sábado, 26 de janeiro de 2013

Meditação do Caminhar


Os Benefícios da Meditação do Caminhar

Por

Sayadaw U Silananda

Tradução

Davi Coêlho




Em nossos retiros de meditação, yogis praticam atenção plena em quatro posturas diferentes. Eles praticam atenção plena quando andando, quando parados em pé, quando sentados e quando deitados.  Eles devem manter atenção plena em todos os momentos em qualquer postura em que se encontrem. O foco primário para atenção plena é sentado com as pernas cruzadas, mas como corpo humano não consegue tolerar esta postura por muitas horas sem mudar, alternamos períodos de meditação sentados com períodos de meditação caminhando. Como a meditação do caminhar é muito importante, eu gostaria de falar um pouco sobre sua natureza, sua significância e os benefícios derivados de sua prática.
A prática da atenção plena pode ser comparada ao ato de ferver água. Se alguém quer ferver água, este coloca a água em uma panela, a panela no fogão e daí liga o fogo. Mas se o fogo estiver desligado, mesmo que por um instante, a água não ferverá, mesmo que o fogo seja ascendido novamente depois. Se o fogo for ascendido e apagado vez após vez, a água não ferverá. Da mesma forma, se houver lacunas entre os momentos de atenção plena, não poderemos ganhar momentum, e então a concentração não será obtida. É por isso que yogis em nosso retiro são instruídos a praticarem a atenção plena todo o tempo que eles estiverem acordados, desde o momento em que eles se levantam pela manhã até a hora em que forem dormir. Consequentemente, a meditação do caminhar é uma parte fundamental para o desenvolvimento contínuo da atenção plena.
Infelizmente, tenho ouvido pessoas criticarem a meditação do caminhar, dizendo que eles não conseguem derivar beneficio algum da prática. Mas foi o próprio Buda que a ensinou primeiramente. No seu Grande Discurso Sobre os Fundamentos da Atenção Plena, o Buda ensinou a meditação do caminhar duas vezes. Na seção chamada “Posturas”, ele disse que um monge reconhece “Estou caminhando” quando estiver caminhando, reconhece “Estou de pé” quando estiver de pé, reconhece “Estou sentado” quando estiver sentado, e reconhece “Estou deitado” quando estiver deitado. Em outra seção chamada “Compreensão Clara”, o Buda disse, “Um monge aplica compreensão clara quando estiver indo para frente e indo para trás”. Compreensão clara significa o entendimento correto do que alguém observa. Para entender claramente o que é observado, um yogi deve adquirir concentração, e para adquirir concentração, ele deve aplicar atenção plena. Portanto, quando o Buda disse, “Monges, apliquem compreensão clara”, devemos entender que não apenas compreensão clara deve ser aplicada mais atenção plena também e concentração. Assim o Buda esta instruindo meditadores a aplicar atenção plena, concentração, e compreensão clara enquanto caminhando, enquanto “indo para frente e indo para trás”. A meditação do caminhar é portanto uma parte importante deste processo.
Embora não esteja registrado neste sutta que o Buda deu detalhes e instruções específicas para a meditação do caminhar, devemos crer que ele deve ter dado tais instruções em algum momento. Estas instruções devem ter sido aprendidas por seus discípulos e repassadas através de sucessivas gerações. Fora isso, os mestres de antigamente devem ter formulado instruções baseadas em suas próprias práticas. No momento presente, temos um conjunto detalhado de instruções sobre como praticar a meditação do caminhar.
Vamos agora falar especificamente sobre a prática desta meditação. Caso seja um iniciante total, o instrutor deve instruí-lo a estar atento a apenas uma coisa durante a meditação: atento plenamente ao ato de andar enquanto notando isso silenciosamente em sua mente, “pisando, pisando, pisando” ou então, “esquerda, direita, esquerda, direita”. Pode ser que tenha que andar a um passo mais devagar do que o normal durante essa seção.
Depois de algumas horas, ou então depois de um dia ou dois de meditação, você deverá ser instruído a estar atento a duas ocorrências: (i) pisando, e (ii) abaixando o pé, enquanto notando isto mentalmente “pisando, abaixando, pisando, baixando”. Depois você deverá ser instruído a estar atento a três estágios: (i) levantando o pé, (ii) movendo ou empurrando-o para frente, (iii) abaixando o pé. Ainda depois disso, você será instruído a estar atento a quatro estágios em cada passo: (i) levantando o pé, (ii) movendo-o para frente, (iii) abaixando-o, (iv) tocando ou pressionando o pé contra o chão. Você será instruído a estar plenamente atento e a notar mentalmente estes quatro estágios do movimento do pé: “levantando, movendo, abaixando, tocando”.
Logo de início um yogi pode achar difícil diminuir o movimento do passo, mas conforme for instruído a prestar atenção a todos os movimentos envolvidos, e conforme eles forem prestando cada vez mais atenção, minuciosamente, eles automaticamente desacelerarão. Eles não têm que desacelerar deliberadamente, mas conforme forem prestando mais atenção, desaceleração acontece naturalmente. Quando dirigindo na estrada, pode-se estar dirigindo a sessenta ou setenta ou até mesmo oitenta milhas por hora. Dirigindo nesta velocidade, é possível que o motorista não consiga enxergar as placas que passam por ele direito. Se ele quiser poder ler estas placas, terá que desacelerar. Ninguém tem que dizer pra ele, “Vá devagar!” porque ele fará isso automaticamente caso queira ver as placas. Da mesma forma, se os yogis quiserem prestar mais atenção aos movimentos de levantar, mover adiante, abaixar e tocar, eles terão que automaticamente desacelerar. Apenas quando eles fizerem isto é que poderão verdadeiramente estar atentos e cientes destes movimentos.
Embora os yogis prestem bem atenção e desacelerem, ainda sim eles podem não ver todos os movimentos e estágios claramente. Os estágios podem não estar tão bem definidos na mente, e eles podem parecer como sendo constituído como um só movimento contínuo. Conforme a concentração amadurece, yogis perceberão mais e mais claramente estes estágios diferentes em um passo; os quatro estágios pelo menos serão mais fáceis de distinguir. Yogis saberão distinguir que o levantar não é a mesma coisa que movê-lo para frente e nem tão pouco este é o mesmo que o abaixar do pé. Eles compreenderão todos os movimentos claramente e distintamente. Tudo aquilo o qual eles estiverem plenamente atentos e cientes estará muito claro em suas mentes.
Conforme os yogis continuam sua prática, eles observarão muito mais. Quando eles levantarem seu pé, eles perceberão a leveza do pé. Quando impulsionarem o pé para frente, perceberão o movimento de um lugar ao outro. Quando abaixarem o pé, sentirão o seu pesar, pois o pé se torna cada vez mais pesado conforme ele desce. Quando colocarem o pé no chão, sentirão o toque do calcanhar sobre o chão. Portanto, juntamente com o observar do levantar, mover adiante, abaixar e pressionar contra o chão, yogis perceberão a leveza do pé ascendendo, o movimento do pé, o pesar do descer e por fim o toque do pé,  que é a dureza ou maciez do pé sobre o chão. Quando eles perceberem este processo, eles estarão reconhecendo os quatro elementos essenciais (em Pali, dhatu). Estes quatro elementos são: o elemento da terra, da água, do fogo e do ar. Ao prestar bem atenção a estes quatro estágios da meditação do caminhar, os quatro elementos em sua verdadeira essência serão percebidos, não apenas como meros conceitos, mas como processos reais, como realidades finais.
Vamos entrar em um pouco mais de detalhe a respeito das características dos elementos na meditação do caminhar. No primeiro movimento, isto é, o levantar do pé, yogis percebem a leveza, e quando esta leveza é percebida, eles estão virtualmente percebendo o elemento do fogo. Um aspecto deste elemento é o de fazer as coisas mais leves, e conforme elas se tornam mais leves, elas levantam. Na percepção da leveza do movimento ascendente, yogis perceberão a essência do elemento fogo. Mas no levantar do pé há também, além da leveza, movimento. Movimento é um aspecto do elemento ar. Mas leveza, o elemento fogo, é predominante, então podemos dizer que no estágio de levantar, fogo é o elemento primário, e o elemento ar é secundário. Estes dois elementos são reconhecidos pelos yogis quando eles prestam bem atenção ao levantar do pé. 
O próximo estágio é mover o pé para frente. Ao impulsionar o pé adiante, o elemento dominante é ar, porque movimento é uma das características primárias deste elemento. Então, quando eles prestarem bem atenção ao movimento do pé na meditação, yogis estarão virtualmente reconhecendo a essência do elemento ar.
O próximo estágio é o movimento de abaixar o pé. Quando yogis colocam seu pé para baixo, há um tipo de pesar no pé. Este pesar é uma característica do elemento água conforme goteja e está exsudando. Quando o liquido é pesado, ele exsuda. Portanto quando yogis percebem o pesar do é, eles virtualmente reconhecem o elemento água.
Ao pressionar o pé contra o chão, yogis reconhecerão a dureza ou maciez do pé sobre o chão. Isso remete a natureza do elemento terra. Ao prestar bem atenção a pressão do pé contra o chão, yogis virtualmente reconhecem a natureza do elemento terra.
Assim podemos ver que em apenas um passo, yogis reconhecem vários processos. Eles podem reconhecer os quatro elementos e a natureza destes quatro elementos. Apenas aqueles que praticam poderão esperar ver estas coisas.
Conforme um yogi continuar a praticar a meditação do caminhar, eles virão a compreender que, com cada movimento, há também uma mente que os notam, a consciência do movimento. Há o levantar do pé e também a mente que está ciente deste mesmo levantar. No próximo momento, há o mover do pé adiante e também a mente que está ciente deste movimento. Além disso, yogis compreenderão que ambos o movimento e consciência surgem e desaparecem naquele mesmo momento. No próximo momento, há o abaixar e também a mente que está ciente disso, e ambos surgem e desaparecem naquele mesmo momento de abaixar o pé. O mesmo processo ocorre quando o pé toca o chão: há o toque e a mente ciente dessa pressão. Deste modo, yogis compreendem que juntamente com o movimento do pé, há também momentos de consciência. Os momentos são chamados, em Pali, de nama, mente, e o movimento do pé é chamado de rupa, matéria. Portanto yogis reconhecerão mente e matéria surgindo e desaparecendo a cada momento. Em um momento há o levantar do pé e a consciência ciente do levantar, e no próximo momento há o mover adiante e a consciência ciente deste movimento, e assim por diante. Estes podem ser vistos como um par, mente e matéria, que surgem e desaparecem a cada momento. Assim yogis avançam na percepção da ocorrência de pares da mente e matéria a cada momento da observação, isto é, se prestarem bem atenção.
Outra coisa que yogis descobrirão é o papel da intenção em efetuar cada movimento. Eles compreenderão que levantam o pé porque querem, movem o pé adiante porque querem, abaixam porque querem, pisam no chão porque querem. Isto é, eles compreendem que uma intenção precede cada movimento. Após a intenção de levantar, há o levantar do pé. Eles chegam à compreensão da condicionalidade de todas essas ocorrências – estes movimentos nunca ocorrem por si sós, sem condições. Estes movimentos não são criados por nenhuma divindade ou qualquer autoridade, e estes movimentos nunca acontecem sem uma causa. Há uma causa ou condição para cada movimento, e esta condição é a intenção precedendo cada movimento. Isso é outra descoberta que yogis fazem quando prestam bem atenção.  
Quando os yogis compreendem a condicionalidade de todos os movimentos, e que esses movimentos não são criados por uma autoridade ou qualquer deus, então eles compreenderão que estes são criados por causa da intenção. Eles compreenderão que a intenção é a condição para o movimento ocorrer. Portanto a relação de condicionar e ser condicionado, de causa e efeito, é compreendida. Na base desta compreensão, yogis podem remover qualquer dúvida a respeito de nama e rupa por entender que nama e rupa não surgem sem condições. Com a clara compreensão da condicionalidade de todas as coisas, e com a transcendência da dúvida sobre nama e rupa, é dito que o yogi chegou ao estado de “sotapanna menor”.
Um sotapanna significa aquele que “entrou na correnteza” (do ‘rio’ que leva diretamente a Nibbana) e é uma pessoa que alcançou o primeiro estágio de iluminação. Um “sotapanna menor” não é alguém que realmente entrou na correnteza, mas é dito estar assegurado de um renascimento em um mundo de existência feliz, como nos domínios dos seres humanos e das devas. Isto é, um sotapanna menor não renascerá em um dos quatro estados de privação e miséria, nos mundos infernais ou no reino animal. Este estado de sotapanna menor pode ser alcançado só por praticar a meditação do caminhar, apenas por prestar a atenção aos movimentos envolvidos em cada passo. Este é o grande benefício de praticar a meditação do caminhar. Este estágio não é fácil de atingir, mas uma vez que um yogi consegue atingir, eles podem estar assegurados que renascerão em um estado feliz, a não ser, é claro, que eles caiam deste estágio.
Quando yogis compreendem mente e matéria surgindo e desaparecendo a cada instante, então eles compreenderão a impermanência do processo de levantar o pé, e também compreenderão a impermanência da consciência ciente deste levantar. A ocorrência do desaparecimento logo após o surgimento é uma marca ou característica por qual compreendemos que algo é impermanente. Se quisermos determinar se algo é impermanente ou permanente, devemos tentar ver, através do poder da meditação, se esta coisa está sujeita ou não ao processo de vir-a-ser e depois desaparecer. Se nossa meditação for madura o suficiente para capacitarmo-nos ver o surgimento e desaparecimento de um fenômeno, então poderemos decidir que o fenômeno observado é impermanente. Deste modo, yogis observam que há o movimento do levantar e há a consciência ciente deste movimento, e quando esta sequência desparecer, abre-se o caminho para o mover adiante e consciência ciente deste mover.   Estes movimentos simplesmente surgem e desaparecem, surgem e desaparecem, e neste processo yogis podem compreender por si próprios – eles não terão que aceitar isso baseado na fé ou confiança de uma autoridade exterior, nem terão que acreditar no relato de outra pessoa.
Quando yogis compreendem que mente e matéria surgem e desaparecem, eles entendem que a mente e matéria são impermanente. Quando veem que elas são impermanentes, eles em seguida compreendem que são insatisfatórias porque estão sempre oprimidas pelo processo constante de surgir e se dissipar. Após compreender a impermanência e a natureza insatisfatória destas coisas, yogis compreendem que não há um “eu” ou uma alma dentro de mente e matéria que podem as ordená-las a serem permanentes. As coisas simplesmente surgem e desaparecem de acordo com a lei natural. Por compreender isto, yogis entendem a terceira característica de fenômenos condicionados, a característica de anatta, ou a características de que as coisas são destituídas de um “eu” ou ego. Um dos significados de anatta é domínio nenhum – significando que nada, entidade alguma, alma alguma, nenhum poder, tem domínio sobre a natureza das coisas. Por tanto, ao chegar a este ponto, yogis compreendem as três características de todos fenômenos condicionados: impermanência, sofrimento ou estresse, e não-substancialidade na natureza das coisas – em Pali, anicca, dukkha, e anatta.
Yogis compreendem estas três características por observar atentamente o mero levantar do pé e a consciência deste levantar. Por prestar bem atenção a estes movimentos, eles veem as coisas surgindo e desaparecendo, e consequentemente veem por si sós a impermanência, insatisfação, e não-substancialidade dos fenômenos condicionados.
Examinemos agora em mais detalhes os movimentos da meditação do caminhar. Suponha que alguém tirasse diversas fotos do levantar do pé. Suponha que o levantar do pé leve um segundo pra acontecer, e digamos que a câmera possa tirar trinta e seis quadros por segundo.  Após tirar a foto, se olharmos distintamente para cada quadro separado, veríamos que dentro do que parecia ser um só movimento – o levantar – há na verdade trinta e seis movimentos. A imagem em cada quadro é levemente diferente das imagens em outros quadros, embora a diferença será tão vaga que mal perceberíamos. Mas e se a câmera pudesse tirar mil quadros por segundo? Então teríamos mil movimentos em apenas um levantar, embora os movimentos seriam quase impossíveis de se distinguir. Se a câmera tirasse um milhão de quadros por segundo – o que pode ser impossível hoje, mas algum dia poderá acontecer – então haveria um milhão de movimentos no que pensávamos ser apenas um movimento.
Nosso esforço na meditação do caminhar é poder ver nossos movimentos o mais próximo possível da forma como uma câmera veria, quadro por quadro. Queremos também observar a consciência e a intenção, precedendo cada movimento. Podemos também apreciar o poder da sabedoria e insight do Buda, pelo qual ele verdadeiramente viu todos estes movimentos. Quando usamos a palavra “ver” ou “observar” para referir a nossa própria situação, queremos dizer ver diretamente e também por dedução; talvez não possamos ver diretamente os milhões de movimentos como o Buda poderia.
Antes dos yogis começarem a praticar a meditação do caminhar, eles podem ter pensado que um passo era apenas um movimento. Após a meditação sobre aquele movimento, eles observam que há pelo menos quatro destes, e se forem mais a fundo, eles compreenderão que até um destes quatro movimentos consiste de milhões de movimentos menores. Eles veem nama e rupa, mente e matéria, surgindo e desaparecendo, como sendo impermanentes. Através de nossa percepção normal, não conseguimos ver a impermanência das coisas porque a impermanência está ocultada pela ilusão da continuidade. Pensamos que vemos apenas um movimento contínuo, mas se olharmos mais próximo, veremos que a ilusão da continuidade pode ser separada em unidades. Pode ser separada por observação direta dos fenômenos físicos parte por parte, segmento por segmento, conforme se originam e desintegram. O valor da meditação está em nossa habilidade de remover o manto da continuidade para podermos descobrir a verdadeira natureza da impermanência. Yogis podem descobrir a natureza da impermanência diretamente através de seus próprios esforços.
Após compreender que as coisas são compostas de segmentos, que eles ocorrem por partes, e após observar estes segmentos um por um, yogis compreenderão que não há nada no mundo que possamos nos apegar, nada a ser desejado. Se vermos que algo que uma vez pensávamos que era belo na verdade tem buracos, que está decaindo e desintegrando, perdemos interesse nisso. Por exemplo, podemos ver uma bela pintura sobre tela. Pensamos na tinta e tela conceitualmente como sendo um todo, algo sólido. Mas se fossemos colocar a pintura sobre um microscópio poderoso, veríamos que a pintura não é sólida – ela tem muitos furos e espaços. Após vermos a pintura compostas por largos espaços, perderíamos interesse nela e deixaríamos de estarmos apegados a ela. Físicos da modernidade estão familiarizados com esta ideia. Eles observaram, com instrumentos poderosos, que a matéria é apenas a vibração de partículas e energia constantemente mudando – não há nada substancial a isto de forma alguma. Pela compreensão desta eterna impermanência, yogis compreendem que não há nada de valor a ser desejado, nada a ser segurado pra si mesmo neste mundo de fenômenos.
Agora podemos entender os motivos de praticarmos a meditação do caminhar. Praticamos a meditação porque queremos remover nosso apego e desejo por objetos. É por compreender as três características da existência – impermanência, sofrimento e não-substancialidade das coisas – que removemos o desejo. Queremos remover o desejo porque não queremos sofrer. Se não queremos sofrer, devemos remover todo desejo e apego. Devemos compreender que todas as coisas são apenas mente e matéria surgindo e desaparecendo, que todas as coisas são insubstanciais. Uma vez que compreendemos isso, poderemos remover o apego às coisas. Enquanto não compreendermos isso, não importa quantos livros lermos ou quantas palestras assistirmos ou quantas conversas tivermos sobre remover o apego, não seremos capazes de remover essa barreira. É necessário ter a experiência direta que todas as coisas condicionadas são marcadas por estas três características.
Portanto, precisamos prestar bem atenção quando estivermos caminhando, assim quando estamos sentados ou deitados. Não estou tentando dizer que a meditação do caminhar por si só poderá nos dar esta realização final e a habilidade de remover o apego totalmente, mas mesmo assim não deixa de ser uma prática tão válida quanto a meditação sentado ou qualquer outro tipo de meditação vipassana (insight). A meditação do caminhar é conducente ao progresso espiritual. É tão poderosa quanto a atenção plena da respiração ou atenção plena do levantar e cair do abdômen. É uma ferramenta eficiente para remover impurezas mentais. A meditação do caminhar pode nos ajudar a adquirirmos insight sobre a natureza das coisas, e por isso devemos praticá-la tão diligentemente quanto em qualquer outra posição ou tipo de meditação. Pela prática da meditação vipassana em todas as posturas, incluindo a postura do caminhar, que você e todos os yogis possam atingir a purificação total nesta mesma vida!

*Texto original disponível em inglês em http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/silananda/bl137.html

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