sábado, 23 de novembro de 2013

AN 8.43: Visakhuposatha Sutta



Anguttara Nikaya 8.43

Visakhuposatha Sutta: O Discurso à Visakha sobre o Uposatha

Tradução do Pali para o Inglês,

Bhikkhu Khantipalo

Tradução para o Português

Davi Coêlho

Assim ouvi: Em certa ocasião o Exaltado estava próximo de Savatthi no Mosteiro do Leste na mansão (doada pela) mãe de Migara. Então Visakha[1], a mãe de Migara, se aproximou do Exaltado; tendo se aproximado e se prostrado, ela então sentou-se em um local apropriado. Quando ela estava sentada o Exaltado se dirigiu assim à Visakha, a mãe de Migara:

“Visakha, quando o Uposatha é realizado com suas oito práticas componentes, [2] quando nele se entra, é de grande fruto, de grande vantagem, de grande esplendor, de grande alcance. E como, Visakha, o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, e quando nele se entra, é de grande fruto, grande vantagem, grande esplendor e grande alcance?

“Aqui, [3] Visakha, um nobre discípulo considera da seguinte maneira:

“Por toda a sua vida, os arahants vivem tendo abandonado a matança de seres vivos, abstém de toda matança de seres vivos, tendo abaixado sua vara, tendo abaixado suas armas, eles são conscientes, [4] empáticos, compassivos pelo bem de todos os seres vivos; assim eu vivo hoje, por esta noite e este dia, tendo abandonado a matança de seres vivos, abstendo da matança de seres vivos, eu sou alguém que abaixou a minha vara, abaixou minhas armas, sou consciente, empático, compassivo pelo bem de todos os seres vivos. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta primeira prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, os arahants vivem tendo abandonado pegar aquilo que não é dado, abstém de tomar o que não é dado, eles só tomam para si aquilo que lhes é dado, são aqueles que apenas esperam por aquilo que é dado, eles mesmos tornaram-se puros sem roubar; do mesmo modo hoje, eu vivo por esta noite e este dia, tendo abandonado pegar aquilo que não me é dado, abstendo de tomar aquilo que não é dado. Eu apenas tomo aquilo que me é dado, sou alguém que apenas espera por aquilo que é dado, por mim mesmo torno-me puro sem roubar. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta segunda prática.”

“[Uma pessoa considera:] ‘Por toda sua vida, arahants vivem tendo abandonado a conduta não casta, eles são de conduta casta, vivendo afastados, abstém do sexo que é o modo de vida da sociedade comum; portanto hoje vivo, por esta noite e dia, tendo abandonado conduta não casta, sou de conduta casta, vivendo indiferente, abstendo do sexo que é o modo da sociedade comum. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta terceira prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants vivem tendo abandonado linguagem falsa, abstém de linguagem falsa, pronunciam apenas a verdade, juntam-se à verdade, [5] são firmes-na-verdade, [6] estabelecidos-na-verdade, [7] não são de pronunciar mentiras ao mundo; portanto hoje vivo, por esta noite e dia, tendo abandonado linguagem falsa, abstendo de linguagem falsa, falante apenas da verdade, alguém que se junta à verdade, firme-na-verdade, estabelecido-na-verdade, não um falante de mentiras ao mundo. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta quarta prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants vivem tendo abandonado intoxicantes fermentados e destilados que são a ocasião para o descuidado e deles se abstém; portanto eu vivo, por esta noite e dia, tendo abandonado intoxicantes fermentados e destilados que são a ocasião para o descuido, abstendo deles. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta quinta prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda a sua vida, arahants são alguém que comem apenas uma vez, abstendo de comer fora da hora, renunciando à noite [8], portanto, hoje sou alguém que apenas come uma vez, abstendo de comer fora da hora, renunciando à noite. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei no Uposatha.”

“É realizado por esta sexta prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda sua vida, arahants abstém de dançar, cantar, de música, de ir ver entretenimentos, de usar trajes, adornando-se com perfumes e se embelezando com cosméticos; portanto hoje eu abstenho de dançar, cantar, de música, de ir ver entretenimentos, de usar ornamentos, de me adornar com perfumes e de me embelezar com cosméticos. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta sétima prática.”

“[Ele considera:] ‘Por toda sua vida, arahants tendo abandonado camas altas [9] e camas largas, [10] abstendo de camas altas e camas largas, fazem uso de um local baixo para dormir, uma cama [dura] ou um monte de palha; portanto hoje, tendo abandonado camas altas ou camas largas, abstendo de camas altas e camas largas, faço uso de um local baixo para dormir, uma cama [dura] ou um monte de palha. Através desta prática, seguindo a maneira dos arahants, entrarei o Uposatha.”

“É realizado por esta oitava prática.”
“Assim de fato, Visakha, é como entrando o Uposatha e realizando-o com suas oito práticas componentes, é de grande fruto, de grande vantagem, de grande esplendor, de grande alcance. Quão grande o fruto? Quão grande a vantagem? Quão grande o esplendor? Quando grande o alcance?”

“Assim como, Visakha, alguém possa ter poder, domínio e soberania [11] sobre todos os dezesseis grandes países abundantes nos sete tesouros [12] – isto é, Anga, Magadha, Kasi, Kosala, Vajji, Malla, Ceti, Vansa, Kure, Pancala, Maccha, Surasena, Assaka, Avanti, Gandhara e Kamboja, ainda sim não vale um décimo sexto deste Uposatha realizado com suas oito práticas. Por qual motivo? Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é cinquenta anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas dos Quatro Grandes Reis, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas dos Quatro Grandes Reis é quinhentos destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas dos Quatro Grandes Reis – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é cem anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas dos Trinta e Três, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas dos Trinta e Três é mil destes anos celestiais. [13] Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas dos Trinta e Três – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é duzentos anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas Yama, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas Yama é de dois mil destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas Yama – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é quatrocentos anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas de Tusita, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas de Tusita é de quatro mil destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas de Tusita – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é oitocentos anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas-que-se-deleitam-em-criação, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas-que-se-deleitam-em-criação é de oito mil destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas-que-se-deleitam-em-criação – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Aquilo que entre os homens é mil e seiscentos anos, Visakha, é um dia e uma noite dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros, o seu mês tem trinta destes dias, seus anos tem doze destes meses; a duração de vida dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros é de dezesseis mil destes anos celestiais. Agora, aqui certo homem ou mulher, tendo entrado o Uposatha realizado com suas oito práticas componentes, ao quebrar-se o corpo, após a morte, pode surgir entre a companhia dos devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros – tal coisa é de fato conhecida, Visakha. Foi em conexão a isto que eu disse: Miserável é a soberania sobre homens comparado com a felicidade celestial.

“Não tire a vida, nem pegue aquilo que não é dado, não fale mentira alguma, nem seja um alcoólatra, abstenha-se de sexo e conduta não casta, à noite não coma fora do horário, nem use guirlandas nem se adorne com perfumes, e faça sua cama sobre um tapete sobre o chão: isto é de fato chamado o Uposatha com oito fatores ensinado pelo Buda, que chegou ao fim do sofrimento. Os esplendores do sol e da lua, ambos belos de se verem, seguem um após o outro, dissipando a escuridão conforme eles passam pelos céus, iluminando o mesmo e clareando os quatro cantos e todos os tesouros neles encontrados: pérolas e cristais e turquesas preciosas, pepitas de ouro e o ouro chamado ‘minério’, ouro monetário com pó de ouro carregado – comparados com este Uposatha de oito fatores, apesar deles serem desfrutados, não velem um décimo sexto – assim como a lua resplandecente entre todos os grupos de estrelas. Portanto, de fato, uma mulher ou um homem que é virtuoso entram o Uposatha tendo oito partes e tendo feito méritos [14] que trazem felicidade, sem mancha de culpa eles obtém moradas celestiais.

(O upasaka Vasettha, quando ouviu este discurso, após o Buda ter acabado de pronunciar os versos acima, exclamou:)

“Senhor, se meus queridos parentes entrassem este Uposatha realizado com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade deles por muitos dias. Senhor, se todos os nobres guerreiros, brâmanes, comerciantes e trabalhadores, juntamente com seus governantes e a humanidade entrassem neste Uposatha realizado com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade deles por muitos dias.”

“De fato assim é, Vasettha. Se todos nobres guerreiros, brâmanes, comerciantes e trabalhadores entrassem neste Uposatha realizado com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidades deles por muitos dias. Se este mundo, com suas devas, maras e brahmas, esta geração com seus samanas e brâmanes, juntamente com seus governantes e humanidade entrassem neste Uposatha realizado com suas oito práticas, seria para o benefício e felicidade deles por muitos dias. Vasettha, até mesmo se estas grandes árvores entrassem este Uposatha com suas oito práticas, seria para seu benefício e felicidades por muitos dias, isto é, se elas fossem conscientes, o que dizer então da humanidade.”

Notas:

1.      Visakha: uma mulher muito generosa e discípula leiga que, por ouvir frequentemente o Dhamma, tornou-se uma Que Entrou a Correnteza e que era, talvez, já uma nobre discípula (ariya) quando este discurso foi proferido.
2.      Anga: literalmente, parte, componente; aqui significando práticas compondo o Uposatha.
3.      “Aqui”: significando, “no Buddha Sasana,” as instruções do Buda ou religião.
4.      Lajji: alguém que tem vergonha (hiri) de fazer o mal, e o medo de fazer o mal (ottappa), as duas qualidades que são chamadas de “os guardiões do mundo”.
5.      Saccasandha: “eles se juntam à verdade” (comentário.)
6.      Theta: literalmente, “firme, estabelecido”, isto é, na experiência da verdade suprema.
7.      Paccavika: verdade que foi vista por notar o seu surgimento condicional.
8.      Monges não comem após o meio dia até o amanhecer do dia seguinte.
9.      Camas altas significam camas luxuosas que são macias e bem arqueadas.
10.  Camas largas são aquelas em que duas pessoas podem dormir nela.
11.  Rajjam: literalmente, “realeza”, mas significando geralmente grande autoridade.
12.   Os sete tesouros: ouro, prata, pérola, cristal, turquesa, diamante, coral.
13.  Se calculado em anos humanos, as devas dos Quatro Grandes Reis vivem 9, 000, 000 anos; as dos Trinta e Três  36,000,000 anos; a dos Yama 144, 000, 000 anos; as de Tusita, 576, 000, 000 anos; as devas-que-se-deleitam-em-criação 2, 304, 000, 000 anos; as devas-que-exercem-poder-sobre-a-criação-dos-outros, 9, 216, 000, 000 anos. Um humano pode viver no máximo um dia na vida das devas dos Trinta e Três. Vale a pena ler a história no Comentário do Dhammapada chamada Aquela que honra o marido, que trás à vida esta escala comparativa.
14.  Mérito (puñña): kamma positivo que purifica e limpa a mente daquela que faz a ação, tais como as práticas dos três modos de ser fazer mérito: caridade, conduta moral (ou preceitos) e meditação.

O texto acima pode ser encontrado em sua íntegra em inglês no seguinte endereço: http://www.accesstoinsight.org/tipitaka/an/an08/an08.043.khan.html

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