domingo, 12 de janeiro de 2014

Perguntas para o Instrutor



Perguntas para o Instrutor

Por

Ajahn Chah

Tradução

Davi Coêlho

Um dos modos mais prazerosos de receber instruções de Ajahn Chah é sentar-se em sua cabana e ouvir conforme ele responde as perguntas para os monges do mosteiro e o constante fluxo de visitantes leigos. É aqui que podemos ver a universalidade deste modo de prática, pois apesar de que em alguns dias ele possa discutir apenas a plantação de arroz com um fazendeiro local, a maioria das perguntas que escutamos são as mesmas vindas tanto de asiáticos quanto de ocidentais. Eles perguntam sobre dúvidas e medos, modos de acalmar o coração, as possibilidades e dificuldades de se viver uma vida virtuosa e meditativa. 

Cem ou duzentos ou mais estudantes europeus e americanos encontraram seu caminho para as florestas rurais da Tailândia para praticar em Wat Ba Pong e seus mosteiros afiliados através dos anos. Nestes estão inclusos pessoas que estão em busca e viajantes, médicos e voluntários do Corpo da Paz, velhos e jovens. Alguns vieram para se ordenar permanentemente e fazer do caminho monástico o seu meio de vida. Outros ficam por curtos períodos de treinamento e então retornam para o Ocidente para integrar e aplicar o modo de atenção plena a suas vidas de dono de casa. 

Algumas das perguntas que seguem foram feitas durante o retiro do período de chuva de 1970 por monges, ambos ocidentais e tailandeses. Outras vieram de uma sessão mais recente durante uma visita por estudantes leigos ocidentais e professores do Dhamma ao Wat Ba Pong. Se você ouvir com cuidado às respostas para estas perguntas, você verá que cada uma delas aponta para um modo de prática e liberdade que você mesmo pode usar em sua vida. Cada resposta contém sementes do Dhamma da libertação, e cada uma aponta de volta para a fonte do verdadeiro insight e compreensão – seu próprio coração e mente. 

Perguntas e Respostas

Uma parte dessas perguntas, respostas e discussões com Ajahn Chah foi gravada durante a visita de um grupo de discípulos ocidentais e professores do Dharma ao Wat Ba Pong. Incluído aqui também estão partes de perguntas e respostas de Mestres Budistas vivos, reunidas durante o início do retiro do período de chuva de 1970 no mosteiro de Wat Ba Pong. 


P: Como devemos começar nossa prática? Devemos começar com uma fé forte?

R: Muitas pessoas começam com pouca fé e pouca compreensão. Isso é bastante natural. Devemos todos começar em algum lugar. O que importa é que aqueles que praticam devem estar dispostos a olhar para dentro de suas próprias mentes, suas próprias circunstâncias, a aprenderem sobre eles mesmos diretamente. Então fé e compreensão irão amadurecer em seus corações. 

P: Eu estou tentando muito em minha prática, mas parece que eu não consigo chegar a lugar algum. 

R: Não tente chegar a lugar algum em sua prática. O próprio desejo de estar livre ou torna-se iluminado será o desejo que vai impedir sua liberdade. Você pode tentar o quanto quiser, praticar ardentemente por noite e dia, mas se você ainda tem o desejo de alcançar algo, você nunca encontrará paz. A energia deste desejo causará dúvida e ansiedade. Não importa por quanto tempo ou quão duro você pratique, sabedoria não surgirá do desejo. Apenas desprenda-se disso. Observe a mente e o corpo atenciosamente, mas não tente alcançar algo. Caso contrário, quando você estiver começando a praticar meditação e seu coração começar a se acalmar, você imediatamente pensará, “Oh, será que estou perto do primeiro estágio ainda? Quanto será que ainda falta para chegar até lá?” E neste mesmo instante, você perderá tudo. É melhor apenas observar como a prática se desenvolve naturalmente. 

Você deve prestar atenção sem nenhum conceito de níveis, apenas e diretamente ao que está acontecendo em seu coração e mente. Quanto mais você observar, mais claramente verá. Se você aprender a prestar atenção totalmente, então você não terá que se preocupar sobre qual estágio você alcançou; apenas continue na direção certa, e as coisas irão se desdobrar para você naturalmente. 

Como é que posso falar da essência da prática? Andar para frente não é correto, andar para trás não é correto, e ficar parado em pé não é correto. Não há modo algum de medir ou categorizar a libertação. 

P: Mas não estamos procurando por uma concentração mais profunda na prática?

R: Ao sentar-se [para meditar], se seu coração se tornar quieto e concentrado, isso é uma ferramenta importante para usar. Mas você tem que ter cuidado para não se prender à tranquilidade. Se estiver se sentando apenas para ficar concentrado para que você possa se sentir feliz e prazeroso, você está desperdiçando seu tempo. A prática é sentar-se e deixar seu coração se tornar imóvel e concentrado e então usar esta concentração para examinar a natureza dessa mente e corpo. Caso contrário, se você apenas fizer a mente-coração quieto, será pacífico e livre de máculas apenas enquanto você estiver sentado. Isso é como usar uma pedra para cobrir a abertura de um esgoto; quando retirar a pedra, o espaço lá dentro ainda está infestado e cheio de lixo. A questão não é quanto tempo você se senta. Você deve usar sua concentração não para se perder temporariamente em benção, mas para examinar a natureza da mente e do corpo. É isso o que de fato te liberta. 

Examinando a mente e corpo diretamente não envolve o uso de pensamento. Há dois níveis de examinar. Um é pensativo e discursivo, mantendo-o preso a uma percepção superficial da experiência. A outra é silenciosa, concentrada, uma espécie de audição interna. Apenas quando o coração estiver concentrado e imóvel é que a sabedoria verdadeira poderá surgir naturalmente. No início, a sabedoria é uma vez muito baixinha, uma jovem e tenra planta apenas começando a surgir da terra. Se você não compreende isso, você poderá pensar muito a respeito e pisar tudo em cima. Mas se você sentir isso silenciosamente, então neste espaço, você poderá sentir um senso da natureza básica desse corpo e processo mental. É esta visão que lhe conduz a aprender sobre mudança, sobre o vazio e sobre a impessoalidade do corpo e mente. 

P: Mas se não estamos à procura de nada, então o que é o Dhamma?

R: Todo o lugar que você olhar é o Dhamma; a construção de um prédio, caminhar por uma estrada, sentar-se no banheiro, ou aqui no salão de meditação, tudo isso é Dhamma. Quando você compreende corretamente, não há nada no mundo que não seja Dhamma. 

Mas você deve compreender. Felicidade e infelicidade, prazer e dor estão sempre conosco. Quando você entende a natureza destes, o Buda e o Dhamma estão bem ali. Quando você vê claramente, cada momento de experiência é o Dhamma. Mas a maioria das pessoas reagem cegamente a qualquer coisa prazerosa, “Oh, eu gosto disso, eu quero mais,” e a qualquer coisa desagradável, “Vai embora, eu não gosto disso, eu não quero mais disso.” Se, ao invés disso, você puder se abrir inteiramente para a natureza de cada experiência da forma mais simples, você se tornará uno com o Buda.   

É tão simples e objetivo uma vez que você compreende. Quando coisas prazerosas surgem, entenda que são vazias. Quando coisas desagradáveis surgem, entenda que elas não são você, não são suas; elas vão embora. Se você não se relacionar com os fenômenos como sendo você ou se ver como o dono deles, a mente entra em equilíbrio. Este equilíbrio é o caminho correto, o ensinamento correto do Buda que conduz à libertação. Frequentemente as pessoas ficam tão empolgadas – “Eu posso atingir este nível ou aquele de samadhi?” ou “Quais poderes posso desenvolver?” Eles pulam completamente o ensinamento do Buda para algum outro mundo que não é de muita utilidade. O Buda é encontrado nas coisas mais simples à sua frente, se você estiver disposto a olhar. E a essência deste equilíbrio é a mente que não se agarra. 

Quando você começa a praticar, é importante ter um senso adequado de direção. Ao invés de apenas tentar encontrar qual caminho seguir ou dar voltas em círculos, você deve consultar um mapa ou alguém que já esteve lá antes para estabelecer um senso da estrada. O caminho para a libertação primeiro ensinado pelo Buda foi o Caminho do Meio que está entre dois extremos de indulgência e automortificação. A mente deve estar aberta a todas as experiência sem perder seu equilíbrio e cair nestes dois extremos. Isso permite você enxergar coisas sem reagir ou agarrá-las ou querer empurrá-las para longe de si.  

Quando você compreender este equilíbrio, então o caminho se torna mais claro. Conforme você cresce em entendimento, quando as coisas que são prazerosas vem, você se dá conta que elas não irão durar, que são vazias, que elas não oferecem segurança alguma. Coisas desagradáveis também não apresentarão problema algum pois você verá que elas também não duram, que são igualmente vazias. Finalmente, conforme você viajar ao longo da estrada, você verá que nada no mundo tem qualquer valor essencial. Não há nada ao que se prender. Tudo é como uma casca de banana velha ou a casca de um coco – você não tem uso algum para isso, nenhum fascínio. Quando você vê que as coisas no mundo são como cascas de banana que não tem muito valor para você, então você está livre para andar pelo mundo sem ser perturbado ou machucado de qualquer forma. Este é o caminho que o conduz à liberdade.

P: Você recomenda que aprendizes façam longos retiros, intensivos e silenciosos?

R: É em grande parte uma questão individual. Você deve aprender a praticar em todos os tipos de situação, ambos no mercado e quando você estiver realmente sozinho. Ainda sim, começar em um lugar onde é quieto ajuda muito; esse é um motivo do porquê vivemos na floresta. No início você faz as coisas devagar, trabalhando para se tornar atencioso. Após isso, você pude aprender a ter atenção plena em qualquer situação. 

Algumas pessoas têm perguntado sobre fazer um retiro intenso e silencioso de seis meses ou um ano. Para isso não pode haver regras; deve ser determinado individualmente. São como carros de bois que as pessoas do vilarejo usam por aqui. Se o motorista for carregar uma carga para alguma cidade, ele tem que avaliar a força da carroça, as rodas e os bois. Será que conseguem aguentar ou não? Do mesmo modo, o instrutor e o aprendiz devem ser sensíveis a ambas as possibilidades e limitações. O estudante está preparado para este tipo de prática? É o tempo certo? Seja sensível e sensato; conheça e respeite seus próprios limites. Isso também é sabedoria.
O Buda falou sobre dois estilos de prática: libertação através da sabedoria e libertação através da concentração. As pessoas cujo estilo é libertação através da sabedoria escutam o Dhamma e imediatamente o compreendem. Já que o ensinamento inteiro é apenas se desprender das coisas, deixar as coisas serem, eles começam a prática de se desprender de uma forma bastante natural, sem uma grande quantia de esforço ou concentração. Esta simples prática podem levá-los eventualmente àquele lugar além; ‘onde não há mais desprender-se e nada ao que se agarrar.’

Algumas pessoas, por outro lado, dependendo de seu histórico, precisam de muito mais concentração. Eles precisam se sentar e praticar de uma forma bem disciplinada através de um longo período de tempo. Para estes, esta concentração, se for usada adequadamente, se torna a base para insight profundo e penetrante. Uma vez que a mente esteja concentrada, é como ter concluído o Ensino Médio – você agora pode ir para universidade e estudar um monte de coisas. Uma vez que samadhi esteja bem consolidado, você pode entrar em diferentes planos de absorção, ou você pode experimentar vários níveis de insight, dependendo em como você decide escolher usá-los. 

Em ambos os casos, a libertação através da sabedoria e libertação através da concentração devem chegar à mesma liberdade na prática. Qualquer uma das ferramentas de nossa prática aplicadas sem apego podem nos trazer à libertação. Até mesmo os preceitos – seja os cinco preceitos para leigos, ou os dez preceitos para os noviços, ou os duzentos e vinte e sete preceitos para monges – podem ser usados da mesma forma. Porque estas são disciplinas que requerem atenção plena e rendição, não há limites para sua utilidade. Por exemplo, se você continuar apenas refinando o preceito básico de ser honesto, aplicando-o em suas ações externas e contemplação interna, ele não tem limite. Como qualquer outra ferramenta do Dhamma, isso pode te libertar. 

P: É útil praticar a meditação do amor-bondoso como uma parte separada de nossa prática?

R: Repetir as palavras de amor-bondoso pode ser útil, mas isso é uma prática um tanto elementar. Quando você tiver realmente olhado para sua própria mente e realizou a prática Budista essencial corretamente, compreenderá que o verdadeiro amor aparece. Quando você se desprende da noção de ‘eu’ e outro, então há um profundo e natural desenvolvimento que é diferente da brincadeira de criança de repetir a fórmula, “Que todos os seres sejam felizes; que todos os seres não sofram.” 

P: Onde devemos ir para estudar o Dhamma?

R: Se você procurar pelo Dharma, verá que ele não tem nada a ver com florestas, as montanhas, ou cavernas – ele existe inteiramente no coração. A linguagem do Dhamma não é inglês nem tailandês nem sânscrito. Tem uma linguagem própria, que é a mesma para todas as pessoas – a língua da experiência. Há uma grande diferença entre conceitos e experiência direta. Seja lá quem colocar seu dedo em um copo de água quente terá a mesma experiência do calor, mas isso é chamado por muitas palavras em línguas diferentes. Similarmente, seja lá quem olhar profundamente para o coração terá a mesma experiência, não importa qual seja sua nacionalidade ou cultura ou língua. Se em seu coração você vier a saborear o Dhamma, você se tornará uno com os outros, como se junta-se a uma grande família. 

P: Então o Budismo é bem diferente de outras religiões? 

R: É a tarefa de religiões genuínas, Budismo incluído, trazer às pessoas a felicidade que vem de ver claramente e honestamente como as coisas são. Em qualquer momento que uma religião ou sistema ou prática realiza isso, você pode chamar isso de Budismo se quiser.  

Na religião Cristã, por exemplo, um dos feriados mais importantes é o Natal. Um grupo de monges ocidentais decidiram ano passado fazer do Natal um dia especial, com uma cerimonia de doações de presentes e realização de mérito. Vários outros discípulos meus questionaram isso, dizendo, “Se eles são ordenados como Budistas, como é que podem celebrar o Natal? Isso não seria um feriado Cristão?”

Em meu discurso do Dhamma, eu expliquei como todas as pessoas no mundo são fundamentalmente as mesmas. Chamando-as de europeus, americanos, ou tailandeses apenas indica onde eles nasceram ou a cor de seus cabelos, mas todos têm basicamente o mesmo tipo de mente e corpo; todos pertencem à mesma família de pessoas que nascem, envelhecem e morrem. Quando você compreende isso, as diferenças tornam-se insignificantes. Similarmente, se o Natal é uma ocasião onde as pessoas fazem algum esforço particular para fazer o que é bom e generoso e ajudar outros de alguma maneira, isso é importante e maravilhoso, não importa qual sistema você use para descrevê-lo.

Então eu disse para os aldeões, “Hoje estamos celebrando o Budal” [Nota do tradutor: Ajahn Chah fez aqui uma junção da palavra inglesa para Natal que é ‘Christmas’ com o nome do Buda em inglês, ‘Buddha’, que ficou “Christbuddhamas’, isso é meio difícil de passar para o português]. Enquanto as pessoas estiverem praticando adequadamente, elas estão praticando Cristo-Budismo, e as coisas estão bem. 

Eu ensino desta maneira para capacitar as pessoas a deixarem os seus apegos aos vários conceitos e a ver o que está acontecendo de uma maneira bem direta e natural. Qualquer coisa que nos inspire a ver o que é verdadeiro e fazer o que é bom é prática adequada. Você pode chamar de qualquer coisa que queira. 

P: Você acha que a mente de asiáticos e ocidentes são diferentes?

R: Basicamente, não há diferença. Costumes exteriores e linguagem podem parecer diferente, mas a mente humana tem características naturais que são as mesmas para todas as pessoas. Ganância e ódio são os mesmos em uma mente oriental e ocidental. Sofrimento e a cessação do sofrimento são os mesmos para todas as pessoas. 

P: É aconselhável ler muito ou estudar as escrituras como parte da prática?

R: O Dhamma do Buda não é encontrado em livros. Se você quiser realmente ver por si próprio o que o Buda de fato estava falando, você não precisa se preocupar com livros. Observe sua mente. Examine para ver como sentimentos e pensamentos vem e vão. Não se apegue a nada, apenas esteja plenamente atento a qualquer coisa que há para ver. Esse é o caminho para as verdades do Buda. Seja natural. Quando for fazer suas tarefas, tente estar plenamente atento. Se estiver esvaziando uma escarradeira ou limpando um vaso sanitário, não sinta como se estivesse fazendo isso como um favor para alguém. Há Dhamma ao esvaziar uma escarradeira. Não se sinta como se você estivesse praticando apenas quando estiver sentado de pernas cruzadas. Alguns de vocês reclamaram que não há tempo o suficiente para meditar. Há tempo o suficiente para respirar? Essa é sua meditação: atenção plena, naturalidade, em qualquer coisa que você faça. 

P: Porque não temos entrevistas diárias com o instrutor?

R: Se tiver perguntas, você é bem-vindo para vim e pergunta-las a qualquer momento. Mas não precisamos de entrevistas diárias aqui. Se eu respondesse cada mínima pergunta, você nunca entenderá o processo da dúvida em sua própria mente. É essencial que você aprenda a examinar a si mesmo, a se entrevistar. Ouça atentamente aos discursos de tempo em tempo, e então use este ensinamento para comparar com sua própria prática. É o mesmo? É diferente? Você tem dúvidas? Quem é que duvida? Apenas através do autoexame é que você pode compreender. 

P: O que posso fazer a respeito das dúvidas? Alguns dias fico atormentado com dúvidas sobre a prática ou sobre meu próprio progresso ou sobre o instrutor. 

R: Duvidar é natural. Todos nós começamos com dúvidas. Você pode aprender muito delas. O que é importante é que você não se identifique com suas dúvidas. Isto é, não se perca nelas, deixando sua mente girar em círculos inacabáveis. Ao invés disso, observe o processo inteiro de duvidar, de se perguntar. Veja quem é que duvida. Veja as dúvidas irem e virem. Então você não mais será vítima de suas dúvidas. Você sairá delas, e sua mente irá se aquietar. Você pode ver como todas as coisas vem e vão. Apenas desprenda-se daquilo ao que você está apegado. Deixe ir de suas dúvidas e apenas observe. É assim que se acaba com as dúvidas.   

P: E o que dizer de outros métodos de prática? Hoje em dia, parece haver tantos instrutores e tantos sistemas diferentes de meditação que chega a ser confuso. 

R: É como ir à cidade. Pode-se ir aproximando-a pelo norte, pelo sudoeste, por muitas estradas. Muitas vezes estes sistemas apenas diferem-se exteriormente. Não importa se você anda em um caminho ou outro, rápido ou devagar, se estiver com atenção plena, é tudo a mesma coisa. Há um ponto essencial de que toda boa prática deve eventualmente levar ao desprendimento.  No fim das contas, você deve se desprender de todos os sistemas de meditação. Nem mesmo ao instrutor você pode se prender. Se um sistema lhe conduz à renúncia, ao desprendimento, então é prática correta. 

Você pode desejar viajar, para visitar outros instrutores e tentar outros sistemas. Alguns de vocês já fizeram isso. Este é um desejo natural. Você perceberá que mil perguntas feitas e conhecimento de muitos sistemas não o trará para a verdade. Eventualmente irá se cansar. Você verá que apenas ao parar e examinar seu próprio coração é que poderá encontrar o que o Buda estava falando. Não há necessidade para ir procurar por nada fora de si mesmo. Eventualmente, você deve retornar para encarar sua própria natureza. Bem onde você está é onde você pode compreender o Dhamma. 

P: Muitas vezes parece que muitos monges aqui não estão praticando. Eles parecem desleixados ou desatentos, e isso me incomoda. 

R: Vendo outros monges se comportarem mal, você fica irritado e sofre desnecessariamente, pensando, “Ele não é tão estrito como eu sou. Eles não são meditadores sérios como nós. Eles não são bons monges.” 

Tentar fazer com que todos ajam como você deseja que eles ajam apenas lhe trará sofrimento. Ninguém pode praticar por você, nem você pode praticar para qualquer outra pessoa. Observar outras pessoas não ajudará sua prática; observar outras pessoas não irá desenvolver sabedoria. É uma grande mácula da sua parte. 

Não faça comparações. Não descrimine. Descriminação é perigoso, como uma estrada com uma curva bem acentuada. Se pensarmos que os outros são piores do que, melhores do que ou os mesmos que nós, saímos da estrada. Se descriminarmos, apenas sofreremos. Não caba a você julgar se a disciplina de outros é má ou se são bons monges. A disciplina de monges é uma ferramenta para usar em sua meditação, não uma arma para criticar ou encontrar erros. 

Abandone suas opiniões e observe a si mesmo. Este é nosso Dhamma. Se estiver irritado, observe essa irritação em sua mente. Apenas esteja plenamente atento de suas próprias ações; apenas examine a si mesmo e seus sentimentos. Então você entenderá. Esse é o modo de praticar. 

P: Eu tenho sido extremamente cuidadoso a praticar a restrição dos sentidos. Eu sempre mantenho meus olhos para baixo e estou plenamente atento de cada ação que faço. Quando como, por exemplo, eu levo um bom tempo para tentar ver cada passo – mastigando, saboreando, engolindo – e assim por diante, e cada passo que dou é deliberado e cuidadoso. Estou praticando corretamente?

R: Restrição dos sentidos é prática adequada. Devemos estar plenamente atentos disso durante o dia. Mas não exagere. Ande, coma, e aja naturalmente, e então desenvolva atenção plena natural do que está acontecendo dentro de si. Tentar forçar sua meditação ou forçar a si mesmo a agir de formas desajeitadas é outra forma de desejo. Paciência e persistência são necessárias. Se você agir naturalmente e estiver plenamente atento, sabedoria virá naturalmente.  

P: Então qual é o seu conselho para novos praticantes?

R: O mesmo para velhos praticantes! Mantenha-se no caminho. 

P: Eu consigo observar a raiva e trabalhar com a ganância, mas como é que alguém observa a delusão?

R: Você está cavalgando em um cavalo e perguntando, ‘Onde está o cavalo?’ Preste atenção.

P: E no que diz respeito ao sono? Quanto devo dormir?

R: Não pergunte isso a mim, eu não posso te dizer. O que é importante, porém, é que você observe e conheça a si mesmo. Se você tentar ir com pouco sono, o corpo se sentirá desconfortado, e a atenção plena será difícil de manter. Muito sono, por outro lado, lhe conduz a um estado mental de torpor ou agitação. Encontre o equilíbrio natural para você. Cuidadosamente observe a mente e o corpo, e fique atento às necessidades de dormir até que você encontre a melhor escolha. Acordar e depois se deitar para uma soneca é uma mácula. Estabeleça atenção plena assim que você abrir seus olhos.  

Enquanto à sonolência, há muitos modos de superá-la. Se você está sentando no escuro, mude para um lugar onde haja luz. Abra seus olhos. Levante-se e vá lavar ou dar uns tapas no seu rosto, ou tomar banho. Se você estiver sonolento, mude de postura. Ande muito. Ande para trás. O medo de tropeçar nas coisas o manterá acordado. Se isso não der certo, fique de pé parado, limpe a mente de tudo, e imagine que é pleno dia. Ou então se sente na ponta de um precipício ou poço fundo. Você não ousará dormir! Se nada der certo, então apenas vá dormir. Deite-se cuidadosamente, e tente estar atento ao momento em que você adormece. Então assim que você acordar, levante-se imediatamente. 

P: E enquanto a comer? Qual é a quantia certa que se deve comer?

R: Comer é o mesmo que dormir. Você deve saber por si próprio. Comida deve ser consumida para atender às necessidades do corpo. Olhe para comida como remédio. Você está comendo tanto que se sente sonolento depois de uma refeição e você está ficando mais gordo a cada dia? Tente comer menos. Examine seu próprio corpo e mente, e assim que mais de cinco colheradas forem lhe fazer ficar cheio, pare e beba água até que esteja cheio. Vá e sente-se. Observe a sonolência e fome. Você deve aprender a balancear o quanto come. Conforme sua prática se aprofunda, você naturalmente se sentirá mais energético e comerá menos. Mas deve ajustar a si mesmo. 

P: É necessário sentar por períodos de tempo muito longos? 

R: Não, sentar-se por horas a fio não é necessário. Algumas pessoas acham que quanto mais tempo pode se sentar, mais sábio você deve ser. Eu já vi galinhas sentarem-se em seus ninhos por dais a fio. Sabedoria vem de estar plenamente atento em todas as posturas. Sua prática deve começar assim que você acordar pela manhã e deve continuar até que você adormeça. Não esteja preocupado por quanto tempo você consegue sentar. O que é importante é que você mantenha vigilância, seja quando estiver andando ou sentando ou indo ao banheiro.  

Cada pessoa tem seu próprio passo natural. Alguns de vocês morrerão aos cinquenta anos de idade, outros aos sessenta, e alguns aos noventa. Assim, também, suas práticas não serão idênticas. Não pense ou se preocupe com isso. Tente estar plenamente atento, e deixe as coisas irem ao seu curso natural. Então sua mente se tornará quieta em todos os ambientes, como uma límpida lagoa na floresta. Todos os tipos de animais raros e maravilhosos virão para beber na lagoa, e você verá claramente a natureza de todas as coisas. Você verá muitas coisas estranhas e maravilhosas irem e virem, mas você estará imóvel. Esta é a felicidade do Buda. 

P: Eu ainda tenho muitos pensamentos, e minha mente vagueia muito, mesmo quando estou tentando estar plenamente atento. 

R: Não se preocupe com isso. Apenas tente manter sua mente no presente. Qualquer coisa que surja na mente, apenas observe e deixe ir. Nem mesmo deseje estar livre de pensamentos. Então a mente irá retornar ao seu estado natural. Nada de discriminar entre bom e mau, quente e frio, rápido e lento. Nada de eu e nem você, nenhum ‘eu’ de qualquer modo – apenas o que há. Quando você andar não há necessidade de fazer nada especial. Apenas ande e veja o que está ali. Não precisa se apegar à isolação ou reclusão. Onde quer que esteja, conheça a si mesmo por ser natural e observando. Se dúvida surgir, observe-as vindo e indo. É muito simples. Não se agarre a nada.  

É como se você estivesse andando por uma estrada. Periodicamente você irá se deparar com obstáculos. Quando você encontrar máculas, apenas as veja e supere-as por desprender-se delas. Não pense sobre obstáculos que você já superou; não se preocupe sobre aqueles que você ainda não viu. Fique com o presente. Não esteja preocupado sobre a extensão do percurso ou a destinação. Tudo está mudando. Seja lá pelo que você passar, não se agarre a isso. Eventualmente a mente irá alcançar seu equilíbrio natural onde a prática é automática. Todas as coisas virão e irão por si mesmas. 

P: E o que dizer de empecilhos específicos que são difíceis? Por exemplo, como podemos superar o desejo sexual em nossa prática? Às vezes eu sinto como se fosse um escravo de meus desejos sexuais.

R: Desejo sexual deve ser balanceado pela contemplação da repugnância. Apego à forma corporal é um extremo, e devemos manter o oposto em mente. Examine o corpo como um cadáver e veja o processo de decomposição, ou reflita sobre as partes do corpo, tais como os pulmões, o baço, gordura, fezes, e assim por diante. Lembrando-se destes e visualizando os aspectos repulsivos do corpo irá te libertar do desejo sexual. 

P: E que dizer da raiva? O que eu devo fazer quando sentir raiva surgindo?

R: Você pode simplesmente se desprender dela, ou então aprenda a usar a meditação do amor-bondoso. Quando estados mentais de raiva surgirem fortemente, equilibre isto por desenvolver sentimentos de amor-bondoso. Se alguém lhe fizer mal ou ficar irritado, não se irrite você também. Se você fizer isso, estará sendo mais ignorante que eles. Seja sábio. Mantenha compaixão em mente, pois aquela pessoa está sofrendo. Encha sua mente com amor-bondoso como se aquela pessoa fosse um irmão querido. Concentre-se no sentimento de amor-bondoso como um tópico de meditação. Espalhe para todos os seres no mundo. Apenas através do amor-bondoso é que o ódio pode ser superado. 

P: Porque devemos fazer umas 50 e tantas prostrações?

R: Prostrar-se é uma forma externa muito importante da prática que deve ser feita corretamente. Traga a testa até o chão. Tenha os cotovelos próximos dos joelhos, mais ou menos três centímetros de distância. Prostre-se lentamente, atento ao seu corpo. É um bom remédio para nossa presunção. Devemos prostra-nos com frequência.  Quando você se prostrar três vezes, você pode manter em mente as qualidades do Buda, do Dhamma, e do Sangha, isto é, as qualidades de pureza, esplendor e paz. Usamos a forma externa para treinarmos a nós mesmos, para harmonizar corpo e mente. Não faça o erro de observar como outros se prostram. Se jovens noviços são desleixados ou os monges anciãos aparentam estar desatentos, não cabe a você julgar. As pessoas podem ser difíceis de treinar. Alguns aprendem rápido, mas outros aprendem de forma lenta. Julgar os outros apenas aumentará o seu orgulho. Observe a si mesmo ao invés. Prostre com frequência; livre-se de seu orgulho. 

Aqueles que realmente se harmonizaram com o Dhamma vão bem mais longe do que a forma externa. Porque eles foram além do egoísmo, tudo que fazem é um modo de prostrar – andando, eles prostram; comendo, eles prostram; defecando, eles prostram.  

P: Qual é o maior problema para seus novos discípulos?

R: Opiniões. Pontos de vista e ideias sobre todas as coisas, sobre si mesmos, sobre a prática, sobre os ensinamentos do Buda. Muitos destes que vem aqui têm uma alta posição na sociedade. São mercadores ricos, universitários graduados, professores, oficiais do governo. Suas mentes estão cheias de opiniões sobre as coisas, e eles são espertos demais para ouvirem outros. Aqueles que são espertos demais vão embora após um curto período de tempo; eles nunca aprendem. Você deve se livrar de sua esperteza. Um copo cheio de água suja é inútil. Apenas depois que a velha água é jogada fora é que o copo pode mais uma vez se tornar útil. Vocês devem esvaziar suas mentes de opiniões; então verá. Nossa prática vai além da esperteza e estupidez. Se você pensar, “Eu sou inteligente, eu sou rico, eu sou importante, eu entendo tudo sobre Budismo,” você cobre a verdade de anatta, ou impessoalidade. Tudo o que verá é ‘eu’, ego, meu. Mas Budismo é sobre desprender-se de ‘eu’ – vacuidade, vazio, Nirvana. Se você pensar que é melhor do que outros, você apenas sofrerá. 

P: Máculas como ganância e ódio são meramente ilusórias ou são verdadeiras?

R: São ambas. As máculas que chamamos de lascívia ou ganância, raiva e delusão, são apenas nomes externos e aparências, assim com chamamos uma tigela de larga, pequena ou bonita. Se quisermos uma tigela grande, chamamos aquela de pequena. O desejo nos causa a discriminar, enquanto que a verdade é meramente aquilo que é. Veja da seguinte maneira. Você é um homem? Sim? Essa é a aparência das coisas. Mas na verdade você é apenas uma combinação de elementos ou um grupo de agregados que estão mudando. Se a mente está livre ela não discrimina. Nada de grande ou pequeno, nada de você e eu, nada. Dizemos anatta, ou não-eu, mas na verdade, no fim das contas, não há nem atta ou anatta. 

P: Você poderia falar mais um pouco sobre kamma?

R: Kamma é ação. Kamma é agarrar-se. Corpo, fala e mente são tudo kamma quando nos apegamos. Criamos hábitos que podem nos fazer sofrer no futuro. Este é o fruto de nosso apego, de nossas máculas passadas. 

Quando somos jovens, nossos pais ficavam bravos e nos disciplinavam porque eles queriam nos ajudar. Nós ficávamos chateados quando nossos pais e professores nos criticavam, mas depois, podíamos ver o porquê. Isso é como kamma. Suponha que você fosse um ladrão antes de você ter se tornado um monge. Você roubava, fazia os outros, seus pais incluindo, infelizes. Agora você é um monge, mas quando você se lembra de como fez os outros infelizes, você se sente mal e sofre até hoje. Ou se você fez algum gesto de bondade no passado e lembra-se dele hoje, você será feliz, e este estado mental de felicidade é o resultado de kamma passado. 

Lembre-se, não apenas o corpo, mas ações através da fala e mente também podem criar condições para resultados futuros. Todas as coisas são condicionadas pela causa, ambas as coisas ao longo prazo como as de instante em instante. Mas você não precisa se preocupar sobre passado, presente ou futuro; apenas observe o corpo e mente agora. Você poderá descobrir seu kamma por si próprio se você observar sua mente. Pratique e você verá claramente. Depois de praticar por um longo tempo você entenderá. 

Certifique-se, porém, que você deixe os outros cuidarem de seus próprios kammas. Não se apegue ou observe outros. Se eu beber veneno, eu sofro; não há necessidade de você compartilhar deste sofrimento comigo. Leve apenas o bem que seu instrutor lhe oferece. Então sua mente se tornará pacífica como a mente de seu instrutor. 

P: Às vezes parece que desde que tornei-me monge, eu tenho aumentado minhas dificuldades e sofrimentos. 

R: Sei que alguns de vocês têm um histórico de conforto material e liberdade externa. Em comparação, vocês agora vivem uma existência austera. Durante a prática, eu frequentemente os faço sentarem e esperarem por longas horas, e a comida e o clima são diferentes dos de suas casas. Mas todos devem aguentar algumas dessas coisas – o sofrimento que conduz ao fim do sofrimento – para que possam aprender. 

Todos os meus discípulos são como minhas crianças. Eu tenho apenas amor-bondoso e o bem-estar deles em mente. Se eu pareço fazer vocês sofrerem, é para seu próprio bem. Quando você se irritar e se sentir com pena de si mesmo, é uma grande oportunidade para compreender a mente. O Buda chamava nossas máculas de nossos professores. As pessoas com pouca educação e conhecimento mundano conseguem praticar facilmente, mas eu sei que alguns de vocês foram bem educados e são muito inteligentes. É como se vocês ocidentais tivessem uma grande casa para limpar. Quando você tiver limpado a casa, você terá um grande espaço para viver. Vocês devem ser pacientes. Paciência e persistência são essenciais para nossa prática. 

Quando eu era um jovem monge, as coisas não eram tão difíceis para mim quanto são para vocês. Eu sabia a língua e comia de minha comida nativa. Mesmo assim, alguns dias eu entrei em desespero. Eu queria deixar de ser monge ou até mesmo cometer suicídio. Este tipo de sofrimento vem de formas erradas de ver as coisas. Quando você tiver visto a verdade, porém, você está livre de pontos de vista e opiniões. Tudo se torna pacífico. 

P: Eu tenho desenvolvido estados mentais muito pacíficos da minha meditação. O que eu devo agora?

R: Isso é bom. Faça a mente pacífica, concentrada, e use esta concentração para examinar a mente e o corpo. Quando o coração e mente não estão pacíficos, você também deve observar. Então você conhecerá a verdadeira paz. Por quê? Porque você terá visto a impermanência. Até mesmo a paz deve ser vista como impermanente. Se você estiver apegado a estados mentais pacíficos, você sofrerá quando você não os tiver. Deixe tudo para trás, até mesmo a paz. 

R: Eu já ouvi dizer que você tem medo de discípulos muito diligentes?

R: Sim, é verdade. Eu tenho medo porque eles são sérios demais. Eles tentam muito, sem sabedoria, empurrando a si mesmos a sofrimento desnecessário. Alguns de vocês determinaram que vão se tornar iluminados. Vocês rangem seus dentes e lutam o tempo todo. Vocês estão tentando demais. Vocês deveriam apenas ver que as pessoas são todas as mesmas – elas não sabem a natureza das coisas. Todas as formações, mente e corpo, são impermanentes. Apenas observe e não se apegue. 

P: Eu tenho meditado por muitos anos. Minha mente está aberta e pacífica em quase todas as circunstâncias. Agora eu gostaria de tentar voltar atrás e praticar altos estados de concentração ou de absorção mental. 

R: Tais práticas são benéficos exercícios mentais. Se tiver sabedoria, você não irá se perder em estados mentais de concentração. Da mesma maneira, querer sentar-se por longos períodos de tempo é bom para o treinamento, mas a prática é de fato separada de qualquer postura. Olhar para a mente diretamente é sabedoria. Quando tiver examinado e compreendido a mente, você terá a sabedoria para compreender as limitações da concentração ou de livros. Se tiver praticado e tiver compreendido o não apego, você pode voltar aos livros como uma doce sobremesa, e eles podem te ajudar a ensinar outros Ou você pode retornar a praticar concentração-absorta com a sabedoria para saber a não se apegar a qualquer coisa.   

P: Por favor, diga mais a respeito sobre como compartilhar o Dharma com os outros. 

R: Agir de formas que sejam bondosas e benéficas é a forma mais básica de levar adiante o ensinamento do Buda. Fazer o que é bom, ajudar aos outros, trabalhar com caridade e moralidade trás bons resultados, trás uma mente fresca e feliz para si mesmo e para outros. 

Ensinar aos outros é uma bela e importante responsabilidade que deve ser aceita de todo o coração. O modo de fazer isso adequadamente é compreender que ao ensinar outros, você deve sempre estar ensinando a si mesmo. Você deve cuidar de sua própria prática e sua própria pureza. Não é o bastante simplesmente dizer aos outros o que é certo. Você deve trabalhar com o que você ensina em seu próprio coração, sendo inabalavelmente honesto consigo mesmo e com outros. Reconheça o que é puro e o que não é. A essência do ensinamento do Buda é aprender a ver as coisas verdadeiramente, inteiramente e claramente. Ver a verdade em si trás liberdade. 

P: Você poderia rever alguns dos pontos principais de nossa discussão?

R: Você deve examinar a si mesmo. Saiba quem você é. Conheça seu corpo e mente por simplesmente observar. Ao sentar-se, ao dormir, ao comer, saiba seus limites. Use sabedoria. A prática é para não tentar alcançar algo. Apenas esteja plenamente atento ao que é. Nossa meditação por inteiro é olhar diretamente no coração/mente. Você verá sofrimento; sua causa, e seu fim. Mas você deve ter muita paciência e persistência. Gradualmente você aprenderá. O Buda ensinou seus discípulos a permanecer com seus instrutores por pelo menos cinco anos. 

Não pratique tão rigorosamente. Não seja pego pelas formas externas. Apenas seja natural e observe isso. Nossa disciplina e regras monásticas são bastante importantes. Elas criam um ambiente simples e harmônico. Use-as bem. Mas lembre-se, a essência da disciplina de um monge é observar a intenção, examinando o coração. Você deve praticar com sabedoria. 

Observar os outros é má prática. Não discrimine. Você se irritaria com uma pequena árvore na floresta por ainda não ser alta e reta como as outras? Não julgue as outras pessoas. Há de todas as variedades – não é preciso carregar o fardo de desejar que todas elas mudem.

Você deve aprender o valor de doar e da devoção. Seja paciente; pratique moralidade; viva simplesmente e naturalmente; observe a mente. Esta prática o conduzirá ao altruísmo e à paz. 

Capítulo retirado do livro A Still Forest Pool: http://www.dhammatalks.net/Books2/Ajahn_Chah_A_Still_Forest_Pool.htm

Nenhum comentário:

Postar um comentário