sábado, 1 de junho de 2013

A Vida dos Discípulos - A História de Kisagotami





"Monges, estas oito condições mundanas giram em torno do mundo, e o mundo gira em torno destas oito condições mundanas. Quais oito? Ganho, perda, status, desgraça, repreensão, louvor, prazer e dor. Estas são as oito condições mundanas que giram em torno do mundo, e o mundo gira em torno destas oito condições mundanas."

"Para uma pessoa tola e não instruída surge ganho, perda, status, desgraça, repreensão, louvor, prazer e dor. Para um instruído discípulo dos Nobres surge também ganho, perda, status, desgraça, repreensão, louvor, prazer e dor. Então qual é a diferença, qual é o fator que distingue entre um discípulo bem instruído dos Nobres e uma pessoa inculta e não instruída?"

-         --  Anguttara Nikaya 8.6


Kisagotami era a filha de um homem rico da cidade de Savatthi; ela era conhecida como Kisagotami por causa do seu corpo esbelto (kisa significando ‘magra’). Kisagotami era casada com um jovem rico e um filho nasceu do casal. O garoto morreu quando ainda era apenas um bebê e Kisagotami ficou arrasada pela perda. Carregando o corpo de seu filho morto, ela saiu pelas ruas implorando por um remédio que trouxesse a criança de volta à vida para cada pessoa com quem ela se deparava. As pessoas começaram a pensar que ela havia enlouquecido. Mas um sábio homem vendo a sua condição achou que ele pudesse ser de alguma ajuda a ela. Então, ele disse, “O Buda é a pessoa a quem você deve procurar, ele tem o remédio que você busca; vá até ele”. Assim, ela foi até o Buda e pediu a ele pelo remédio que restauraria seu filho morto à vida.

O Buda a instruiu que trouxesse até a ele sementes de mostarda (o tempero mais barato da época) de uma casa onde não houvesse ocorrido nenhuma morte. Carregando o seu filho em seus braços, Kisagotami foi de casa em casa, pedindo por algumas sementes de mostarda. Todos estavam dispostos a ajudá-la, mas ela não conseguiu encontrar nenhuma casa onde a morte de alguma pessoa não tivesse acontecido. Então, aos poucos ela percebeu que a família dela não era a única que havia se deparado com a morte e que havia mais pessoas mortas do que vivas. Assim que ela compreendeu isso, sua atitude em relação ao seu filho morto mudou; ela já não estava mais apegada ao corpo da criança.

Ela deixou o corpo em uma floresta e voltou ao Buda e relatou à ele o ocorrido. Então o Buda disse, “Gotami, você pensava que você era a única pessoa que havia perdido um filho. Assim como você pode ver, a morte chega para todos os seres. Antes que seus desejos sejam saciados, a morte chega para todos os seres”. Ao ouvir isso, Kisagotami compreendeu a impermanência, insatisfatoriedade e insubstancialidade dos agregados e atingiu a fruição de Sotapanna.

Logo após isso, Kisagotami tornou-se uma bhikkhuni (monja). Certo dia, conforme ela estava acendendo algumas lâmpadas, ela viu as chamas surgindo cintilantes e logo em seguida se apagando, e de repente ela viu claramente o surgimento e desparecimento dos seres. O Buda, através de seu poder supranormal a viu de seu mosteiro, e enviou seu resplendor e apareceu diante dela em pessoa. Kisagotami foi aconselhada a continuar meditando sobre a natureza impermanente de todos os seres e esforçar-se bem para alcançar Nibbana.

Então o Buda falou em verso o seguinte:


Melhor do que cem anos na vida de uma pessoa que nunca vê o Imortal (Nibbana) é um dia na vida de uma pessoa que vê o Imortal. 

Tão logo Kisagotami tinha terminado de ouvir estes versos, ela atingiu o estado de Arahant (santidade). 


A seguinte história é o relato para o verso 114 do Dhammapada. 


Um comentário:

  1. Muito obrigado Davi, eu gosto de conhecer os comentários do canone, acho interessante.

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