Um
Pouco Sobre Minha Trajetória de Vida
Meu nome é Davi, tenho
21 anos e resido atualmente no estado de Pernambuco, onde também nasci. Passei
a infância em São Paulo (no Tatuapé), entre os dois anos de idade até os onze. Após
isso, por diversos fatores, mudei-me para os Estados Unidos na perspectiva de
uma vida melhor com minha mãe, irmã mais jovem e pai, para uma cidade chamada
Marietta, no estado da Georgia, onde residimos por seis anos. Retornamos ao
Brasil em Agosto de 2008, mas desta vez para o interior em minha cidade natal,
onde residi entre 2008 e Fevereiro de 2012. Após isso, sai da casa de meus
pais para ingressar na universidade onde hoje estudo.
Minha
Educação Religiosa
Minha mãe foi
responsável pela minha educação religiosa em minha infância. Ela se tornou uma
Testemunha de Jeová quando tinha por volta dos seis ou sete anos de idade. Eu
gostava de participar ativamente nas atividades do Salão do Reino em que frequentávamos,
como por exemplo, a pregação de porta em porta pelas quais as Testemunhas de
Jeová são tão conhecidas (e odiadas). Dentro da congregação, havia sempre paz e
harmonia e um forte senso de confiança que tínhamos entre os irmãos e foi neste
ambiente em que fui educado com os valores morais que formaram a minha
sensibilidade e o apreço pela religiosidade que carrego comigo até hoje.
Porque
Decidi Abandonar A Minha Religião
Durante a minha
infância e adolescência eu era um fervoroso pregador, e não tinha vergonha
alguma em chegar para as pessoas na rua ou na escola para meus colegas e pregar
a Bíblia para eles. Por muito tempo me senti satisfeito dentro da religião na
qual eu praticamente nasci. Porque a deixei então? Havia certas crenças,
religiões e práticas das quais as Testemunhas de Jeová condenavam e enquadravam
sobre o termo coletivo “ocultismo” ou “espiritismo”, apesar de ser um termo
pobre que não comporta tamanha variedade de manifestações espirituais-religiosas, como por
exemplo, o Espiritismo, a meditação, o ioga, a astrologia, a Umbanda e Candomblé,
o Paganismo, hipnose, leitura de cartas, estudo de fenômenos paranormais, etc. E
desde muito cedo tudo isso que as Testemunhas de Jeová classificavam como “ocultismo”
me parecia irresistivelmente atraente. Eu sempre quis saber o que estava por de
trás destas práticas que eram tão proibidas.
Aos 15 anos comecei a
frequentar uma loja de artigos esotéricos que havia próximo do condomínio onde
morava. Tornei-me amigo da dona e das pessoas que frequentavam a loja, e nas
minhas idas e vindas a esta loja, vários diálogos surgiam em que a dona da loja
me incentivava a questionar minhas próprias crenças e descobrir a fundo porque
eu acreditava no que acreditava. Resumindo – fui aos poucos me afastando das
Testemunhas de Jeová até que deixei de ser um “irmão” dentro da congregação,
mas continuei frequentando-a até os 17 anos.
A
Procura de Um Caminho
Foi nesta época que
comecei então a minha busca espiritual por um caminho que pudesse me satisfazer
plenamente. Dentre tantas outras coisas, experimentei práticas, caminhos
espirituais alternativos e religiões como – a leitura de cartas, a astrologia,
o Hinduísmo, o Xamanismo, o Espiritismo, Bruxaria Tradicional, o movimento Hare
Krishna, Satanismo (de Anton Szandor LaVey, foi meu período ‘ateu revoltado’),
Paganismo em geral, Umbanda, Logosofia e Wicca (sim, até eu tive minha fase
Wicca e foi logo depois deu ter saído das T.J.). Enfim, desenvolvi um saudável
interesse pelo estudo da mitologia e da comparação entre as religiões. Cheguei
a querer explorar também o campo da filosofia, na esperança de que pensadores
do passado pudessem também me mostrar um caminho a seguir. Interessei-me em
particular por Platão, Schopenhauer e Nietzsche.
Mas enfim, as vezes
havia momentos em que eu pensava que havia encontrado um caminho seguro, que eu
trilharia pro resto da vida. Um dos últimos caminhos que trilhei antes de
chegar ao Budismo foi a Logosofia – senti por um bom tempo que esta seria a
minha escolha definitiva. Mas se essa era a minha escolha, porque eu ainda
pensava em querer conhecer mais outros caminhos? Não parecia este ser o
suficiente?
Encontrando
o Budismo
Uma querida amiga
minha, com quem ainda mantenho contato apesar da distância, me deu certa vez um
livro chamado O Poder do Agora de
Eckhart Tolle. Havia ganhado este livro em 2006, e entre o ano em que ganhei
até Novembro de 2011 eu nunca havia aberto uma página daquele livro. Ele apenas
ficava lá, sentado em minha estante. Até que um dia, sem mais nada pra fazer,
resolvi pegar este livro. Ao abrir me deparei logo de cara com que Eckhart
chamava de “a doença da mente” – os pensamentos que não se calam. Seus
ensinamentos diziam que a maioria do sofrimento humano é causado pela mente,
que não cessa seu ‘dialogo interno’ nunca, e por isso, não conhece a paz de
estar silenciosa. Pude pressentir que o que este homem ensinava era profundo,
algo totalmente diferente de tudo que havia lido ou aprendido ou praticado até
aquele momento. A felicidade não viria de como obter o que eu queria, mas sim, de eliminar este querer e estar totalmente satisfeito e feliz com o momento presente. “Como,” eu pensava “poderia a busca pela verdade ser atingida
por uma mente que cessa sua atividade mental, e não pelo caminho da
racionalização, como sempre pensei que era o certo?” E em vários momentos ele
mencionava o nome do Buda. Era daí que muitos dos seus ensinamentos pareciam
vim. “Vamos atrás do Buda”, eu disse pra mim mesmo.
Batalha
Contra a Depressão
Voltando um pouco ao
passado, vale ressaltar que passei por turbulentos períodos de depressão e
ansiedade, entre os 12 e 16 anos de idade, onde tomava remédios controlados, e
fazia terapia com uma psicóloga. Os motivos que me levaram a depressão, prefiro
mantê-los para mim mesmo. Mas não foi uma luta fácil, e pode-se dizer que entre
os 14 e 16 anos o que foi “curado” foram apenas os sintomas mais graves, as
crises de ansiedade intensa e os altos e baixos violentos que me ocorriam. A busca por um caminho espiritual que iniciei aos 15 anos foi um fator crucial para o equilíbrio emocional, pois acrescentou um sentido maior a minha vida. Eu
diria que depois dessa fase (14-16 anos), eu consegui atingir um bom equilíbrio emocional,
ao ponto em que parei de tomar os remédios que minha psiquiatra havia dito que
teria que tomar para o resto da vida. Mas eu ainda sofria com altos e baixos
menos violentos. Tendo vencido a depressão hoje em dia, posso dizer que o seu
diagnóstico não é uma sentença para vida toda e que ela é passível de ser curada.
Encontrando
a Pérola Preciosa
Após a leitura do livro
de Eckhart, fui atrás desse Budismo. Claro que estou resumindo muitos as coisas ao relatá-las dessa maneira, mas o que aconteceu foi que ao me deparar com as Quatro Nobres
Verdades, uma “luz” ascendeu em minha mente, e naquele momento, eu soube, sem
nenhuma sombra de dúvida, que eu havia encontrado o que passei procurando por 6
anos – o Dhamma imaculado, perfeito, o Santo Graal.
Dizia o Buda:
“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade do sofrimento:
nascimento é sofrimento, envelhecimento é sofrimento, enfermidade é sofrimento,
morte é sofrimento; tristeza, lamentação, dor, angústia e desespero são
sofrimento; a união com aquilo que é desprazeroso é sofrimento; a separação
daquilo que é prazeroso é sofrimento; não obter o que se deseja é sofrimento;
em resumo, os cinco agregados influenciados pelo apego são sofrimento.”
Certamente, muitas vezes eu já fui separado do
que eu muito amava e que considerava prazeroso, muitas vezes eu já passei por
situações em que eu fui posto ao lado de coisas que eram não apenas
desagradáveis, mas que me faziam mal (como certas pessoas), e quantas vezes,
quantas inúmeras vezes, eu não obtive aquilo que queria? E para
finalizar, existe hoje em dia uma corrente da psicologia, se não me engano, que
trabalha com a questão de nos livrarmos do “trauma do nascimento” durante processo
de terapia. Até mesmo aquele momento que achamos tão lindo, de ver uma criança
nascer – uma nova vida a vim – está repleto de sofrimento e aflição que é encoberto pela sensação de uma nova esperança a vim, para os dois seres que
passam por ela – a mãe e o filho.
Mais
adiante, ele diz:
“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade da origem do
sofrimento: é este desejo que conduz a uma renovada existência, acompanhado pela cobiça e pelo prazer,
buscando o prazer aqui e ali; isto é, o desejo pelos prazeres sensuais, o
desejo por ser/existir, o desejo por não ser/existir.”
Algum tempo depois deu ter começado a ler a
respeito do Budismo, eu comecei a voltar em minhas memórias, e, claro! É claro
que isso era mais do que óbvio, como eu não pude ver o que estava abaixo do meu
nariz por tanto tempo?
É claro, se não foste este desejo, este anseio,
este querer que parecia ser uma chama
que queimava dentro de mim – se este desejo não existisse, nas várias ocasiões
em que eu sonhei, criei expectativas, quis certas cosias que estavam fora do
meu alcance – teria eu sofrido? E quando este querer era saciado, como muitas
vezes também foi, fiquei plenamente satisfeito com isso? Porque novos quereres
estão sempre surgindo e nunca nos deixam em paz? Porque quando se tem tudo o
que quer, não resta mais nada a não ser um vazio e um novo desejo de querer
procurar algo a mais que possa ser feito?
A terceira e quarta
Nobre Verdade assinalavam para algo ainda mais esperançoso, a cura deste mal:
“Agora, bhikkhus, esta é a nobre verdade
da cessação do sofrimento: é o desaparecimento e cessação sem deixar vestígios
daquele mesmo desejo, abrir mão, descartar, libertar-se, despegar desse mesmo
desejo.”
“Agora, bhikkhus,
esta é a nobre verdade do caminho que conduz à cessação do sofrimento: é este
Nobre Caminho Óctuplo: entendimento correto, pensamento correto, linguagem
correta, ação correta, modo de vida correto, esforço correto, atenção plena
correta, concentração correta. ”
No momento em que tomei
contato com as Quatro Nobres Verdades, compreendi porque eu vagava de religião
à religião, de filosofia à filosofia, sem saber porque não conseguia me firmar
em nenhuma delas – porque elas não estavam chegando à raiz, não estavam
respondendo a questão central da qual eu mesmo estava apenas intuitivamente
ciente – como pôr um fim definitivo ao sofrimento. Se eu conseguisse fazer
isso, não restaria mais nada a não ser o surgimento da verdadeira felicidade.
Ai estava – o caminho encontrado, as dúvidas cessadas, a mente satisfeita na certeza
de que havia encontrado um porto para se firmar. Só me restava agora trilhá-la
até o seu fim, até chegar a sua destinação, coisa que faço até hoje; capítulos
que ainda não foram e esperam ser escritos.
Depois que comecei a
experimentar a paz da meditação, depois que comecei a ter pequenos vislumbres
do que me aguarda se seguir em frente com o caminho aberto pelo Buda e seus
nobres discípulos, muitas das aflições que sentia, que antes pareciam ser tão
solidas, desapareceram no ar, feito a nevoa matutina que se dissipa ao brilhar
dos primeiros raios do sol. E foi com este intuito que decidi criar
este blog, para ajudar com que a mensagem do Buda chegue ao maior número de
pessoas possíveis, para que elas também possam ter a esperança de verem-se
livres de suas próprias aflições.
Querido Davi, adorei sua postagem sua história e determinação, eu ainda estou na busca, sei que é o budismo, que se enquadra ao que acredito hoje, mais ainda muito confusa qual escola, linha do budismo onde me encontrarei totalmente ? As Práticas , sou mto questionadora delas, altar, oração, devoção, mantras, ainda não sinto que encontrei o que procuro. preciso estudar mais. grande abraço
ResponderExcluirOlá Luciana querida,
ExcluirAgradeço pelo seu comentário, e digo - não desista da sua busca até que esteja plenamente satisfeita com o que achou! Se diz que é o Budismo e tem certeza disso, ótimo, boa parte do caminho já foi andado e não terá que procurá por respostas em outro lugar.
Sobre a questão de escolas, linha, etc. isso só vai poder ser decidido quando você encontrar com a tradição que você mais se identificar. Há no Budismo duas grandes tradições - a Theravada (que é a que sigo) e a Mahayana. Dentro dessas tradições, há várias escolas ou ramificações. Seja paciente consigo mesma durante sua busca. Sobre questões como as práticas, estarei postando futuramente um artigo que explica melhor quais sãos as práticas budista dos seguidores leigos na tradição que sigo, que tratará de questões como o altar, o que é chamado no budismo de "as recordações" que seriam como devoções, etc. Mas devo avisar que não fazemos orações no Budismo, e nem fazemos uso de mantras como os Hindus ou a tradição Mahayana faz. Existem algumas técnicas de meditação que usam uma palavra como mantra, para focar a mente, mas como disse, é totalmente diferente da forma como mantras são usados no Hinduismo ou no Budismo Mahayana.
Abraços e boa sorte!
Caro Davi,
ResponderExcluirOnde estava "eu" que só agora dei com seu blog! Hehehehe! Que fonte! Sou um principiante Theravada, buscando aprender e procurando colocar em prática. Aqui em Recife, eu e um grande amigo, que me apresentou ao Buddhismo Theravada, estamos trabalhando para criar um centro/círculo/grupo (sei lá...) de estudo e prática. Ainda não tomamos refúgio (ele, sim, no Terra Pura), mas iremos fazê-lo, em breve. Bem, pelo menos formalmente, porque já o fazemos para nós mesmos, diariamente, hehehehe!
Seu blog será uma referência para nós. Obrigadíssimo!
Um grande abraço,
Antonio de La Maria
Olá Sr. Antonio,
ExcluirFico muito feliz ao ler seu comentário e saber que a nossa comunidade budista no Pernambuco está florindo. Não sei se o senhor está ciente mas há uma comunidade Theravada do Recife no facebook, o endereço deles é:
http://www.facebook.com/pages/Theravada-Recife/190734861018952?fref=ts
Talvez quando eu for futuramente ao Recife posso entrar em contato com este grupo e saber quando eles se reunem. E fico muito satisfeito em saber que este blog está sendo usado como material de estudo. Forte abraço!
Quero amigo...
ResponderExcluircoloquei no google a seguinte pergunta ... qual o melhor metodo para conseguir o samadi .... e me foi apresentado o seu blog ... gostei muito ...
diariamente pesquiso .. leio .. estou sempre buscando algo que preencha um vazio que existe dentro de mim ...
me simpatizo muito com o budismo .. e sinto ser a meditação o caminho que busco e talvez tenha perdido...
com mais tempo irei voltar aqui e quero ler todos os artigos ...
grande abraço,
arnaldo
Olá Arnaldo,
ExcluirMuito obrigado por ter deixado seu comentário aqui. Eu fiz o mesmo que você relatou acima e vi que aparece mesmo no Google o artigo "Lições em Samadhi". Fico contente em saber disso. Talvez não seja o caso de você encontrar algo que preencha este vazio, talvez seja o caso de você praticar para abandonar este vazio, e para isso a meditação é de muito auxílio. Espero que o que você encontre aqui possa te ajudar. Abraços.
"Tendo vencido a depressão hoje em dia, posso dizer que o seu diagnóstico não é uma sentença para vida toda e que ela é passível de ser curada."
ResponderExcluirValew Davi, por compartilhar sua Vitória!
Adorei seu Blog, o li e reli, é maravilhoso. Apesar de ter encontrado o Dhamma pela NET ou o Budismo THERADAVA, em minha cidade não há templos, nem mosteiros, portanto com a ajuda da HATHA YOGA hoje faço meditações diariamente.
ResponderExcluirEspero que me ajude a encontrar um mestre para iluminar-me pois ja estou na correnteza, embora necessite de instrução superior.
Espero que se corresponda comigo pelo E-mail: marcao120@hotmail.com.
Estou aguardando Vossa Divina Graça.
Caro Davi e amigos no Dhamma,
ResponderExcluirDescobri a joia do Dhamma como ensinada pelo Desperto há alguns meses. É a única luz nas trevas de samsara! Moro em Olinda e fico feliz em saber de alguém no estado que se dedica ao Dhamma. Sadhu, sadhu, sadhu! Espero manter contato com os nobres companheiros.