filhos e filhas, escravos, servos e trabalhadores lhe darão ouvidos, escutarão, irão fazer com que suas mentes se inclinem para o bem de aprender. E porque é assim? Porque este é o resultado de ações atenciosas. 

“Certa vez, chefe de família, havia um brâmane chamado Velāma. E esta foi a natureza da oferenda, da grande oferenda, que ele deu: Ele deu 84,000 bandejas de ouro cheias de prata, 84,000 bandejas de prata cheias de ouro, 84,000 bandejas de bronze cheias de pedras preciosas. Ele deu 84,000 elefantes com ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com redes de fio de ouro. Ele deu 84,000 carruagens repletas de peles de leão, peles de tigre, peles de leopardos, cobertores com cor de açafrão, com ornamentos de ouro, estandartes de ouro, cobertos com redes de fio de ouro. Ele deu 84,000 vacas leiteiras com amarras de fina juta e baldes de bronze. Ele deu 84,000 donzelas adornadas com brinco de joias. Ele deu 84,000 sofás repletos de cobertores de longo velo, cobertores bordados, tapetes de pele de veados kadalis, cada um com um dossel em cima e almofadas vermelhas de ambos lados. Ele deu 84,000 comprimentos de pano – do linho mais fino, do algodão mais fino, da seda mais fina. Isso, claro, para não dizer nada da comida e bebida, loções e camas: Elas fluíam, por assim dizer, como rios.

“Agora, chefe de família, se o pensamento ocorrer a ti, ‘Talvez fosse outra pessoa que naquele tempo era Velāma o brâmane, que deu aquela oferenda, aquela grande oferenda,’ esta não é forma como desse ser visto. Eu era Velāma o brâmane naquele tempo. Eu dei aquela oferenda, aquela grande oferenda. Mas naquele presente não havia ninguém digno de oferendas; ninguém purificou aquela oferenda. 

“Se alguém alimentasse uma pessoa consumada em visão [i.e, um sotapanna], isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu.

“Se alguém alimentasse um sakadagami, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem pessoas consumadas em visão, maior ainda seria o fruto se alguém alimentasse um único sakadagami.” 

“Se alguém alimentasse um anagami, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem sakadagamis, maior ainda seria o fruto se alguém alimentasse um único anagami.” 

“Se alguém alimentasse um arahant, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém alimentasse cem anagamis...” 

“Se alguém alimentasse um Paccekabuddha, isso seria mais frutífero do que, etc. se alguém alimentasse cem arahants...” 

“Se alguém alimentasse um Tathagata – digno e devidamente auto-iluminado – isso seria mais frutífero do que, etc. se alguém alimentasse cem Paccekabuddhas...” 

“Se alguém alimentasse uma comunidade de monges liderada pelo Buda, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém alimentasse um Tathagata – digno e devidamente auto-iluminado.”

“Se alguém construísse um prédio e o dedicasse à Comunidade das quatro direções, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém alimentasse uma comunidade de monges liderada pelo Buda.” 

“Se com uma mente confiante alguém fosse ao Buda, Dhamma e Sangha para refúgio, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém construísse um prédio e o dedicasse à Comunidade das quatro direções.” 

“Se com uma mente confiante alguém empreendesse a seguir as regras do treinamento – refrear-se de tirar vida, refrear-se de tomar para si aquilo que não foi dado, refrear-se de sexo ilícito, refrear-se de mentir, refrear-se de bebidas destiladas e fermentadas que causa o descuido – isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém com uma mente confiante fosse ao Buda, Dhamma e Sangha para refúgio.”

“Se alguém desenvolvesse apenas um pouquinho de um coração com boa-vontade, isso seria mais frutífero do que, etc., se alguém com uma mente confiante empreendesse a seguir as regras do treinamento...”  

 “Se alguém desenvolvesse apenas por o tempo que leva o estalo dos dedos a percepção da inconstância, isso seria mais frutífero do que a oferenda, a grande oferenda, que Velāma o brâmane deu, e se [em adição a isso] alguém alimentasse cem pessoas consumadas em visão, cem sakadagamis, cem anagamis, cem arahants, cem Paccekabuddhas, um Tathagatha – digno e devidamente auto-iluminado – e alimentasse uma comunidade de monges liderada pelo Buda, e tivesse um prédio construído e dedicado à Comunidade das quatro direções, e com uma mente confiante fosse ao Buda, Dhamma e Sangha para refúgio, e com uma mente confiante empreendesse a seguir as regras de treinamento, e desenvolvesse por apenas um pouquinho um coração de boa-vontade, maior ainda seria o fruto se alguém desenvolvesse por o tempo que leva para estalar os dedos a percepção da inconstância.” 

Nota:

    1.      Os comentários dizem que Anathapindika está aqui se referindo às esmolas que ele dava aos pobres; as esmolas para o Sangha continuavam a ser de alta qualidade. Porém, pode ter sido que este discurso tenha acontecido durante uma época de fome, quando até mesmo Anathapindika foi reduzido a dar apenas comida inferior a ambos o Sangha e os pobres. Se este é o caso, então podemos ler as observações do Buda para Anathapindika como uma forma de tranquiliza-lo de que em circunstâncias difíceis ainda sim é frutífero ser generoso, até mesmo quando só podemos dar coisas de baixa qualidade. O mérito da oferenda é determinado mais pelo estado de mente com qual o é dado do que pela qualidade externa da oferenda. 

- Anguttara Nikaya 9.20 

XVI

Doações e presentes de coisas materiais são bons, mas o presente do Dhamma excede todas as outras: 

[Um deva:]

Um doador de que, é um doador de força?
Um doador de que, é um doador de beleza?
Um doador de que, é um doador de alívio?
Um doador de que, é um doador de visão?
E quem é um doador de tudo?
               Tendo sido questionado, por favor, explique-me isso.

[O Buda:]

Um doador de alimento é um doador de força.
Um doador de roupas, um doador de beleza.
Um doador de veículos, um doador de alívio.
Um doador de lâmpadas, um doador de visão.
E aquele que doa uma residência é o que doa tudo.
                       Mas aquele que
                       ensina o Dhamma
                       é um doador do Imortal.

- Samyutta Nikaya 1. 42

*   *   *

Isso foi dito pelo Abençoado, dito pelo Arahant, assim ouvi: “Há estes três tipos de presente: um presente de coisas materiais e um presente do Dhamma. Destes dois, este é o supremo: um presente do Dhamma. Há dois tipos de compartir: o compartir de coisas materiais e o compartir do Dhamma. Destes dois, este é supremo: o compartir do Dhamma. Há estes dois tipos de assistência: assistência com coisas materiais e assistência com o Dhamma. Destes dois, esse é o supremo: ajuda com o Dhamma.”  

O presente que ele descreve
como sendo o principal e inigualável,
o compartir que o Abençoado exaltou:
quem  – confiante no supremo campo de mérito,
                 sábio, perspicaz –
não o daria em horas apropriadas?
Ambos para aqueles que proclamam
e aqueles que escutam,
confiantes na mensagem do Bem-Aventurado:
isso purifica seu benefício principal –
aqueles que dão ouvidos a mensagem do Bem-Aventurado.

- Itivuttaka 98



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