Os
Benefícios da Meditação do Caminhar
Por
Sayadaw
U Silananda
Tradução
Davi
Coêlho
Em nossos retiros de
meditação, yogis praticam atenção plena em quatro posturas diferentes. Eles
praticam atenção plena quando andando, quando parados em pé, quando sentados e quando deitados. Eles devem manter atenção plena em todos os
momentos em qualquer postura em que se encontrem. O foco primário para
atenção plena é sentado com as pernas cruzadas, mas como corpo humano não
consegue tolerar esta postura por muitas horas sem mudar, alternamos
períodos de meditação sentados com períodos de meditação caminhando. Como a
meditação do caminhar é muito importante, eu gostaria de falar um pouco sobre
sua natureza, sua significância e os benefícios derivados de sua prática.
A prática da atenção
plena pode ser comparada ao ato de ferver água. Se alguém quer ferver água,
este coloca a água em uma panela, a panela no fogão e daí liga o fogo. Mas se o
fogo estiver desligado, mesmo que por um instante, a água não ferverá, mesmo
que o fogo seja ascendido novamente depois. Se o fogo for ascendido e apagado
vez após vez, a água não ferverá. Da mesma forma, se houver lacunas entre os
momentos de atenção plena, não poderemos ganhar momentum, e então a
concentração não será obtida. É por isso que yogis em nosso retiro são
instruídos a praticarem a atenção plena todo o tempo que eles estiverem
acordados, desde o momento em que eles se levantam pela manhã até a hora em que
forem dormir. Consequentemente, a meditação do caminhar é uma parte fundamental
para o desenvolvimento contínuo da atenção plena.
Infelizmente, tenho
ouvido pessoas criticarem a meditação do caminhar, dizendo que eles não
conseguem derivar beneficio algum da prática. Mas foi o próprio Buda que a
ensinou primeiramente. No seu Grande Discurso
Sobre os Fundamentos da Atenção Plena, o Buda ensinou a meditação do
caminhar duas vezes. Na seção chamada “Posturas”, ele disse que um monge
reconhece “Estou caminhando” quando estiver caminhando, reconhece “Estou de pé”
quando estiver de pé, reconhece “Estou sentado” quando estiver sentado, e
reconhece “Estou deitado” quando estiver deitado. Em outra seção chamada
“Compreensão Clara”, o Buda disse, “Um monge aplica compreensão clara quando
estiver indo para frente e indo para trás”. Compreensão
clara significa o entendimento correto do que alguém observa. Para entender
claramente o que é observado, um yogi deve adquirir concentração, e para
adquirir concentração, ele deve aplicar atenção plena. Portanto, quando o Buda
disse, “Monges, apliquem compreensão clara”, devemos entender que não apenas
compreensão clara deve ser aplicada mais atenção plena também e concentração.
Assim o Buda esta instruindo meditadores a aplicar atenção plena, concentração,
e compreensão clara enquanto caminhando, enquanto “indo para frente e indo para
trás”. A meditação do caminhar é portanto uma parte importante deste processo.
Embora não esteja
registrado neste sutta que o Buda deu detalhes e instruções específicas para a
meditação do caminhar, devemos crer que ele deve ter dado tais instruções em
algum momento. Estas instruções devem ter sido aprendidas por seus discípulos e
repassadas através de sucessivas gerações. Fora isso, os mestres de antigamente
devem ter formulado instruções baseadas em suas próprias práticas. No momento
presente, temos um conjunto detalhado de instruções sobre como praticar a
meditação do caminhar.
Vamos agora falar
especificamente sobre a prática desta meditação. Caso seja um
iniciante total, o instrutor deve instruí-lo a estar atento a apenas uma coisa
durante a meditação: atento plenamente ao ato de andar enquanto notando isso
silenciosamente em sua mente, “pisando, pisando, pisando” ou então, “esquerda,
direita, esquerda, direita”. Pode ser que tenha que andar a um passo mais devagar
do que o normal durante essa seção.
Depois de algumas
horas, ou então depois de um dia ou dois de meditação, você deverá ser
instruído a estar atento a duas ocorrências: (i) pisando, e (ii) abaixando o
pé, enquanto notando isto mentalmente “pisando, abaixando, pisando, baixando”.
Depois você deverá ser instruído a estar atento a três estágios: (i) levantando
o pé, (ii) movendo ou empurrando-o para frente, (iii) abaixando o pé. Ainda
depois disso, você será instruído a estar atento a quatro estágios em cada
passo: (i) levantando o pé, (ii) movendo-o para frente, (iii) abaixando-o, (iv)
tocando ou pressionando o pé contra o chão. Você será instruído a estar
plenamente atento e a notar mentalmente estes quatro estágios do movimento do
pé: “levantando, movendo, abaixando, tocando”.
Logo de início um yogi
pode achar difícil diminuir o movimento do passo, mas conforme for instruído a
prestar atenção a todos os movimentos envolvidos, e conforme eles forem
prestando cada vez mais atenção, minuciosamente, eles automaticamente
desacelerarão. Eles não têm que desacelerar deliberadamente, mas conforme forem
prestando mais atenção, desaceleração acontece naturalmente. Quando dirigindo
na estrada, pode-se estar dirigindo a sessenta ou setenta ou até mesmo oitenta
milhas por hora. Dirigindo nesta velocidade, é possível que o motorista não
consiga enxergar as placas que passam por ele direito. Se ele quiser poder ler
estas placas, terá que desacelerar. Ninguém tem que dizer pra ele, “Vá
devagar!” porque ele fará isso automaticamente caso queira ver as placas. Da
mesma forma, se os yogis quiserem prestar mais atenção aos movimentos de
levantar, mover adiante, abaixar e tocar, eles terão que automaticamente
desacelerar. Apenas quando eles fizerem isto é que poderão verdadeiramente
estar atentos e cientes destes movimentos.
Embora os yogis prestem
bem atenção e desacelerem, ainda sim eles podem não ver todos os movimentos e
estágios claramente. Os estágios podem não estar tão bem definidos na mente, e
eles podem parecer como sendo constituído como um só movimento contínuo.
Conforme a concentração amadurece, yogis perceberão mais e mais claramente
estes estágios diferentes em um passo; os quatro estágios pelo menos serão mais
fáceis de distinguir. Yogis saberão distinguir que o levantar não é a mesma
coisa que movê-lo para frente e nem tão pouco este é o mesmo que o abaixar do
pé. Eles compreenderão todos os movimentos claramente e distintamente. Tudo
aquilo o qual eles estiverem plenamente atentos e cientes estará muito claro em
suas mentes.
Conforme os yogis
continuam sua prática, eles observarão muito mais. Quando eles levantarem seu
pé, eles perceberão a leveza do pé. Quando impulsionarem o pé para frente,
perceberão o movimento de um lugar ao outro. Quando abaixarem o pé, sentirão o
seu pesar, pois o pé se torna cada vez mais pesado conforme ele desce. Quando
colocarem o pé no chão, sentirão o toque do calcanhar sobre o chão. Portanto,
juntamente com o observar do levantar, mover adiante, abaixar e pressionar
contra o chão, yogis perceberão a leveza do pé ascendendo, o movimento do pé, o
pesar do descer e por fim o toque do pé, que é a dureza ou maciez do pé sobre
o chão. Quando eles perceberem este processo, eles estarão reconhecendo os
quatro elementos essenciais (em Pali, dhatu).
Estes quatro elementos são: o elemento da terra, da água, do fogo e do ar. Ao
prestar bem atenção a estes quatro estágios da meditação do caminhar, os quatro
elementos em sua verdadeira essência serão percebidos, não apenas como meros
conceitos, mas como processos reais, como realidades finais.
Vamos entrar em um
pouco mais de detalhe a respeito das características dos elementos na meditação
do caminhar. No primeiro movimento, isto é, o levantar do pé, yogis percebem a
leveza, e quando esta leveza é percebida, eles estão virtualmente percebendo o
elemento do fogo. Um aspecto deste elemento é o de fazer as coisas mais
leves, e conforme elas se tornam mais leves, elas levantam. Na percepção da
leveza do movimento ascendente, yogis perceberão a essência do elemento fogo.
Mas no levantar do pé há também, além da leveza, movimento. Movimento é um
aspecto do elemento ar. Mas leveza, o elemento fogo, é predominante, então
podemos dizer que no estágio de levantar, fogo é o elemento primário, e o
elemento ar é secundário. Estes dois elementos são reconhecidos pelos yogis
quando eles prestam bem atenção ao levantar do pé.
O próximo estágio é
mover o pé para frente. Ao impulsionar o pé adiante, o elemento dominante é ar,
porque movimento é uma das características primárias deste elemento. Então,
quando eles prestarem bem atenção ao movimento do pé na meditação, yogis
estarão virtualmente reconhecendo a essência do elemento ar.
O próximo estágio é o
movimento de abaixar o pé. Quando yogis colocam seu pé para baixo, há um tipo
de pesar no pé. Este pesar é uma característica do elemento água conforme
goteja e está exsudando. Quando o liquido é pesado, ele exsuda. Portanto
quando yogis percebem o pesar do é, eles virtualmente reconhecem o elemento
água.
Ao pressionar o pé
contra o chão, yogis reconhecerão a dureza ou maciez do pé sobre o chão. Isso
remete a natureza do elemento terra. Ao prestar bem atenção a pressão do pé
contra o chão, yogis virtualmente reconhecem a natureza do elemento terra.
Assim podemos ver que
em apenas um passo, yogis reconhecem vários processos. Eles podem reconhecer os
quatro elementos e a natureza destes quatro elementos. Apenas aqueles que
praticam poderão esperar ver estas coisas.
Conforme um yogi
continuar a praticar a meditação do caminhar, eles virão a compreender que, com
cada movimento, há também uma mente que os notam, a consciência do movimento.
Há o levantar do pé e também a mente que está ciente deste mesmo levantar.
No próximo momento, há o mover do pé adiante e também a mente que está ciente
deste movimento. Além disso, yogis compreenderão que ambos o movimento e consciência
surgem e desaparecem naquele mesmo momento. No próximo momento, há o abaixar e
também a mente que está ciente disso, e ambos surgem e desaparecem naquele
mesmo momento de abaixar o pé. O mesmo processo ocorre quando o pé toca o chão:
há o toque e a mente ciente dessa pressão. Deste modo, yogis compreendem que
juntamente com o movimento do pé, há também momentos de consciência. Os
momentos são chamados, em Pali, de nama,
mente, e o movimento do pé é chamado de rupa,
matéria. Portanto yogis reconhecerão mente e matéria surgindo e desaparecendo a
cada momento. Em um momento há o levantar do pé e a consciência ciente do
levantar, e no próximo momento há o mover adiante e a consciência ciente deste
movimento, e assim por diante. Estes podem ser vistos como um par, mente e
matéria, que surgem e desaparecem a cada momento. Assim yogis avançam na percepção
da ocorrência de pares da mente e matéria a cada momento da observação, isto é,
se prestarem bem atenção.
Outra coisa que yogis
descobrirão é o papel da intenção em efetuar cada movimento. Eles compreenderão
que levantam o pé porque querem, movem o pé adiante porque querem, abaixam porque
querem, pisam no chão porque querem. Isto é, eles compreendem que uma intenção
precede cada movimento. Após a intenção de levantar, há o levantar do pé. Eles
chegam à compreensão da condicionalidade de todas essas ocorrências – estes
movimentos nunca ocorrem por si sós, sem condições. Estes movimentos não são
criados por nenhuma divindade ou qualquer autoridade, e estes movimentos nunca
acontecem sem uma causa. Há uma causa ou condição para cada movimento, e esta
condição é a intenção precedendo cada movimento. Isso é outra descoberta que
yogis fazem quando prestam bem atenção.
Quando os yogis
compreendem a condicionalidade de todos os movimentos, e que esses movimentos
não são criados por uma autoridade ou qualquer deus, então eles compreenderão
que estes são criados por causa da intenção. Eles compreenderão que a intenção
é a condição para o movimento ocorrer. Portanto a relação de condicionar e ser
condicionado, de causa e efeito, é compreendida. Na base desta compreensão,
yogis podem remover qualquer dúvida a respeito de nama e rupa por entender
que nama e rupa não surgem sem condições. Com a clara compreensão da
condicionalidade de todas as coisas, e com a transcendência da dúvida sobre nama e rupa, é dito que o yogi chegou ao estado de “sotapanna menor”.
Um sotapanna significa aquele que “entrou na correnteza” (do ‘rio’ que
leva diretamente a Nibbana) e é uma pessoa que alcançou o primeiro estágio de
iluminação. Um “sotapanna menor” não
é alguém que realmente entrou na correnteza, mas é dito estar assegurado de um
renascimento em um mundo de existência feliz, como nos domínios dos seres
humanos e das devas. Isto é, um sotapanna menor não renascerá em um dos
quatro estados de privação e miséria, nos mundos infernais ou no reino animal.
Este estado de sotapanna menor pode
ser alcançado só por praticar a meditação do caminhar, apenas por prestar a
atenção aos movimentos envolvidos em cada passo. Este é o grande benefício de
praticar a meditação do caminhar. Este estágio não é fácil de atingir, mas uma
vez que um yogi consegue atingir, eles podem estar assegurados que renascerão
em um estado feliz, a não ser, é claro, que eles caiam deste estágio.
Quando yogis
compreendem mente e matéria surgindo e desaparecendo a cada instante, então
eles compreenderão a impermanência do processo de levantar o pé, e também
compreenderão a impermanência da consciência ciente deste levantar. A
ocorrência do desaparecimento logo após o surgimento é uma marca ou
característica por qual compreendemos que algo é impermanente. Se quisermos
determinar se algo é impermanente ou permanente, devemos tentar ver, através do
poder da meditação, se esta coisa está sujeita ou não ao processo de vir-a-ser
e depois desaparecer. Se nossa meditação for madura o suficiente para
capacitarmo-nos ver o surgimento e desaparecimento de um fenômeno, então
poderemos decidir que o fenômeno observado é impermanente. Deste modo, yogis
observam que há o movimento do levantar e há a consciência ciente deste
movimento, e quando esta sequência desparecer, abre-se o caminho para o mover
adiante e consciência ciente deste mover. Estes
movimentos simplesmente surgem e desaparecem, surgem e desaparecem, e neste
processo yogis podem compreender por si próprios – eles não terão que aceitar
isso baseado na fé ou confiança de uma autoridade exterior, nem terão que
acreditar no relato de outra pessoa.
Quando yogis
compreendem que mente e matéria surgem e desaparecem, eles entendem que a mente
e matéria são impermanente. Quando veem que elas são impermanentes, eles em
seguida compreendem que são insatisfatórias porque estão sempre oprimidas pelo
processo constante de surgir e se dissipar. Após compreender a impermanência e
a natureza insatisfatória destas coisas, yogis compreendem que não há um “eu”
ou uma alma dentro de mente e matéria que podem as ordená-las a serem
permanentes. As coisas simplesmente surgem e desaparecem de acordo com a lei
natural. Por compreender isto, yogis entendem a terceira característica de
fenômenos condicionados, a característica de anatta, ou a características de que as coisas são destituídas de um
“eu” ou ego. Um dos significados de anatta
é domínio nenhum – significando que nada, entidade alguma, alma alguma,
nenhum poder, tem domínio sobre a natureza das coisas. Por tanto, ao chegar a
este ponto, yogis compreendem as três características de todos fenômenos
condicionados: impermanência, sofrimento ou estresse, e não-substancialidade na
natureza das coisas – em Pali, anicca,
dukkha, e anatta.
Yogis compreendem estas
três características por observar atentamente o mero levantar do pé e a
consciência deste levantar. Por prestar bem atenção a estes movimentos, eles veem
as coisas surgindo e desaparecendo, e consequentemente veem por si sós a
impermanência, insatisfação, e não-substancialidade dos fenômenos
condicionados.
Examinemos agora em
mais detalhes os movimentos da meditação do caminhar. Suponha que alguém
tirasse diversas fotos do levantar do pé. Suponha que o levantar do pé leve um
segundo pra acontecer, e digamos que a câmera possa tirar trinta e seis quadros
por segundo. Após tirar a foto, se
olharmos distintamente para cada quadro separado, veríamos que dentro do que
parecia ser um só movimento – o levantar – há na verdade trinta e seis
movimentos. A imagem em cada quadro é levemente diferente das imagens em outros
quadros, embora a diferença será tão vaga que mal perceberíamos. Mas e se a câmera
pudesse tirar mil quadros por segundo? Então teríamos
mil movimentos em apenas um levantar, embora os movimentos seriam quase
impossíveis de se distinguir. Se a câmera tirasse um milhão de quadros por
segundo – o que pode ser impossível hoje, mas algum dia poderá acontecer – então
haveria um milhão de movimentos no que pensávamos ser apenas um movimento.
Nosso
esforço na meditação do caminhar é poder ver nossos movimentos o mais próximo possível
da forma como uma câmera veria, quadro por quadro. Queremos também observar a
consciência e a intenção, precedendo cada movimento. Podemos também apreciar o
poder da sabedoria e insight do Buda, pelo qual ele verdadeiramente viu todos
estes movimentos. Quando usamos a palavra “ver” ou “observar” para referir a
nossa própria situação, queremos dizer ver diretamente e também por dedução;
talvez não possamos ver diretamente os milhões de movimentos como o Buda
poderia.
Antes dos
yogis começarem a praticar a meditação do caminhar, eles podem ter pensado que
um passo era apenas um movimento. Após a meditação sobre aquele movimento, eles
observam que há pelo menos quatro destes, e se forem mais a fundo, eles
compreenderão que até um destes quatro movimentos consiste de milhões de
movimentos menores. Eles veem nama e rupa, mente e matéria, surgindo e
desaparecendo, como sendo impermanentes. Através de nossa percepção normal, não
conseguimos ver a impermanência das coisas porque a impermanência está ocultada
pela ilusão da continuidade. Pensamos que vemos apenas um movimento contínuo,
mas se olharmos mais próximo, veremos que a ilusão da continuidade pode ser
separada em unidades. Pode ser separada por observação direta dos fenômenos
físicos parte por parte, segmento por segmento, conforme se originam e
desintegram. O valor da meditação está em nossa habilidade de remover o manto
da continuidade para podermos descobrir a verdadeira natureza da impermanência.
Yogis podem descobrir a natureza da impermanência diretamente através de seus
próprios esforços.
Após
compreender que as coisas são compostas de segmentos, que eles ocorrem por
partes, e após observar estes segmentos um por um, yogis compreenderão que não
há nada no mundo que possamos nos apegar, nada a ser desejado. Se vermos que
algo que uma vez pensávamos que era belo na verdade tem buracos, que está
decaindo e desintegrando, perdemos interesse nisso. Por exemplo, podemos ver
uma bela pintura sobre tela. Pensamos na tinta e tela conceitualmente como
sendo um todo, algo sólido. Mas se fossemos colocar a pintura sobre um
microscópio poderoso, veríamos que a pintura não é sólida – ela tem muitos
furos e espaços. Após vermos a pintura compostas por largos espaços, perderíamos
interesse nela e deixaríamos de estarmos apegados a ela. Físicos da modernidade
estão familiarizados com esta ideia. Eles observaram, com instrumentos
poderosos, que a matéria é apenas a vibração de partículas e energia constantemente
mudando – não há nada substancial a isto de forma alguma. Pela compreensão
desta eterna impermanência, yogis compreendem que não há nada de valor a ser
desejado, nada a ser segurado pra si mesmo neste mundo de fenômenos.
Agora
podemos entender os motivos de praticarmos a meditação do caminhar. Praticamos
a meditação porque queremos remover nosso apego e desejo por objetos. É por
compreender as três características da existência – impermanência, sofrimento e
não-substancialidade das coisas – que removemos o desejo. Queremos remover o
desejo porque não queremos sofrer. Se não queremos sofrer, devemos remover todo
desejo e apego. Devemos compreender que todas as coisas são apenas mente e
matéria surgindo e desaparecendo, que todas as coisas são insubstanciais. Uma
vez que compreendemos isso, poderemos remover o apego às coisas. Enquanto não
compreendermos isso, não importa quantos livros lermos ou quantas palestras
assistirmos ou quantas conversas tivermos sobre remover o apego, não seremos
capazes de remover essa barreira. É necessário ter a experiência direta que
todas as coisas condicionadas são marcadas por estas três características.
Portanto,
precisamos prestar bem atenção quando estivermos caminhando, assim quando
estamos sentados ou deitados. Não estou tentando dizer que a meditação do
caminhar por si só poderá nos dar esta realização final e a habilidade de
remover o apego totalmente, mas mesmo assim não deixa de ser uma prática tão
válida quanto a meditação sentado ou qualquer outro tipo de meditação vipassana (insight). A meditação do
caminhar é conducente ao progresso espiritual. É tão poderosa quanto a atenção
plena da respiração ou atenção plena do levantar e cair do abdômen. É uma
ferramenta eficiente para remover impurezas mentais. A meditação do caminhar
pode nos ajudar a adquirirmos insight sobre a natureza das coisas, e por isso
devemos praticá-la tão diligentemente quanto em qualquer outra posição ou tipo
de meditação. Pela prática da meditação vipassana
em todas as posturas, incluindo a postura do caminhar, que você e todos os
yogis possam atingir a purificação total nesta mesma vida!
*Texto original disponível em inglês em http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/silananda/bl137.html
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