Retirei
estas observações abaixo do meu diário de meditação e decidi colocá-las aqui
para que sejam de proveito para aqueles que possam delas se beneficiar.
"Algumas
considerações a serem tomadas:
Há
dois tipos de pensamento basicamente, e eles podem ocorrer de forma separada ou
conjuntamente, e estes são – verbal e visual. O pensamento verbal é aquela voz
dentro da mente que não para de falar, e o pensamento visual são as várias
lembranças ou fantasias que a mente pode conjurar.
Existe
uma diferença entre a faculdade da atenção plena e os pensamentos que rondam
pela mente. Isso pode ser claramente constatado devido ao fato de que, ao mesmo
tempo em que posso manter a atenção focada na respiração, os pensamentos vêm e vão.
Eu
lanço a hipótese de que o silenciar dos pensamentos na meditação deve ser algo
similar a uma pessoa chata que não para de falar e outra que ignora a mesma. A
primeira pode ser bastante insistente em continuar sua tagarelice, mas se a
segunda manter-se indiferente a isso, eventualmente a primeira irá se esgotar e
parará de falar. Isto é, se a atenção plena for consistente em manter seu foco
na respiração, sem forçar, sem se irritar, e principalmente, sem se envolver
com a tagarelice dos pensamentos, ela poderá chegar, hipoteticamente, a um
estado onde haja apenas a atenção plena na respiração.
Contudo,
há dois problemas que é preciso ser estressado aqui. Primeiramente, é apenas
com as repetidas tentativas na meditação que se pode chegar a esse ponto onde
se percebe a diferença entre a atenção plena sobre o objeto de meditação e os
pensamentos. Pois acontece que, uma pessoa que não sabe fazer esta
diferenciação se envolva e se entrelace com os pensamentos vez após vez para
sua frustração. Se a atenção plena for adequada o bastante, ela poderá ver
quando isso acontece assim que ocorrer o fato e poderá se separar dos
pensamentos mais uma vez. De novo, estresso que a atenção plena é diferente dos
pensamentos, é possível ter pensamentos na mente sem que a atenção plena se
envolva neles, apesar de ser uma situação incômoda.
Eu
teria que ir pela fé aqui, porém, ao afirmar que nesta minha hipótese, se a
mente eventualmente conseguir se acalmar dos pensamentos, que ela verá o nimitta – isto é, a luz que prenderá a
sua atenção e fará com que ela se foque apenas nisto e entre no estado de
absorção.
O
outro problema – se a agitação da mente vem da ansiedade como um dos cinco
empecilhos, o segundo problema vem quando a mente consegue começar a se
acalmar, isto é, a sonolência. Este é um problema comum que já enfrentei várias
vezes na meditação. Começa-se a sentir alegria quando a mente começa a se
acalmar, tudo parece estar indo uma maravilha quando de repente você percebe que começa
a ficar sonolento. Isso eu entendo que se deve ao fato deu ter colocado as
coisas em ‘piloto automático’ por assim dizer. Há a consciência da respiração,
mas a este ponto, esta já deixou de ser o objeto da mente. Em outras palavras,
se a atenção plena larga o objeto de meditação, isso dá lugar a sonolência.
Então encontro-me em dois extremos aqui – o da agitação e o da estagnação.
Mas
não quero fazer parecer aqui que minha prática meditativa resumiu-se a apenas
estes dois – se assim fosse, eu já teria deixado a meditação para trás há muito
tempo. Não, pelo contrário, eu já experimentei tanto felicidade quanto prazer
corporal vindo da meditação. Felicidade que às vezes dura horas e horas após eu
já ter resumido a meditação. E é esta mesma felicidade que é tão diferente dos
prazeres conectados aos sentidos que me faz acreditar que se eu continuar,
posso ir mais fundo.
Agora
considerarei outra coisa, no que diz respeito aos preceitos. Quando estou
meditando, é como se eu estivesse tentando nadar contra a correnteza. Esta
correnteza nada mais é do que o fluxo de pensamentos verbais e visuais que se
desdobram na mente. Agora, se notarmos cuidadosamente aqui quais tipos de
pensamentos são estes, vamos entender porque a reclusão é importante para a
prática meditativa – e eu pude compreender isso depois que passei dois dias
isolado em meu quarto observando o Uposatha. Durante o nosso dia, somos
bombardeados por vários estímulos sensórias – com as pessoas que interagimos, o
próprio ambiente ao nosso redor, música, barulho, comida, etc. Há vários estímulos
na vida de alguém que vive numa cidade, e são estes tipos de coisa que se
desdobram na mente (pelo menos na minha) durante a prática da meditação. Cenas
do cotidiano, trechos de conversas que tive, ocasionalmente ocorrem fantasias
relacionadas ao futuro, mas no mais, tudo tem a ver com coisas que aconteceram
recentemente. São estes tipos de pensamentos que se desdobram na mente durante
a meditação. Quando alguém está em um local onde há reclusão, onde há poucos estímulos,
é mais fácil inclinar a mente a se acalmar. Já percebi que é impossível fazer a
mente se acalmar por vontade própria, mas é possível sim criar as condições
corretas para que ela se aquiete por si só. É daí que vem a importância dos
preceitos e de estar recluso em um ambiente onde você não será perturbado.
Os
preceitos são para parar as coisas gradualmente. Por exemplo, contato com
outras pessoas estimula todo tipo de conversa indevida, mas que no dia a dia
acabam sendo necessárias quando se tem, por exemplo, um círculo de amizades – há
fofocas, há situações em que você pode se aproximar de uma mentira, você está
sujeito a cair em um tipo de fala grosseira, como palavrões, etc. Tudo isso é
motivo de agitação para mente. Mas, por exemplo, se estamos em recolhimento,
longe de outras pessoas, a oportunidade para nos engajarmos em todo tipo de conversa
desnecessária não surge e assim a mente não se agita devido a estes fatores
ausentes. Sem falar de que isso também é um grande benefício para que a mente
não comece a se engajar em desejo sexual – se não há outros por perto, se a
mente está recolhida, é menos provável que surjam pensamentos relacionados ao
sexo.
Se
escolhermos também um local com o qual nos familiarizamos e que seja
relativamente tranquilo, também não haverá muitos estímulos vindos do ambiente
e isto é outro fator para que a mente não se agite. Por isso, torna-se claro,
que durante o Uposatha é bom que estejamos reclusos, isolados, recolhidos da
companhia de outras pessoas que possam ser causa para distração. Estando assim
longe de tantos estímulos, comendo uma vez ao dia, deixando de ouvir música ou
de assistir programas, shows, filmes, etc., e escolhendo um ambiente adequado,
já nos livramos de muitos estímulos que podem invadir a mente durante a
meditação e criamos as condições para que essa se aquiete mais. De fato, essa
mente é um instrumento muito delicado, muito sensível, merecendo de nós a maior
atenção para que seja cuidada.
Por
enquanto, estes são os pensamentos que achei necessário que fossem colocados em
escrita, baseados em várias observações já feitas."
Nenhum comentário:
Postar um comentário