Anguttara Nikaya 8.43
Visakhuposatha Sutta: O Discurso à Visakha
sobre o Uposatha
Tradução do Pali para o Inglês,
Bhikkhu Khantipalo
Tradução para o Português
Davi Coêlho
Assim ouvi: Em certa ocasião o Exaltado estava próximo de Savatthi no
Mosteiro do Leste na mansão (doada pela) mãe de Migara. Então Visakha[1], a mãe
de Migara, se aproximou do Exaltado; tendo se aproximado e se prostrado, ela
então sentou-se em um local apropriado. Quando ela estava sentada o Exaltado se
dirigiu assim à Visakha, a mãe de Migara:
“Visakha, quando o Uposatha é realizado com suas oito práticas
componentes, [2] quando nele se entra, é de grande fruto, de grande vantagem,
de grande esplendor, de grande alcance. E como, Visakha, o Uposatha realizado
com suas oito práticas componentes, e quando nele se entra, é de grande fruto,
grande vantagem, grande esplendor e grande alcance?
“Aqui, [3] Visakha, um nobre discípulo considera da seguinte maneira:
“Por toda a sua vida, os arahants vivem tendo abandonado a matança de
seres vivos, abstém de toda matança de seres vivos, tendo abaixado sua vara,
tendo abaixado suas armas, eles são conscientes, [4] empáticos, compassivos
pelo bem de todos os seres vivos; assim eu vivo hoje, por esta noite e este
dia, tendo abandonado a matança de seres vivos, abstendo da matança de seres
vivos, eu sou alguém que abaixou a minha vara, abaixou minhas armas, sou
consciente, empático, compassivo pelo bem de todos os seres vivos. Através
desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta primeira prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, os arahants vivem tendo
abandonado pegar aquilo que não é dado, abstém de tomar o que não é dado, eles
só tomam para si aquilo que lhes é dado, são aqueles que apenas esperam por
aquilo que é dado, eles mesmos tornaram-se puros sem roubar; do mesmo modo
hoje, eu vivo por esta noite e este dia, tendo abandonado pegar aquilo que não
me é dado, abstendo de tomar aquilo que não é dado. Eu apenas tomo aquilo que
me é dado, sou alguém que apenas espera por aquilo que é dado, por mim mesmo
torno-me puro sem roubar. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants,
entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta segunda prática.”
“[Uma pessoa considera:] ‘Por toda sua vida, arahants vivem tendo
abandonado a conduta não casta, eles são de conduta casta, vivendo afastados,
abstém do sexo que é o modo de vida da sociedade comum; portanto hoje vivo, por
esta noite e dia, tendo abandonado conduta não casta, sou de conduta casta,
vivendo indiferente, abstendo do sexo que é o modo da sociedade comum. Através
desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta terceira prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants vivem tendo
abandonado linguagem falsa, abstém de linguagem falsa, pronunciam apenas a
verdade, juntam-se à verdade, [5] são firmes-na-verdade, [6]
estabelecidos-na-verdade, [7] não são de pronunciar mentiras ao mundo; portanto
hoje vivo, por esta noite e dia, tendo abandonado linguagem falsa, abstendo de
linguagem falsa, falante apenas da verdade, alguém que se junta à verdade,
firme-na-verdade, estabelecido-na-verdade, não um falante de mentiras ao mundo.
Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta quarta prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants vivem tendo
abandonado intoxicantes fermentados e destilados que são a ocasião para o
descuidado e deles se abstém; portanto eu vivo, por esta noite e dia, tendo
abandonado intoxicantes fermentados e destilados que são a ocasião para o
descuido, abstendo deles. Através desta prática, seguindo a maneira dos
arahants, entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta quinta prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants são alguém que comem
apenas uma vez, abstendo de comer fora da hora, renunciando à noite [8],
portanto, hoje sou alguém que apenas come uma vez, abstendo de comer fora da
hora, renunciando à noite. Através desta prática, seguindo a maneira dos
arahants, entrarei no Uposatha.”
“É realizado por esta sexta prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda sua vida, arahants abstém de dançar,
cantar, de música, de ir ver entretenimentos, de usar trajes, adornando-se com
perfumes e se embelezando com cosméticos; portanto hoje eu abstenho de dançar,
cantar, de música, de ir ver entretenimentos, de usar ornamentos, de me adornar
com perfumes e de me embelezar com cosméticos. Através desta prática, seguindo
a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta sétima prática.”
“[Ele considera:] ‘Por toda sua vida, arahants tendo abandonado camas
altas [9] e camas largas, [10] abstendo de camas altas e camas largas, fazem
uso de um local baixo para dormir, uma cama [dura] ou um monte de palha;
portanto hoje, tendo abandonado camas altas ou camas largas, abstendo de camas
altas e camas largas, faço uso de um local baixo para dormir, uma cama [dura]
ou um monte de palha. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants,
entrarei o Uposatha.”
“É realizado por esta oitava prática.”
“Assim de fato, Visakha, é como entrando o Uposatha e realizando-o com
suas oito práticas componentes, é de grande fruto, de grande vantagem, de
grande esplendor, de grande alcance. Quão grande o fruto? Quão grande a
vantagem? Quão grande o esplendor? Quando grande o alcance?”
“Assim como, Visakha, alguém possa ter poder, domínio e soberania [11]
sobre todos os dezesseis grandes países abundantes nos sete tesouros [12] –
isto é, Anga, Magadha, Kasi, Kosala, Vajji, Malla, Ceti, Vansa, Kure, Pancala,
Maccha, Surasena, Assaka, Avanti, Gandhara e Kamboja, ainda sim não vale um
décimo sexto deste Uposatha realizado com suas oito práticas. Por qual motivo? Miserável é a soberania sobre homens
comparado com a felicidade celestial.
“Aquilo que entre os homens é cinquenta anos, Visakha, é um dia e uma
noite dos devas dos Quatro Grandes Reis, o seu mês tem trinta destes dias, seus
anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas dos Quatro Grandes Reis
é quinhentos destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo
entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se
o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas dos Quatro
Grandes Reis – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto
que eu disse: Miserável é a soberania
sobre homens comparado com a felicidade celestial.
“Aquilo que entre os homens é cem anos, Visakha, é um dia e uma noite
dos devas dos Trinta e Três, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem
doze destes meses; a duração de vida dos devas dos Trinta e Três é mil destes
anos celestiais. [13] Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o
Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo,
após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas dos Trinta e Três – tal
coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens
comparado com a felicidade celestial.
“Aquilo que entre os homens é duzentos anos, Visakha, é um dia e uma
noite dos devas Yama, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze
destes meses; a duração de vida dos devas Yama é de dois mil destes anos
celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha
realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a
morte, pode surgir entre a companhia dos devas Yama – tal coisa é de fato
conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade
celestial.
“Aquilo que entre os homens é quatrocentos anos, Visakha, é um dia e
uma noite dos devas de Tusita, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem
doze destes meses; a duração de vida dos devas de Tusita é de quatro mil destes
anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha
realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a
morte, pode surgir entre a companhia dos devas de Tusita – tal coisa é de fato
conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade
celestial.
“Aquilo que entre os homens é oitocentos anos, Visakha, é um dia e uma
noite dos devas-que-se-deleitam-em-criação, o seu mês tem trinta destes dias,
seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos
devas-que-se-deleitam-em-criação é de oito mil destes anos celestiais. Agora,
aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas
componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia
dos devas-que-se-deleitam-em-criação – tal coisa é de fato conhecida, Visakha.
Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável
é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.
“Aquilo que entre os homens é mil e seiscentos anos, Visakha, é um dia
e uma noite dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros, o seu mês
tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros
é de dezesseis mil destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher,
tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao
quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros
– tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens
comparado com a felicidade celestial.
“Não tire a vida, nem pegue aquilo que não é dado, não fale mentira
alguma, nem seja um alcoólatra, abstenha-se de sexo e conduta não casta, à
noite não coma fora do horário, nem use guirlandas nem se adorne com perfumes,
e faça sua cama sobre um tapete sobre o chão: isto é de fato chamado o Uposatha
com oito fatores ensinado pelo Buda, que chegou ao fim do sofrimento. Os
esplendores do sol e da lua, ambos belos de se verem, seguem um após o outro,
dissipando a escuridão conforme eles passam pelos céus, iluminando o mesmo e
clareando os quatro cantos e todos os tesouros neles encontrados: pérolas e
cristais e turquesas preciosas, pepitas de ouro e o ouro chamado ‘minério’,
ouro monetário com pó de ouro carregado – comparados com este Uposatha de oito
fatores, apesar deles serem desfrutados, não velem um décimo sexto – assim como
a lua resplandecente entre todos os grupos de estrelas. Portanto, de fato, uma
mulher ou um homem que é virtuoso entram o Uposatha tendo oito partes e tendo
feito méritos [14] que trazem felicidade, sem mancha de culpa eles obtém
moradas celestiais.
(O upasaka Vasettha,
quando ouviu este discurso, após o Buda ter acabado de pronunciar os versos
acima, exclamou:)
“Senhor, se meus queridos parentes entrassem este Uposatha realizado
com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade deles por muitos
dias. Senhor, se todos os nobres guerreiros, brâmanes, comerciantes e
trabalhadores, juntamente com seus governantes e a humanidade entrassem neste
Uposatha realizado com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade
deles por muitos dias.”
“De fato assim é, Vasettha. Se todos nobres guerreiros, brâmanes,
comerciantes e trabalhadores entrassem neste Uposatha realizado com suas oito
práticas, seria para o benefício e felicidades deles por muitos dias. Se este mundo,
com suas devas, maras e brahmas, esta geração com seus samanas e brâmanes,
juntamente com seus governantes e humanidade entrassem neste Uposatha realizado
com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade deles por muitos
dias. Vasettha, até mesmo se estas grandes árvores entrassem este Uposatha com
suas oito práticas, seria para seu benefício e felicidades por muitos dias,
isto é, se elas fossem conscientes, o que dizer então da humanidade.”
Notas:
1.
Visakha: uma mulher muito generosa e discípula
leiga que, por ouvir frequentemente o Dhamma, tornou-se uma Que Entrou a
Correnteza e que era, talvez, já uma nobre discípula (ariya) quando este discurso foi proferido.
2.
Anga: literalmente, parte, componente; aqui
significando práticas compondo o Uposatha.
3.
“Aqui”: significando, “no Buddha Sasana,” as
instruções do Buda ou religião.
4.
Lajji: alguém que tem vergonha (hiri) de fazer o mal, e o medo de fazer
o mal (ottappa), as duas qualidades
que são chamadas de “os guardiões do mundo”.
5.
Saccasandha: “eles se juntam à verdade” (comentário.)
6.
Theta: literalmente, “firme, estabelecido”, isto é,
na experiência da verdade suprema.
7.
Paccavika: verdade que foi vista por notar o seu
surgimento condicional.
8.
Monges não comem após o meio dia até o
amanhecer do dia seguinte.
9.
Camas altas significam camas luxuosas que são
macias e bem arqueadas.
10.
Camas largas são aquelas em que duas pessoas
podem dormir nela.
11.
Rajjam: literalmente, “realeza”, mas significando
geralmente grande autoridade.
12.
Os sete
tesouros: ouro, prata, pérola, cristal, turquesa, diamante, coral.
13.
Se calculado em anos humanos, as devas dos
Quatro Grandes Reis vivem 9, 000, 000 anos; as dos Trinta e Três 36,000,000 anos; a dos Yama 144, 000, 000
anos; as de Tusita, 576, 000, 000 anos; as devas-que-se-deleitam-em-criação 2,
304, 000, 000 anos; as devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros, 9,
216, 000, 000 anos. Um humano pode viver no máximo um dia na vida das devas dos
Trinta e Três. Vale a pena ler a história no Comentário do Dhammapada chamada Aquela que honra o marido, que trás à
vida esta escala comparativa.
14.
Mérito (puñña):
kamma positivo que purifica e limpa a mente daquela que faz a ação, tais como
as práticas dos três modos de ser fazer mérito: caridade, conduta moral (ou
preceitos) e meditação.
O texto acima pode ser encontrado em sua íntegra em inglês no seguinte
endereço: http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/an/an08/an08.043.khan.html
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